A derrota de aliados de Jair Bolsonaro (sem partido) nas principais prefeituras do país foi minimizada por auxiliares do presidente, que veem no resultado das urnas mais uma declaração de força dos partidos de centro do que uma reação da oposição de esquerda.
Segundo relatos feitos por auxiliares palacianos, o pleito municipal deve reforçar a relação de dependência do governo Bolsonaro com o centrão, grupo de legendas que registrou crescimento no número de prefeitos.
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Além disso, mesmo a derrota de Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro e a vitória de Bruno Covas (PSDB) –aliado do governador tucano João Doria– em São Paulo são relativizadas por interlocutores do presidente, que acreditam que os prefeitos das duas capitais não poderão se dar ao luxo de adotar uma postura de confronto com o governo federal.
"Todos estão eleitos para governar bem e para isso precisam do governo federal", afirma o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP).
Entre primeiro e segundo turno, Bolsonaro declarou abertamente apoio a 63 candidatos em todo o país, a maioria durante as suas "lives eleitorais gratuitas".
Foram 18 candidatos a prefeito, um a senador (Mato Grosso teve eleição suplementar, no primeiro turno) e 44 a vereador.
Apenas 11 candidatos a vereador e 5 a prefeito foram eleitos.
A avaliação entre assessores presidenciais é que os apoios declarados por Bolsonaro no primeiro turno acabaram jogando no colo do presidente derrotas desnecessárias.
Por isso, o presidente foi orientado a manter uma postura mais distante na segunda etapa, quando ele endossou publicamente apenas um seleto grupo de postulantes a prefeituras.
Nos últimos dias, Bolsonaro divulgou mensagens de apoio a Tião Bocalom (PP) em Rio Branco, a Roberto Naves (PP) em Anápolis e a Capitão Nelson (Avante) no município de São Gonçalo. Também fez uma discreta manifestação em defesa do nome de Delegado Eguchi (Patriota) em Belém.
Dessa lista, apenas Eguchi perdeu a disputa, para Edmilson Rodrigues (PSOL).
Neste domingo (29), Bolsonaro viu ainda seu escolhido no Rio, Marcelo Crivela, ser derrotado por ampla margem por Eduardo Paes (DEM).
Se a estreia de Bolsonaro como cabo eleitoral foi marcada pelo fracasso da maioria de seus apoiados, conselheiros do presidente argumentam que o balanço final não é negativo para o governo.
Isso porque as legendas que mais cresceram nas eleições, como PP e PSD, estão alinhadas ao Planalto no Congresso Nacional.
Além do mais, as derrotas de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, de Manuela d'Ávila (PCdoB) em Porto Alegre, de João Coser (PT) em Vitória e de Marília Arraes (PT) no Recife indicam que não houve avanço da esquerda em 2020 –ainda de acordo com interlocutores no Planalto.
O resultado prático do fortalecimento do centrão no pleito municipal deve ser mais ênfase em agendas econômicas no Congresso Nacional e menos espaço para pautas conservadoras de costumes.
Isso porque lideranças dessas legendas opinam que as chances eleitorais de Bolsonaro daqui a dois anos passam por uma reação da economia e pela aprovação de um programa social que substitua o auxílio emergencial.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro apostou suas fichas em Celso Russomanno (Republicanos), que sequer passou para o segundo turno.
Tanto Boulos quanto o prefeito reeleito Covas são nomes incômodos para o Planalto, mas aliados de Bolsonaro consideram que a relação com o tucano deve ser menos tensa do que com o governador João Doria. O padrinho político de Covas é visto como um potencial adversário nas eleições de 2022.
Eles lembram que Covas não acumulou embates com Bolsonaro nos dois anos em que esteve à frente da prefeitura e que ele precisará do apoio do governo federal, principalmente num cenário de crise econômica e de pandemia.
"O Covas vai ter que decidir se quer ser cabo eleitoral do Doria ou governar São Paulo", afirma Ricardo Barros.
Após votar neste domingo, Bolsonaro disse que não terá problemas em tratar com Paes ou com Covas.
"Sem problema nenhum. Assim como qualquer um que for eleito, aqui [no Rio] ou São Paulo", disse. Ele acrescentou ainda que o governo federal liberou recursos para estados e municípios combaterem os efeitos da pandemia.
O resultado das eleições municipais também levou Bolsonaro a estabelecer duas prioridades para os próximos meses.
Trata-se da eleição para presidente da Câmara no início de 2021 e a escolha sobre qual o melhor partido político para pavimentar o caminho da pretendida reeleição.
A intenção do presidente é conseguir eleger o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL), e com isso ter um aliado de primeira hora no cargo.
Bolsonaro já expressou a presidentes de partidos que quer o parlamentar no comando da casa legislativa. Na última semana, ele conversou com pessoas próximas sobre o tema.
Além do mais, Bolsonaro precisará decidir a que partido se filiará no ano que vem.
Ele próprio disse nesta semana que deverá tomar a decisão em março. Caso a Aliança pelo Brasil não vingue –algo considerado provável por bolsonaristas– ele deve se filiar a outro partido.
Segundo relatos feitos por aliados, o fracasso nas urnas de nomes associados a Bolsonaro fez o presidente se convencer de que não pode chegar próximo a 2022 sem a estrutura de uma legenda.
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