Ney Paiva lança novo livro de poesias

O poeta Ney Ferraz Paiva lança amanhã, pela Editora Patuá, seu livro de poemas “Arrastar um Landau Debaixo D’água”. A noite de autógrafos começa às 19h, na sede do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Belém.

Escrito entre 2012 e 2014, o núcleo do livro é o tempo: “o tempo da fadiga, o tempo da monotonia que atravessa a todos com intensidade e nos arruína”, dispara o autor, que tem neste seu terceiro livro de poesia. As primeiras foram “Não Era Suicídio Sobre a Relva” (2000) e “Nave do Nada” (2004).

Para o escritor, um ponto em que o lançamento se diferencia de seus trabalhos anteriores é que estes últimos não foram levados ao público por uma editora comercial, mas pelo Conselho de Cultura Cidade do Recife, responsável por lançar e distribuir ambos em Pernambuco, como resultado de um prêmio. “Mas isto quase nada pode fazer por um autor independente que atua no mais extremo anonimato. Sobretudo porque a escrita exige isto – e também estabelece as vantagens de ter os passos ignorados”, comenta o escritor.

Sobre como a poesia entrou em sua vida, ainda aos 12 anos, Ney Ferraz é ainda mais poético: “Um amigo da família, um adulto, deixou escapar, numa pergunta, essa condição, que mesmo para mim era secreta: ‘Mas você não é poeta?’. Ele quebrou o silêncio que deve cercar ou fazer desencontrar o poeta de uma identidade, digamos assim, ‘poética’. Não o silêncio, de repente. Não o silêncio, predominantemente. O silêncio lá embaixo, abissal”, diz ele.

Entre os poetas, estes já bem encontrados dentro de suas identidades poéticas, seus paraenses favoritos são Max Martins, Mário Faustino e Paulo Plínio Abreu. De suas leituras atuais, destaca a poesia de Cauby Cruz, autor de um único livro de poesia, “Os Elementos do Verbo” (1952), sobre quem Ney escreveu o ensaio “Para um Retrato de Cauby Cruz – Verbo, Aparelho de Fotografia”, em que discute os efeitos da obra de Cauby na poesia feita em Belém a partir dos anos 1950. Sua lista de leituras recentes não para por aí. “Os modernos, sobretudo Manuel Bandeira. E, claro, Henry Michaux e muita arte e filosofia contemporâneas”.

Como alguém que publica regularmente na revista literária Polichinello, o escritor opina sobre uma possível ameaça aos livros impressos diante dos meios digitais, sem meias palavras. “Não penso que os meios impressos estejam mais ameaçados pelos meios eletrônicos do que pela mediocridade! A Polichinello, em meio a isso, é um extraordinário nicho de possibilidades artísticas!”.

Ney Ferraz destaca ainda que lançamentos recentes de livros de poesia, bem editados e distribuídos, como o seu, deveriam indicar que a cena literária paraense vai bem, mas na verdade não está. “As razões partem desde o projeto pessoal de escrita. Naquilo que mais reivindica, ela falha. É uma poesia quase sempre amesquinhada por um fazer tomado por temas esgotadíssimos, que partem sempre da visada local. O que prova que partir do local não é, nem nunca foi, uma fórmula para se realizar um bom poema”.

Para ele, a melhor aposta será sempre a autonomia do poema e a violação das regras. “Tem também o problema, que não é nenhum impedimento, da ausência de crítica especializada e isenta. Claro está que reivindico a poesia como jogo engenhoso de espírito, nada menos que isto. E jogo aberto, absolutamente plural. Há muito chapéu panamá circulando pela cidade, o chistoso atributo artístico dos dias atuais, mas bem pouca poesia!”, diz ele.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)