COVID-19 grave refere-se a uma forma severa da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, caracterizada por sintomas intensos e complicações significativas que podem exigir hospitalização, cuidados intensivos e, frequentemente, suporte respiratório
Dois anos após a alta hospitalar, a maioria dos pacientes que tiveram COVID-19 grave e necessitaram de intubação apresenta sequelas pulmonares de longo prazo. Até mesmo alguns que haviam se recuperado bem após a doença manifestaram piora no quadro 24 meses após a internação. Este é o resultado de um estudo conduzido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), onde 237 pacientes que desenvolveram a forma grave da infecção em 2020 estão sendo monitorados.
Entre os participantes, 219 (91%) apresentavam alguma alteração pulmonar após dois anos, sendo 139 (58%) casos de inflamação no órgão e 80 (33%) de fibrose, uma condição em que o tecido pulmonar se torna mais rígido, dificultando as trocas gasosas. Dos pacientes com lesões semelhantes à fibrose, cinco (2%) mostraram melhora em comparação com a avaliação feita um ano após a internação, mas 20 (25%) apresentaram piora.
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Publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, o estudo é parte de uma pesquisa apoiada pela FAPESP e pelo Instituto Todos pela Saúde, que acompanha mais de 700 pacientes por pelo menos quatro anos após a internação por COVID-19. O objetivo é investigar os impactos do SARS-CoV-2 em diferentes aspectos, desde questões genéticas até efeitos físicos, psicológicos e cognitivos, formando uma das principais coortes sobre o tema no mundo.
"Em relação às questões pulmonares, dois anos após a alta hospitalar, há um perfil de pacientes – que precisou de UTI, ventilação mecânica, intubação e é idoso – com sinais de evolução para uma sequela pulmonar. Precisamos acompanhar para saber se ela será definitiva. Outro dado interessante é que 20 participantes que tinham melhorado no primeiro ano voltaram a piorar na avaliação feita após dois anos”, explica um dos pesquisadores.
A questão da fibrose é tão preocupante que, na avaliação de três anos pós-COVID (já realizada e ainda em análise), os pesquisadores planejam realizar biópsias por broncoscopia para investigar mais a fundo as alterações na capacidade pulmonar observadas por tomografia. "Precisamos descobrir se se trata de uma cicatriz ou de uma fibrose em instalação. A biópsia é importante para avaliar a necessidade de intervenções com medicamentos, como corticoides ou antifibróticos, para tentar bloquear a evolução do processo fibrótico", diz.
Carvalho explica que mais de 200 fatores podem levar à formação de cicatrizes e fibrose pulmonares. As causas mais conhecidas incluem a inalação de poeira de carvão, silicatos ou amianto, além de doenças autoimunes como esclerodermia, lúpus e artrite reumatoide. "Isso também foi observado em outras pneumonias virais, mas, no caso do novo coronavírus, a frequência parece ser maior. É um problema que precisa ser monitorado, pois, quando a fibrose está em estágio avançado, há apenas dois tratamentos muito complexos e dispendiosos: uso de medicamentos de alto custo ou transplante de pulmão. Trata-se de uma sequela com grande impacto para o indivíduo e alto custo, o que preocupa em relação à sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS)", afirma.
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O estudo também identificou outro perfil de sequela pulmonar pós-COVID: pacientes que não precisaram de UTI, mas receberam oxigênio, estão evoluindo para uma doença de pequenas vias aéreas, semelhante a uma bronquiolite. "Diferentemente daqueles que foram intubados e estão apresentando fibrose, os que precisaram apenas de oxigênio durante a internação estão evoluindo para uma doença nos brônquios, que ainda estamos estudando", diz.
O trabalho visa auxiliar na criação de novos protocolos de tratamento para pacientes com sequelas pulmonares pós-COVID ou COVID longa. Carvalho ressalta que as principais queixas são fadiga e fraqueza. "Observamos que esses sintomas podem estar relacionados a três aspectos diferentes: doença pulmonar, doença cardíaca ou problemas musculares, como a sarcopenia. É necessário levar isso em conta, pois o tratamento será diferente para cada caso. Mas é importante saber que existe tratamento e que nosso projeto de pesquisa visa aumentar a compreensão sobre as sequelas da COVID-19 e como tratá-las. Estamos trabalhando nisso", conclui.
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