Quem pede para fazer compras no cartão de crédito de alguém, empréstimos ou mesmo o nome para ser fiador de um imóvel ou no banco corre grandes riscos de receber um sonoro não como resposta. Por mais que a pessoa seja um familiar ou aquele amigo do peito – quase irmão –, a negação pode não ser concretizada. Mas, não fique chateado.

Especialistas explicam os motivos: a prática pode gerar desentendimentos, dívidas e, consequentemente, um abalo na relação. “Toda cautela nessa hora é necessária. Se a pessoa ceder seu nome, ela deve ter a consciência de que pode assumir a responsabilidade da dívida do outro e saber dos riscos que está correndo”, alerta o economista Edson Roffé.

Apesar de arriscada, a prática no Brasil é mais comum que se pensa. A cada dez brasileiros, quatro já pediram o nome de um conhecido emprestado. O levantamento é do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

NOME SUJO

A vendedora de hot dog, Brenda Tavares, 25, nunca pediu o cartão de alguém emprestado. No entanto, é precisa ao lembrar que a prática já trouxe grandes prejuízos. “Emprestei o único cartão que eu tinha. Uma amiga comprou R$ 500 de roupas e não pagou”, conta. Resultado: a amizade ficou estremecida e o nome da Brenda negativado no mercado. “Não consegui tirar mais nenhum cartão e ainda estou com a dívida”, lamenta.

CALOTE

A experiência da vida fez com que o professor aposentado, Luiz Fernando, 72, aprendesse a dizer não. “Emprestei o cartão e o nome várias vezes, e dessas, peguei três calotes”, relembra. Enquanto as amizades, estas acabaram. “A dívida maior que me deixaram como herança foi de R$ 1.200. A pessoa até já morreu. Nunca mais eu empresto para ninguém”, afirma. Para ele, o mais estressante do empréstimo, além do não pagamento, é a cobrança. “Ficar lembrando o vencimento, o valor, é chato. Não dá mais”, afirma.

AJUDA

Para fazer o empréstimo do cartão, o agente de portaria, Gilvandro Freitas, 51, faz uma avaliação antes, pois leva em consideração a tal lei do retorno. “Precisamos uns dos outros. Um dia pode ser a gente”, comenta. Ele cede seu cartão para os familiares próximos. “Peguei um calote no cartão de R$ 200. O rapaz trabalhava comigo, e saiu da empresa sem me pagar”, revela.

Segundo o estudo, a prática é utilizada principalmente pelos consumidores que passaram por situações de emergência e não contam com uma reserva financeira (27%) ou pelos que estão com os nomes restritos (22%). Outras razões ainda mencionadas são o crédito negado (16%) e as pessoas com limites estourados (13%).

CONSEQUÊNCIAS

O economista Edson Roffé avalia a prática como arriscada. Por isso, a decisão precisa ser questionada. “Por que ela está pedindo o crédito? A pessoa está com restrição? Já estourou o limite dela?”, adverte. O valor, a quantidade de parcelas e, sobretudo, as condições financeiras devem ser avaliadas. “A pessoa pode pagar? Tem salário fixo?”, reforça Roffé.

O especialista destaca que ser avalista de alguém, ou fiador de aluguel de imóveis, é delicado também. “Quem se propuser a isto, deve ter consciência que poderá assumir a dívida e fazer sacrifício pelo outro, já que não pode comprovar e cobrar na justiça”, destaca Roffé. Para não ficar no vermelho, o recomendável é comprometer apenas 30% do seu salário com as dívidas.

(Roberta Paraense/Diário do Pará)

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