<p style=\"text-align: justify;\"><span>Um lamento pela cultura do Pará e a incerteza sobre o rumo que as ações culturais no estado devem ter em 2015. Após o anúncio, na última semana, da extinção de importantes instituições culturais do estado, a sensação de incerteza invadiu a mente e a indignação pairou nas vozes de artistas paraenses, gestores culturais, acadêmicos e toda uma sociedade engajada com as instituições, e que temem que o importante trabalho de pesquisa, incentivo e disseminação cultural feito por órgãos de cultura que foram extintos no Governo Jatene, morra ou perca a sua força.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>Após a aprovação a toque de caixa pela Assembleia Legislativa do projeto de reforma administrativa, proposta pelo governo sem discussão prévia com a sociedade, foi decretado o fim de três instituições importantes para a cultura do estado do Pará: Fundação Curro Velho, Instituto de Artes do Pará e Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Segundo o projeto, elas terão suas funções incorporadas em uma nova Fundação Estadual de Cultura, como se órgãos com missões tão distintas (e criados separadamente exatamente por isso) pudessem fundir focos tão divergentes, mesmo que o objetivo comum seja beneficiar a cultura paraense. Trataram a cultura como uma massa amorfa indistinta, sem respeitar suas especificidades e necessidades por segmento. Diante disso, artistas imediatamente se mobilizaram e buscaram alternativas para cobrar do governo uma verdadeira política cultural para o Pará.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>“Uma reforma política feita no apagar das luzes é no mínimo estranho. O IAP e o Curro Velho deveriam ser aperfeiçoados e não extintos ou fundidos. Certamente torná-los um departamento dentro de uma suposta fundação é ridículo. Ademais, deveria haver uma consulta pública com os artistas, mas nós não fomos, e parece que nunca seremos, escutados. Essa extinção provoca um estrangulamento na produção, pesquisa e circulação artística. Vale ressaltar que o governo sequer anunciou o investimento na cultura”, argumenta o ator e cineasta Adriano Barroso.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>O professor de economia brasileira da Universidade Federal do Pará - UFPA, Valcir Santos, que participa do Fórum Municipal de Cultura e se considera um ativista cultural, ponderou que o projeto foi votado às pressas e que nem mesmo os próprios deputados entenderam o alcance desta mudança. Ele se preocupa se as funções dos órgãos extintos serão realmente incorporadas pela nova fundação.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>“Li o projeto, mas não está claro se esse novo órgão vai cumprir as funções diferentes que o IAP e o Curro Velho exercem. O IAP sempre teve um foco sobre pesquisas com linguagens artísticas diferentes, além de disponibilizar bolsas para estudos em várias áreas, como um instituto deve ser. Mas percebemos que o estado não vem priorizando investimentos em pesquisa já que, na mesma reforma, extingue outro importante instituto de pesquisa, que é o Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará). Em uma região como a nossa, tão carente em estudos, e com uma diversidade tão grande, vejo isso como algo ruim”, lamenta o pesquisador, que coordena na UFPA um projeto de economia criativa com estudos de análises da dimensão cultural do Ver-o-Peso.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>Para ele, o ideal seria que governo tivesse discutido em audiências públicas as decisões para ver com a sociedade se o novo órgão conseguiria abarcar funções tão diferentes e tão importantes para a comunidade. “O Curro Velho é um órgão com uma importância social, já que ele está localizado em uma área de vulnerabilidade, que é a Vila da Barca, com a disponibilidade de cursos que alcançam crianças e adolescentes. Além disso, em gestões anteriores, os cursos atingiram inclusive o interior do estado. Sabemos que, tradicionalmente, a Fundação Cultural Tancredo Neves não trabalha com esses perfis e nós realmente não sabemos como a nova fundação tratará isso. Seria lamentável perder todas essas pesquisas e oficinas que hoje atendem a um público importante”, completa o professor.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>O historiador e fotógrafo Michel Pinho acredita que é preciso lutar pela garantia do direito a espaços que já foram conquistados. “Essa decisão traz uma perda de autonomia que esses dois institutos tinham, inclusive com a liberdade de celebrar convênios e desenvolver atividades. A sociedade civil deve exigir do governo a continuidade das ações como as bolsas, os programas de intercâmbio e ainda exigir a valorização dos artistas do interior, exigindo também uma agenda mínima cultural. O IAP é fundamental para o desenvolvimento da arte contemporânea na capital”, afirma o artista.</span><br /><br /><span>RECLAMAÇÕES</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>As redes sociais foram campo fértil para desabafos indignados de diversos artistas, pesquisadores e pessoas ligadas ao meio cultural. A cantora Aíla, por exemplo, se declarou a favor de reformas políticas para solucionar problemas históricos de vícios e corrupções, mas discordou da proposta cultural do novo governo. “A reforma administrativa proposta pelo atual governador do Pará, especialmente para o setor cultural, é totalmente rasa e inexpressiva. Como se pode reformar um setor sem trocar a peça fundamental dele, o secretário de Cultura, que não escuta a própria classe artística do estado, seja teatro, dança, música, artes visuais ou fotografia? Não se pode propor reformas no setor cultural, sem diálogo com a classe artística”, lamentou. </span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>A professora universitária Bel Fares disse que o fim dos equipamentos culturais já vinha acontecendo e só se concretiza ainda mais com a aprovação do projeto de lei. “Extinguir dois órgãos, um de formação e outro de aperfeiçoamento no campo da arte, é compreender a arte e o artista como nada, um sem valor. Fico com vontade de gritar por, mais uma vez, entender a nossa fragilidade diante da máquina política”, disse ela, desolada, em seu perfil no Facebook. </span><br /><span>Mobilização artística contra reforma</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>O professor e ativista cultural Valcir Santos fez uma grande postagem em seu perfil na rede social convidando os artistas a se mobilizarem diante da decisão. “Estamos tentando reunir artistas e mobilizar os segmentos culturais e artísticos, principalmente porque o estado não dialoga com segmentos culturais. A ideia é fazer interpelações através do Ministério Público, em sua promotoria de Patrimônio Cultural e para Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, através da sua comissão de cultura, para tentar reverter essa situação”, afirmou.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>Uma petição foi criada no site Avaaz.org, pedindo que o governador mantenha os institutos baseado na alegação, segundo próprio texto da petição, de que os espaços representam avanços significativos no estabelecimento de políticas públicas na área da cultura no estado do Pará. A petição diz ainda que a fusão dos órgãos representará a perda da autonomia de gestão e, certamente, será um passo decisivo para a sua completa extinção futura. O texto diz ainda que a cultura do estado Pará projetou-se no cenário nacional graças à atuação independente do IAP, da FCV e da FCTN. Até o fechamento desta reportagem, 1006 pessoas haviam assinado a petição online e vários artistas haviam compartilhado a mesma em seus perfis.</span></p>
<p style=\"text-align: justify;\"><a href=\"http://diarioonline.com.br/notired-313292-18-.html\">Deputados lamentam reforma empurrada goela abaixo</a>. </p>
<p style=\"text-align: justify;\"><span>(Diário do Pará)</span></p>
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