Foi protocolado na tarde desta quinta-feira (31), no Tribunal de Justiça do Estado, o inquérito que apurou a morte da estudante e dançarina de funk Fernanda Trindade do Nascimento, de 20 anos, desaparecida no dia 06 de dezembro do ano passado, quando fazia um passeio de jet ski pelo rio Pará na companhia do autônomo Lauro Sérgio Nogueira da Silva, 50.

Após uma pressão de movimentos sociais como o Movida e familiares da garota, o caso que já estava encerrado na Seccional Urbana de Icoaraci foi enviado, a pedido do Ministério Público do Estado, para a Divisão de Homicídios, ficando sob a responsabilidade do delegado Cláudio Galeno, que dentro do prazo ouviu testemunhas, atendeu aos pedidos do MP inclusive com a reconstituição simulada dos fatos e concluiu por indiciar por homicídio doloso o autônomo Lauro Sérgio Nogueira da Silva.

Na primeira fase do inquérito policial, o delegado Ocimar Nascimento, da Seccional Urbana de Icoaraci, após ouvir algumas testemunhas e o autônomo, decidiu indiciá-lo por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, resultado este que contrariou a família da dançarina, que nunca acreditou na versão apresentada por Lauro Sérgio Nogueira.

O DIÁRIO vem acompanhando desde o mês de dezembro este nebuloso caso que chamou a atenção da opinião pública. Investigando a relação da dançarina com o autônomo, verificamos que eles se conheceram dois meses antes do fato, quando passaram a manter contatos, até que Fernanda manifestou desejo de passear de jet ski.

Lauro Sérgio colocou o equipamento à disposição da dançarina, sendo que um dia antes eles mantiveram contato e acertaram um passeio para as 11h do dia 06 de dezembro de 2013. Como tinha uma consulta médica agendada, a dançarina se atrasou e passou a se comunicar através de mensagem de texto de celular, indo ao encontro de Lauro Sérgio por volta do meio-dia, na praça Amazonas, em frente ao Polo Joalheiro.

A dançarina chegou em companhia de um mototaxista, encontrando o autônomo que já a esperava em seu carro, seguindo para o antigo Iate Clube. Como o jet ski do autônomo apresentava problemas mecânicos, ele pediu emprestado outro equipamento de um amigo e ambos navegaram até a Ilha de Cotijuba.

Lauro disse no depoimento que Fernanda colocou o colete salva-vidas, tendo este perguntado se a mesma sabia nadar, recebendo como resposta que sim, e saíram do Iate Clube às 13h45, chegando meia hora depois à praia do Farol, em Cotijuba, onde pararam para almoçar em um restaurante.

Ele disse ao delegado Ocimar Nascimento que o jet que utilizava era para três pessoas, sendo que o mesmo possuía três coletes e mais um colete reserva e dois desses coletes ficaram guardados no compartimento da moto náutica, enquanto os outros dois estavam sendo usados por ele e Fernanda.

Os coletes foram retirados para eles almoçarem e Lauro Sergio disse que, quando saíram, o garçom não estava no local para testemunhar que os dois estavam de coletes salva-vidas e que saíram com a maré vazando, contra a maré e a favor do vento, e que nessas condições a maré fica mais violenta e com ondas maiores.

O “acidente” teria ocorrido no momento em que o jet ski estava descendo uma onda. Logo outra onda se formou à sua frente, tendo a moto náutica mergulhado na segunda onda. O condutor e a passageira foram arrancados da embarcação e o aparelho desligou, visto que a chave estava atrelada ao corpo de Lauro Sérgio.

Ele afirmou no depoimento ao delegado Ocimar Nascimento que neste momento teve “um branco”, não sabendo ao certo se desmaiou com o impacto e, quando tornou a consciência, já se encontrava na água, sem os óculos e sem o colete salva-vidas, avistando a moto náutica a cerca de 30 metros de distância, porém não viu nem ouviu mais a companheira de passeio.

Lauro Sérgio tentou nadar em direção ao jet ski, sem sucesso, uma vez que estava nadando contra a corrente e o vento empurrava o veículo para mais longe. Como avistava a terra, decidiu acompanhar a maré na tentativa de voltar para a Ilha de Cotijuba.

Uma hora e meia depois, o autônomo conseguiu chegar à praia da Saudade, na Ilha de Cotijuba, tendo muitas câimbras e vomitado antes de chegar à areia. Após isso, desmaiou e, quando voltou à consciência, percebeu duas mulheres no local e pediu para as mesmas lhe ajudarem e chamarem a polícia.

Ele foi levado para um posto da Polícia Militar na Ilha de Cotijuba e depois informado que um ribeirinho tinha localizado o jet ski. Ao chegar ao local, abriu o compartimento, retirando dois telefones e documentos e posteriormente encaminhado a Icoaraci, onde registrou às 22h o desaparecimento da dançarina.

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(Diário do Pará)

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