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Pesquisa do IBGE reflete falta de apoio à cultura

Esta semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lançou o resultado sobre sua mais recente pesquisa dos hábitos de consumo cultural do brasileiro, o suplemento sobre cultura no “Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros 2014”. Algum

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Esta semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lançou o resultado sobre sua mais recente pesquisa dos hábitos de consumo cultural do brasileiro, o suplemento sobre cultura no “Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros 2014”. Algumas contradições ficaram logo evidentes, como o fato de a TV aberta, presente em 99,9% dos municípios, ainda ser a principal forma de acesso do brasileiro a conteúdo. No entanto, apenas 12% dos municípios geram imagens, ou seja, o que o município vê não é necessariamente o que produz e o representa. Em compensação, em todas as partes do país, aumentaram o acesso e a participação da população na internet.

A presença dos provedores deste serviço saltou de 45,6% para 65,5%, o que permitiu, por exemplo, a existência de lan-houses em 82,4% dos municípios, em 2014. Para os artistas, ela se tornou assim a alternativa a essa TV tão presente, mas ainda tão pouco regionalizada. “Em tempos de crise econômica e política, a arte e a cultura são atingidas em cheio, pois são áreas tratadas como custo e não como investimento”, analisa o artista visual e curador Ramiro Quaresma, que na internet uma forma mais acessível de divulgar trabalhos artísticos.

Ele conta que nos últimos anos trabalhou com uma centena de artistas de todo o Brasil e percebeu que a busca por alternativas financeiras e por novas plataformas para a arte é geral, pois diminuíram os editais e, em Belém, por exemplo, existem pouquíssimas galerias para comercializar arte.

“A web, neste sentido, mantém a criação artística viva e pulsante, com a interação e o compartilhamento. É um espaço de troca real de experiências, é onde busco artistas e pesquiso com mais frequência que em galerias”, diz ele.

Tecnologia afastou expectadores dos cinemas

Outro dado revelado na pesquisa é a redução da presença de videolocadoras de 82% para 53,7% dos municípios, e das lojas de discos, CDs, fitas e DVDs, cuja presença caiu de 59,8% para 40,4% das cidades. Ao mesmo tempo, entre 2006 e 2014, cresceu muito o número de municípios com cineclubes (223,8%), circos (134,5%) e orquestras (92,2%).
Mas, para o cineclubista e membro da Associação de Jovens Críticos de Cinema (AJCC) Tiago Freitas, isso não retrata a realidade de forma correta.“Eu discordo. Cada vez os cineclubes estão mais vazios. Surgiram alguns novos cineclubes, mas não acredito que o público está mais interessado. Acredito na verdade que a média caiu bastante de 2013 pra cá. Só em alguns eventos, como mostras de melhores do ano, é que há uma participação maior”, afirma.

E para ele, a razão também está associada ao crescimento do acesso à internet e ao surgimento de novas tecnologias e meios de acesso ao conteúdo. Downloads da internet, TV a cabo, e serviços de streaming. Ele acredita que o foco da atenção pela produção audiovisual também mudou: “As pessoas estão mais interessadas em seriados do que propriamente filmes”, cita.

Além disso, não descarta o desânimo das pessoas em sair de casa e participar de cineclubes por causa da violência. Por isso, acredita que esse crescimento de grupos se dá muito mais pelo viés acadêmico. “São tentativas de ações educativas vinculadas a determinadas instituições. Muitas são bolsas de extensão. Na própria UFPA, há alguns [cineclubes] que são de bolsistas. Algumas dessas iniciativas utilizam o cinema unicamente como recurso pedagógico, o que limita o real potencial da sétima arte. O número de cineclubes ter aumentado não necessariamente significa que o público está mais interessado em cinema”, considera.

SEM GALERIAS

E, se os cineclubes vão crescendo, outras linguagens realmente perderam adeptos. A pesquisa do IBGE destaca que a presença de grupos ligados às artes plásticas e visuais caiu 11,7% nos municípios brasileiros. Ramiro Quaresma também vê, nesse caso, um processo parecido ao dos cineclubes: “Acredito que os coletivos perderam força e migraram para a academia, onde os processos artísticos encontram espaço de criação e algum incentivo financeiro, principalmente para artistas em início de carreira. Aqui, os cursos de artes visuais, cênicas e audiovisuais da UFPA são os principais centros de pensamento e fruição da arte contemporânea. Basta observar os projetos contemplados nos poucos editais existentes e ver que a maioria surge ou se fundamenta a partir da formação acadêmica”, considera o artista visual.

Fazer cinema no Pará é quase missão impossível

Nesse caminho das contradições está o fato de que, no ano passado, 24 das 27 unidades da Federação e 6% dos 5.570 municípios brasileiros apoiaram a produção de 1.849 filmes, com destaque para Rio Grande do Sul, com 60 filmes, Pernambuco, com 54, e São Paulo, com 42 filmes. Realidade que parece distante para quem tenta viver de cinema em Belém, como é o caso do paraense Mateus Moura.

“Na minha experiência pessoal, só recebi desestímulo estatal, em se tratando de investimento em cinema. Tudo que fiz até hoje foi contra a corrente de qualquer apoio financeiro. Quem me ajudou sempre foram os amigos, irmandades”, afirma ele, que teve vários projetos que levaram anos para sair do papel. “Inclusive estou em um projeto agora que está demorando muito mais do que eu previa, porque não tenho computador, aí preciso esperar a disponibilidade de um parceiro pra gente editar do PC dele. O mesmo acontece com quem está fazendo a trilha”, diz ele.

Para ele, a realidade que vive não é diferente daquela de vários artistas marginais na história do cinema no Brasil. “Trabalhamos em projetos em que não acreditamos, para ter como pagar as contas. Nas horas vagas e com o nosso sacrifício pessoal, tocamos nossos projetos como podemos. Essa é a minha realidade.”
O IBGE indica ainda que poucos filmes nacionais conseguem realmente ter espaço no circuito de cinema comercial, e leis que tentam resguardar esse espaço parecem não ter muito efeito. “Distribuição já é outro gargalo, bem mais complexo”, resume Mateus.

(Laís Azevedo/Diário do Pará)

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