O relógio marcava 2h40 da madrugada do último sábado (08). No carro parado em frente a um luxuoso prédio residencial, localizado no bairro de Nazaré, em Belém, é possível ver uma moça em pé, com a mochila nas costas, conversando com uma passageira. O condutor do veículo sai enfurecido e, sem cerimônias, puxa a jovem de dentro do carro e a joga no chão.
As agressões foram flagradas pelo circuito externo do prédio residencial onde o suspeito mora. As vítimas — que terão as identidades preservadas — procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), da Polícia Civil, para registrar um boletim de ocorrência.
Jovem é jogada de carro por homem em condomínio em Nazaré
Ao DOL, o advogado da vítima, Fillipe Silveira, informou que desde o episódio das agressões tem sido insustentável para a jovem retomar a rotina, seja a vida acadêmica ou social.
“Como toda vítima de violência, ela está muito abalada. Um abalo físico, decorrente das lesões, e o psicológico. Ela não foi à faculdade com medo de uma reiteração dessas agressões. Esse medo se justifica também porque, depois de ter sido agredida, recebeu várias ligações do rapaz. Ela não as atendeu, mas isso causou um temor ainda maior”, disse o advogado criminalista.
Desentendimento por causa de cigarro eletrônico
A vítima estava em uma festa na companhia de amigos quando o suspeito, um conhecido em comum, passou a interagir com o grupo. Segundo o advogado da jovem, o clima, antes agradável, pesou com a presença do homem — que seria nutricionista e empresário — no momento em que tomou para si o cigarro eletrônico da vítima. Insistente, alegou que o acessório pertencia a ele.
O advogado disse ainda que, do mal-estar ao conflito, houve uma breve discussão entre os dois. A vítima reforçava que o cigarro eletrônico era dela, mas o homem alegava o contrário. No final do evento, quando o grupo de amigos se preparava para seguir para outra festa, a vítima e uma amiga decidiram que era hora de voltar para casa.
Nesse momento, o suspeito, segundo o advogado da vítima, revelou que devolveria o acessório desde que elas aceitassem sua carona. Ele as deixaria em casa, o que não aconteceu. Mudou o trajeto e parou no prédio luxuoso onde mora. Em uma última tentativa, a jovem teria exigido o pequeno aparelho, mas sem sucesso. O que aconteceu em seguida foram os registros das câmeras de segurança e as cenas de violência.
MEDIDAS PROTETIVAS
Ao procurar a Deam, a vítima solicitou também medidas protetivas frente às insistentes ligações recebidas pelo agressor. O advogado da jovem destaca o acolhimento que a vítima recebeu na delegacia e pontua que aguarda uma decisão do juiz em relação ao pedido.
“É possível que tenhamos uma resposta em até 48h. Precisamos nos colocar no lugar dessas vítimas. Por conta da agressão, ela está com medo de sair de casa. Ela não consegue entender os motivos que a levaram a ser agredida e está com receio de uma forma geral”, destaca Fillipe Silveira.
Desde o momento em que o caso ganhou repercussão na imprensa e nas redes sociais, o advogado da jovem disse ainda desconhecer qualquer tentativa de contato do suspeito com a moça agredida, que tenta se recuperar.
Nutricionista se manifesta sobre o caso
O DOL entrou em contato com o advogado Alexandre Lisboa, que representa o nutricionista que aparece nas imagens retirando a moça de dentro do veículo. Ele confirma que o desentendimento entre os dois começou por causa de um cigarro eletrônico durante a festa na madrugada do último final de semana.
"Ele carregava um cigarro eletrônico, semelhante ao dela (da jovem), na festa. Ela entendeu que seria o dela. A discussão começou nesse momento até que os ânimos se acalmaram depois", explica Lisboa, que contextualiza também o fato do rapaz já estar na festa na companhia de alguns amigos quando a vítima e a amiga — que aparece com ela nas imagens usando uma mochila — surgem posteriormente no evento.
Em relação às cenas do carro, Lisboa afirma que o suspeito recebeu um pedido de um dos amigos em comum das jovens para deixá-las até o prédio residencial onde ele mora no bairro de Nazaré. "Esse amigo pediu que ele oferecesse uma carona para as meninas porque o namorado de uma delas moraria lá. Eles ficaram parados por longos minutos. A moça se recusava a sair, ela queria que ele [suspeito] levasse ela até a casa dela, mas ele se recusou", diz o advogado.
No dia seguinte, após as cenas repercutirem, o suspeito teria sido orientado novamente pelo amigo em comum da vítima para falar com ela e tentar esclarecer a situação. Segundo o advogado dele, esse seria o motivo das inúmeras ligações realizadas e que não foram atendidas pela jovem. "Ele tentou ligar, por orientação de um amigo em comum. Insistiu, mas não teve êxito", salientou.
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Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado por meio da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), de Belém, onde foi registrada a ocorrência no último sábado (08). A polícia disse também que analisa as imagens das câmeras de segurança e realiza diligências para ouvir testemunhas e o autor das agressões. Todas as medidas de acolhimento foram disponibilizadas às vítimas.
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