O pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, empresário e ex-governador de São Paulo, João Doria, começou por Belém na última sexta-feira, dia 29 de abril, o que ele chama de “caminhada da melhor via”, momento em que ele faz um corpo a corpo com outros pré-candidatos da sigla nos estados, apoiadores, empresários locais e outros atores do processo eleitoral. O início da agenda na capital paraense foi em uma missa na Basílica Santuário, onde ele relatou ter recebido agradecimentos emocionados pela iniciativa da compra das vacinas antes mesmo do governo federal, em janeiro de 2020. “Eu não esperava, pedi para começar o dia ali para rezar e pedir proteção, nunca imaginei ouvir agradecimentos”, relataria horas mais tarde, durante coletiva de imprensa.
Em todas as suas falas, promove um afastamento de Jair Bolsonaro (PL), atual mandatário da República, a quem apoiou publicamente no segundo turno das eleições de 2018, e com quem travaria uma batalha na defesa da imunização da população de seu Estado durante os piores momentos da pandemia da Covid-19, entre 2020 e 2021. Ao mesmo tempo, se refere ao ex-presidente Lula como um passado que o país não quer reviver.
Pré-candidato à presidência João Dória visita grupo RBA
“A melhor via que apresento é a democrática, a via que respeita o povo brasileiro, não é a via da demagogia, nem do populismo, e muito menos do partidarismo, é uma via de gestão. O Brasil precisa, a meu ver, de um bom gestor, de um cuidador, de um zelador, de um resolvedor de problemas. E não de um criador - é o que temos hoje”, justifica. Confira a entrevista completa:
Nas pesquisas de intenção de votos realizadas até agora, a dita “Terceira Via” ainda não vingou. O que pode mudar daqui para outubro?
Quem elege o mandatário é o eleitor, não são os políticos, nem são os economistas, nem os empresários, nem os jornalistas, são os eleitores. Hoje 44% dos eleitores no Brasil declaram que não querem Lula nem Bolsonaro, e esse é um percentual expressivo. Destes, 18% estão neste momento fazendo opção pelo menos ruim, ou seja, ou são apoiadores circunstanciais de Bolsonaro ou de Lula. Os de Bolsonaro porque não querem Lula, e os de Lula porque não querem Bolsonaro. Ou seja, há uma parte que gostaria de ter uma opção longe dos extremos. E há outros 22% que já não querem os extremos. Portanto há uma chance muito clara, a eleição está em aberto. Outro fato importante é que nós vamos ter as eleições mais curtas da história da República do Brasil, serão 45 dias, isso nunca aconteceu. E por quê? Fruto da pandemia, que comprimiu este processo. O eleitor brasileiro não está preocupado com a eleição neste momento. Está preocupado com o seu salário, com a comida no prato, com a vacina do braço de seus filhos, com o aumento da inflação, com a carestia, com o custo de vida que subiu muito. O processo eleitoral está em aberto, apesar da polarização hoje concentradamente entre Bolsonaro e Lula. Mas eu posso afirmar, fruto de análise de pesquisa, que teremos intensas mudanças a partir, principalmente, do início do horário eleitoral - menos até, pelo calendário eleitoral e mais pelo calendário psicológico das pessoas.
Como o senhor avalia o atual momento que vive o brasileiro, com aumento de combustível, gás, comida, dos custos de vida de um modo geral?
Este é o tema principal dessa campanha eleitoral, ainda que fique afunilado intensamente e mais profundamente a partir de agosto: o debate econômico. O que foi em 2018? O debate da cidadania e o debate do lavajatismo. Nessa eleição será integralmente o debate econômico, as condições para que as pessoas possam sobreviver, possam se alimentar, possam ter renda, possam ter um emprego. Esse será o tema predominante da campanha. E também há um outro aspecto interessante: a população vai buscar um candidato, ele ou ela, que seja resolvedor de problemas, e não provocador de problemas, porque a população está cansada de conflitos, de não ter dinheiro para se alimentar, para manter a sua casa, não ter condições de alimentar os seus filhos e ter dificuldade inclusive de pagar o aluguel. Hoje, a população tem dificuldade para comprar o botijão de gás de 13 quilos, para pagar a conta de luz, ou seja ela quer um resolvedor para o seu problema, ela não quer mais um confrontador. As Eleições de 2022 serão bem distintas das Eleições de 2018. Bem diferentes. Então essa propositura coloca a economia como centro do eixo desta campanha. E a expectativa da população será de quem pode resolver o problema e não quem pode aumentar. As mulheres terão grande influência nessa eleição, elas serão mais influentes do que foram em 2018. Porque há preocupação com a carestia, com o aumento do custo de vida, o aumento da cesta básica, com a dificuldade na alimentação dos filhos, em manter os seus filhos em uma escola ainda que pública, razoável, há dificuldade de muitos alunos de continuarem estudando em função do custo do transporte, pela necessidade de algum trabalho que gere renda, então a mulher será a grande protetora na decisão desta eleição. Serão as eleições em que as mulheres serão mais influentes, além de majoritárias - 54% do eleitorado é composto por mulheres -, elas vão exercer mais força do que fizeram em 2018.
Nos últimos quatro anos, seu partido perdeu significativa representatividade no Pará. O senhor começou a agenda pela Basílica de Nazaré para pedir orientação, conselho ou conforto antes de se reunir com o ninho tucano?
Fui pedir proteção, sou católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida. Já estive três vezes no Círio de Nazaré, passei uma hora na corda em uma dessas vezes, estive a convite da Fafá de Belém, que é muito amiga de minha esposa. Rezei pelo Brasil, mas fui também em busca da minha espiritualidade, pois quando se entra em campanha são tantos os ataques... O clima [do encontro com apoiadores e pré-candidatos do PSDB] foi muito bom, tinham mais de 400 pessoas. A liderança do deputado federal Nilson Pinto é muito evidente, porque para você ter essa movimentação, são necessários líderes. A Lena Pinto, o Manoel Pioneiro, demonstraram uma capacidade de liderança bastante expressiva. Um clima bastante positivo, sinceramente. Não que eu tenha me surpreendido, mas o número de pessoas me surpreendeu, em uma sexta-feira...
Então mesmo o PSDB indo para essa eleição sem uma candidatura ao Governo do Estado, como já está se desenhando, o senhor crê na força da sigla no pleito?
Sim, e o PSDB aqui já definiu a sua opção pela reeleição de Helder Barbalho (MDB), uma opção local, regional, e que se respeita, evidentemente. Eles sabem o que é adequado para o Estado e da boa gestão. Falo isso à vontade, pois sou amigo do governador antes de estar na política, e sinto que ele aqui faz uma boa gestão, correta, e o PSDB tomou a decisão de apoiá-lo em sua reeleição. Aqui há então uma candidatura majoritária ao Senado [Manoel Pioneiro é pré-candidato], há boas candidaturas para deputados estaduais e federais e uma nacional, composta por mim, e muito em breve saberemos quem vai compor essa chapa para a vice-presidência da República.
Como aproveitar as riquezas do Estado sem causar conflitos. Como o senhor vê essa questão?
Eu não acredito em soluções de gabinete, aquelas feitas distante de onde as pessoas vivem, na forma como elas entendem que suas dificuldades possam ser superadas. Aí você tem que ter a capacidade de dialogar com a sociedade civil, com os empresários, com a sociedade política e ter a compreensão e a dimensão das soluções. O que eu entendo é que o povo brasileiro não quer piedade, quer solução. É isso o que a população do Pará e da região Norte espera de um gestor. Programas econômicos que possam ampliar a geração de emprego, que possam ampliar a geração de renda, que possam respeitar o meio ambiente, a população ribeirinha, cabocla, os indígenas, a diversidade, as mulheres, os jovens, os negros, as pessoas com deficiências, e compreender a dimensão especificamente do Estado do Pará, que é um Estado que tem potencial de riqueza enorme, mas que não pode ser, sozinho, responsável pelo financiamento do seu crescimento. É obrigação do governo federal, que arrecada recursos de impostos aqui, devolver, com políticas públicas corretas e honestas também para o desenvolvimento do Estado. Tínhamos 15 milhões de brasileiros em situação de pobreza e extrema pobreza, hoje nós temos praticamente 30 milhões de brasileiros em situação de pobreza, extrema pobreza, é o maior índice de pobreza e vulnerabilidade da história do país. Quem pode desejar a continuidade disso em nome de uma ideologia, em nome de um radicalismo? Ou a volta daqueles que aplicaram a frase “os fins justificam os meios”? Então eu confio na eleição, que é o único processo que merece respeito, que a democracia, mesmo com seus desacertos e os seus acertos, é o único processo que nós todos temos que respeitar. E considerar também que o resultado da eleição terá que ser respeitado.
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