Em menos de 8 meses, a cidade de Belém já registrou quase a mesma quantidade de homicídios que todo o Canadá em 2015. De acordo com Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp), ocorreram 577 assassinatos na capital paraense entr eo primeiro dia do ano e 21 de agosto. No Canadá, foram 604 no ano inteiro, segundo o Statistics Canada.

O levantamento divulgado ontem (23) revela que no primeiro semestre desse ano houve uma média de mais de 2 homicídios por dia na Cidade das Mangueiras, sendo quase toda a totalidade empregando arma de fogo - 515 dos 577 casos. O dia de sábado é o que mais tem registros, mas em todos os dias da semana ocorrem muitos crimes do tipo na capital: são 102 no sábado e uma média de 75 a 85 nos demais dias. 

Os dados também evidenciam que grande parte dos casos ocorreram em via pública (475 homicídios) e no mais das vezes no intervalo das 18h às 21h (134 casos) e de 21h às 00h (120 casos). Na prática, não há hora nem dia que escape da série de assassinatos que já se tornou rotineira em Belém. Por exemplo, na noite de terça-feira (22), uma menina de 4 anos teve de assistir ao assassinato da mãe, Aurilene Valente Lemos, de 32 anos, que foi baleada por volta das 19h, por um assalto.

FALTA DE GOVERNO

Para o antropólogo Romero Ximenes, o principal problema de Belém é a pobreza e a falta de políticas públicas que visem à melhoria de vida da população. “É notório que a criminalidade aumenta de forma assustadora e, com a crise econômica, a tendência é piorar caso não haja investimento em políticas públicas”, analisa. De acordo com ele, 82% dos belenenses sobrevivem com menos de 2 salários mínimos e acaba não encontra oportunidades de emprego, educação e elevação da renda e fica imersa a uma rede de criminalidade.

Ximenes aponta que a maioria dos homicídios acontece por ligação com outros crimes, como tráfico de drogas e assalto, que é para onde parte da juventude das periferias acaba migrando por falta de opções na vida. “O crime começa contra propriedade e acaba se tornando contra a vida”, enfatiza.

Na avaliação do antropólogo, há deficiência na estrutura da polícia, como a má remuneração e o baixo contingente, mas, sobretudo, existe um problema mais profundo que precisa ser consertado a médio e longo prazo. “O governo precisa investir em programas de habitação, educação, saneamento e melhorar a qualificação profissional. Sem proporcionar um caminho de prosperidade econômica, dificilmente se melhora os índices de segurança na cidade”, afirma.

Segundo pesquisa do Observatório das Metrópoles do ano passado, Belém é a 3ª pior capital do Brasil, com índice de desenvolvimento humano de aproximadamente 0,65 (do máximo de 1). Enquanto isso, o Canadá, a tom de comparação, é o 2º melhor país do mundo em qualidade de vida, de acordo com o 2016 Social Progress Index.

(Alice Martins  Morais)

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