
Nem todos os vínculos resistem ao tempo - e à política. Antigos aliados muitas vezes se tornam críticos ferrenhos, sobretudo quando os rumos mudam e as palavras ditas publicamente ganham novo peso. Foi exatamente o que ocorreu após o depoimento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10).
A audiência, parte das investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, gerou reações fortes, inclusive entre ex-integrantes de seu próprio governo.
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que já foi um dos mais próximos e fiéis apoiadores do ex-presidente, foi às redes sociais para expressar sua indignação com o conteúdo do interrogatório.
"Nós, que acreditamos no Bolsonaro em algum momento, fomos otários! Eu fui muito otário!", escreveu Weintraub na plataforma X (antigo Twitter), ao compartilhar o trecho em que Bolsonaro, de maneira irônica, sugere o nome do ministro Alexandre de Moraes como possível vice em uma chapa presidencial em 2026.
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A fala de Bolsonaro, feita com tom de brincadeira durante a oitiva no STF, provocou risos entre os presentes. Ao se dirigir a Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando o ex-presidente foi declarado inelegível até 2030, Bolsonaro afirmou: "Se eu puder fazer uma brincadeira, eu convidaria o senhor para ser meu vice em 2026". Moraes respondeu prontamente, com bom humor: "Eu declino".
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No decorrer do depoimento, Bolsonaro também tentou se distanciar de manifestantes mais radicais que pediram intervenção militar após o resultado das eleições de 2022. "Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas... que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali", declarou o ex-presidente.
"RATO IMUNDO E COVARDE"
A reação de Weintraub às declarações não se limitou a um único post. Em outra publicação, ele disparou: "O bolsonarismo é uma lepra, rastejante, covarde, mentirosa e calhorda". Em seguida, publicou a imagem de um rato com a legenda: "esse rato é mais imundo e covarde do que eu imaginava".
Weintraub foi exonerado do Ministério da Educação em 2020, após uma gestão marcada por conflitos com reitores de universidades, estudantes, parlamentares e magistrados do STF, a quem chegou a chamar de "vagabundos" em uma reunião ministerial. Em 2024, tentou se lançar à Prefeitura de São Paulo, mas acabou expulso do PMB, partido que decidiu apoiar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL-SP).
NEGATIVA DE TENTATIVA DE GOLPE
Durante o depoimento ao STF, Bolsonaro admitiu ter participado de reuniões com militares, mas negou qualquer tentativa de golpe. Disse que sua retórica contra o sistema eleitoral vem desde 2012 e apresentou declarações antigas de figuras da esquerda, como o ministro Flávio Dino e o presidente do PDT, Carlos Lupi, para reforçar que as críticas às urnas eletrônicas não são exclusividade da direita.
Bolsonaro foi o quarto dos réus a prestar depoimento no segundo dia da fase de interrogatórios envolvendo o "núcleo crucial" da alegada conspiração golpista. A denúncia, apresentada pela Procuradoria-Geral da República e aceita pelo STF em março, aponta que ele teria papel central no plano para romper a ordem democrática.
Os investigados são acusados de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas combinadas podem chegar a 43 anos de prisão.
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