O marítimo Vandelias Ferreira Gomes, 76, morador da Condor, em Belém, precisa passar todos os dias em meio às valas nas ruas do bairro, por conta da falta de saneamento. Em cada esquina é possível ver o esgoto a céu aberto, paisagem comum que se repete nos bairros da periferia da capital paraense. Pesquisa do Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados mostrou que a cidade tem apenas 12,8% de área saneada.

“Aqui falta tudo, não tem quem melhore. Moro na travessa Padre Eutíquio há 30 anos e sempre foi desse jeito. Os políticos só aparecem aqui em época de campanha, depois somem”, lamenta Vandelias. 

Lamento que tem justificativas. O levantamento do Instituto Trata Brasil colocou Belém entre as piores capitais em que a população não tem acesso ao saneamento. É a segunda pior do Brasil, dentro de um ranking de 100 cidades avaliadas, uma mostra do total descaso dos governos Jatene e Zenaldo com a capital do Estado.

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

Na avenida Bernardo Sayão, entre a Condor e o Guamá, o cenário é de calamidade pública: o antigo igarapé que atravessa os bairros há muitos anos deu lugar à uma vala cheia de lixo e entulho, que exala odor fétido, e é para onde escoam os encanamentos das palafitas, as casas de madeira construídas em cima da água. “Para nós não existe poder público, só isso que você está vendo”, disse o vendedor Paulo Sérgio, pesaroso e sem esperanças. 

E não é para menos. De acordo com o Trata Brasil, que utilizou dados do Ministério das Cidades em seu Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) - ano base 2016, para fazer seu relatório, Belém é lanterninha em três quesitos que compõem o saneamento básico: no atendimento em água tratada para a população, está entre as dez piores; no acesso de serviço de coleta de lixo, é a 95ª pior do Brasil; e, no indicador de tratamento de esgoto, está entre as dez piores do país. É o triste legado de anos de administração tucana tanto no governo do Estado quanto na prefeitura da cidade.

ÁGUA QUE SOBE

Na rua Fernando Guilhon com a avenida Generalíssimo Deodoro, no bairro da Cremação, o canal estava quase transbordando, com risco de invadir casas construídas muito próximas à contenção. Maria do Socorro Portela, 62, autônoma, relata que quando a cidade está no período de fortes chuvas, a água sobe bastante. “É horrível, já passei por aqui com a água transbordando, fica no meio da nossa perna. Comprei minha casa e fiz bem alta, já sabia que enchia nesta região. Isso aqui é o centro da cidade, poderia ser bem melhor. O prefeito fez reunião e disse que ia ajeitar. Ainda não apareceu ninguém e está cada vez pior”, comentou.

(Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

No Estado como um todo, a situação não é muito diferente. De acordo com o relatório do Trata Brasil, a rede de abastecimento de água no Pará serve a apenas 43,47% dos paraenses. A coleta e o tratamento de esgoto têm índices ainda piores, com apenas 9,03% e 7,34%, respectivamente.

Falta de água é outro tormento da população da Grande Belém

Outro problema que a população padece em Belém e na região metropolitana é a falta de água nas torneiras com as constantes interrupções no fornecimento, além da péssima qualidade. Em plena quadra nazarena, quando a cidade recebe muitos turistas, os bairro do Umarizal, Nazaré e Reduto, em Belém, ficaram sem água por mais 12 horas, no último dia 17. De acordo com a Cosanpa, a causa foi uma pane elétrica. O problema atingiu cerca de 155 mil pessoas.

Nos conjuntos em Ananindeua, como Cidade Nova e Maguari, também são constantes os problemas de falta de água. Já é comum a população ter que guardar baldes de água ou até mesmo comprar galões de 20 litros para poder fazer comida, lavar roupas e louças, tomar banho e usar o banheiro. A população raramente é informada das interrupções no fornecimento.

“SUCATEADA”

Para o presidente do Sindicato dos Urbanitários, Pedro Balois, o problema é a gestão ineficiente dos presidentes da empresa e do governo do Estado. “O grande problema é a falta de investimento. A Cosanpa está sucateada, não há manutenção dos equipamentos nem realização de concurso. E não só engenheiros, mas técnicos e administrativos também. O nosso entendimento é que há má fé, com a intenção de privatizar a Cosanpa”, diz.

(Diário do Pará)

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