O financiamento coletivo ou “crowdfunding” – que passou a ser adotado por diversos profissionais que atuam de forma independente ou com poucos recursos – é um dos temas a ser debatidos nos próximos dias por quadrinhistas de todo o país. Isto porque se aproxima o Dia do Quadrinho Nacional e o tema é um dos mais atuais no segmento.

“Queremos fazer nossos próprios personagens e construir histórias originais. E este é um caminho que encontramos”, diz Otoniel Oliveira, desenhista e palestrante da Semana do Quadrinho Nacional – evento que abre hoje e segue até o dia 30 na Gibiteca da Biblioteca Pública Arthur Viana.

Atualmente, os artistas que utilizam o financiamento coletivo para confecção de suas obras encontram em seu próprio público um meio de produção. Os leitores são acionados, antecipadamente, para que colaborem com uma quantia em dinheiro.

Os interessados em ver o resultado final concretizado entram em ação. O intermédio dessa transição é realizado por sites específicos – como o Catarse, usado por Otoniel.

Produtores e apanhadores, como são chamados os contribuintes, fazem um depósito na conta do site e esse repassa o valor depois de atingida a meta pré-estabelecida. Há seis anos, essa tática de arrecadação de fundos vem sendo difundida no universo cibernético.

“Você pode fazer uma coleta para o que você quiser: um filme, uma viagem, até para a reforma da sua casa”, conta Otoniel. “A questão é você despertar interesse, ter pessoas que o apoiem e contribuam com quantias em dinheiro”, explica. 

Durante a programação da Semana do Quadrinho Nacional, Otoniel se junta a Dorival Moraes e Volney Gonçalves para falar mais sobre o tema. Como exemplo de projeto bem sucedido, o público presente vai saber mais sobre o “Pretérito Mais que Perfeito” - primeira HQ feita em Belém através de financiamento coletivo.

Nela, “um personagem silencioso, um banco da Praça da República, é o coadjuvante na vida de diversas pessoas, em diversos momentos e situações diferentes, atravessando as décadas e mantendo-se lá enquanto tudo ao seu redor muda”, descrevem seus criadores no site.

O projeto foi escrito por Otoniel em parceria com o roteirista e historiador Petrônio Medeiros. Petrônio desenvolveu a pesquisa dos eventos históricos relacionados a Belém e levantou os dados importantes e curiosos que aconteceram em cada década passada para que a trama pudesse mostrar que “um lugar, mesmo que parado, se move através do tempo”, descreve.

Volney Gonçalves, autor de “Encantarias, A Lenda da Noite”, entre outras HQs, diz que vale a pena buscar o financiamento coletivo como forma de sobreviver à falta de projetos e editais de incentivo à produção de quadrinhos nacionais. “Temos muitos bons desenhistas, caras como o Joe Bennett, que fez belos trabalhos internacionais, e como Carlos Paul e o Otoniel, com quem fiz a HQ ‘Belém Imaginária’. O Otoniel participou do álbum de 50 anos do Mauricio de Souza. E ainda assim, são poucas pessoas que conhecem nosso trabalho aqui. Ainda precisamos batalhar por patrocínio”, declara.

Made In Pará

É nesse mercado de profissionais gabaritados no exterior, mas desconhecidos do grande público do Pará, que surgem outros debates e atividades que irão nortear a programação da Semana do Quadrinho Nacional. A primeira atividade será às 15h, com o produtor Alexandre Nascimento.

Ele ministra uma oficina de quadrinhos na sala da Gibiteca. As inscrições são gratuitas e permitidas para crianças a partir dos 12 anos.No hall da biblioteca, no 2º andar do Centur, estará aberta a exposição “Quadrinhos Made In Pará”, apresentando uma breve história dos quadrinhos paraenses. Nela estarão desenhos de artistas como Joe Bennett, Jack Jadson, Rafael Lanhelas e Carlos Paul.

A visita à exposição permanece até dia 13 de fevereiro, com acesso livre.Os quadrinhistas Joe Bennett, Jack Jadson, Rafael Lanhelas e Carlos Paul também participam, no dia 30, de um bate-papo sobre “Desenhistas brasileiros no quadrinho americano”.

Nascido em Belém, Joe está entre os mais reconhecidos de nossa história. Ele estreou profissionalmente em 1985 e a partir de 1992 começou a trabalhar para o mercado internacional, quando adotou o pseudônimo com o qual ficou famoso.

É criador de personagens como o Aranha Negra III e é um dos mais aguardados no evento.“Ainda teremos uma exposição de painéis com um breve histórico do quadrinho paraense, além da exibição de vídeos do Laboratório de Animação (do Núcleo de Oficinas Curro Velho) e documentários sobre quadrinhos”, acrescenta um dos organizadores, Andrei Miralha.

No dia 28, o bate-papo é com Roberta Spindler, Fábio Nahon e André Ciderfão, sobre “Quadrinho e Literatura Fantástica”, no hall da biblioteca.“O que está acontecendo no Centur é uma coisa bacana, um momento para que o público conheça os grandes talentos que temos aqui e incentive novos quadrinhistas”, considera Volney Gonçalves, enquanto desenha. “É assim mesmo, só tenho dois neurônios, um para desenhar e outro para falar”, brinca.

Programação da Semana do Quadrinho Nacional 

Encontro com quadrinistas, sempre às 18h:28/01 – Quadrinho e Literatura Fantástica, com Roberta Spindler, Fábio Nahon e André Ciderfão

29/01 – Quadrinho Nacional e Financiamento Coletivo, com Otoniel Oliveira, Dorival Moraes e Volney Gonçalves

30/01- Desenhistas brasileiros no quadrinho americano, com Joe Bennett, Jack Jadson, Rafael Lanhelas e Carlos Paul

Exposição “Made In Pará”Oficina de QuadrinhosInstrutor: Alexandre NascimentoHorário: 15 às 17 h

Local: Gibiteca – 2º andar do Centur (Av. Gentil Bittencourt)

(Diário do Pará)

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