Dielly Santos era uma adolescente de uma escola estadual de Icoaraci, distrito de Belém. Segundo amigos, era uma menina inteligente, legal e divertida. Mas na quarta-feira passada (16) ela cometeu suicídio. De acordo com relatos de amigos e familiares, nas redes sociais, a garota estava sofrendo bullying por parte dos colegas.

O que mais precisa ser feito para que o assunto seja levado a sério? Será que o problema está na educação (ou a falta dela) dentro de casa? Seria o resultado de um ciclo vicioso em que o agredido se torna o agressor? Esses questionamentos vêm acompanhados da única certeza de que, infelizmente, nada poderá reparar a dor das vítimas.

“O bullying é um fenômeno que causa trauma psiquiátrico. Às vezes a gente confunde bullying com intimidação, perseguição, mas não é só isso. Tem que haver a vitimização. E a vitimização provoca trauma e esse trauma se desdobra em várias formas de violência”, explicou o professor Hugo Monteiro Ferreira, durante audiência pública da CPI dos Maus Tratos, na Câmara dos Senadores na quinta-feira (17).

LEI E REPRESSÃO

Só para mostrar a importância de falar sobre o tema e, principalmente, suas consequências, na última segunda-feira (14) foi sancionada uma lei que exige que escolas tomem medidas de prevenção e repressão.

Criada em 2015, a lei desenvolveu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, que consiste em agressões repetidas a uma pessoa, seja verbal ou física. Com a mudança, as escolas, os clubes e as agremiações são obrigados a desenvolver medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying.

ESTATÍSTICA

Em 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou uma triste pesquisa que afirma que metade das crianças e jovens do mundo já sofreu algum tipo de bullying. 100 mil crianças e jovens de 18 países afirmaram que, entre os motivos, destaques para aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem.

Ainda no referido ano, o Brasil carregava a taxa de 43% desses casos, um dado vergonhoso que acompanhava outros países da região, como Argentina (47,8%), Chile (33,2%), Uruguai (36,7%) e Colômbia (43,5%). Países ditos 'desenvolvidos' também foram citados, a exemplo da Alemanha (35,7%), Noruega (40,4%) e Espanha (39,8%).

CONSEQUÊNCIAS

Os reflexos de praticar o bullying são observados em várias plataformas de notícias, dia e noite. Hoje (18) mesmo aconteceu um tiroteio dentro de uma escola de ensino médio que deixou dez morto em Santa Fe, região de Houston, no Texas (Estados Unidos). O autor da tragédia foi um adolescente de 17 anos, que afirmou em entrevista ser alvo de bullying na escola por alunos e professores.

Não é preciso ir muito longe. Em outubro do ano passado, um garoto, de 14 anos, que sofria bullying atirou e matou dois colegas de sala dentro de um colégio particular em Goiânia. As vítimas, também crianças, tinham 12 e 13 anos; na época, outras cinco ficaram feridas.

O bullying também surge de outra forma. Quando os deboches e as agressões não são direcionados aos 'supostos' autores da prática, pode levar à automutilação e até ao suicídio.

"Eu posso ser um sujeito violento, agredir o outro porque eu fui vítima também de agressão. E eu posso, na medida que eu não consigo agredir o outro, me agredir. Que é o que estamos observando que é o fenômeno da automutilação", explica Ferreira.

Cansada das agressões, dos deboches e das provocações, Dielly Santos decidiu dar fim à própria vida. A estudante fez uma despedida triste e silenciosa, deixando familiares e amigos abalados.

E como se não bastassem os tormentos em vida, nem mesmo diante o triste anúncio feito por entes queridos foi o suficiente para afastar a ignorância e a maldade. Após a notícia da morte da jovem, muitos comentários maldosos sobre o peso da adolescente foram feitos no perfil dela e de quem compartilhou sobre a morte.

Em uma publicação no Facebook, uma das familiares de Dielly repudiou os comentários que, inacreditavelmente, foram encorajadas por terceiros.

A publicação ganhou as redes sociais de uma forma muito triste. Ainda não há informações se os parentes da vítima vão procurar a justiça, mas o questionamento no início deste texto deve ser mantido: quantas mais vítimas de bullying precisam passar pelo extremo para que o assunto seja finalmente levado a sério?

(Fernanda Palheta/DOL)

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