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Mestre Laurentino completa 90 anos com homenagens

Quem vai querer discutir quando Mestre Laurentino afirma que é o roqueiro mais antigo do mundo? Nascido em 1º de janeiro de 1926, o músico tocador de harmônica de boca completou no primeiro dia de 2016 seu 90° aniversário, garantindo o posto de lenda viva

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Quem vai querer discutir quando Mestre Laurentino afirma que é o roqueiro mais antigo do mundo? Nascido em 1º de janeiro de 1926, o músico tocador de harmônica de boca completou no primeiro dia de 2016 seu 90° aniversário, garantindo o posto de lenda viva da música paraense.

Laurentino viveu seus primeiros sete anos em Ponta de Pedras, no Marajó. Neto de escravos, foi adotado por uma família belenense e se mudou para a capital, indo morar no bairro do Reduto, próximo à alta sociedade paraense da época. Autodidata, ele ganhou uma gaita ainda adolescente, quando sua história com a música iniciou.

Hoje são mais de 60 anos de trabalho. Porém, seu reconhecimento surgiu tardiamente. Depois de participar de vários programas de calouros em rádios e televisões locais, o artista gravou, na década de 1980, dentre outras canções, a clássica “Lourinha Americana”.

Já neste século, uma nova geração redescobriu seu trabalho, tendo o primeiro disco lançado em 2014, depois que o diretor da Rádio Cultura de Belém, Beto Fares, ao lado da coordenadora artística da casa, Regina Silva, produziram “Laurentino e Os Cascudos”. A banda foi formada por Junhão (Projeto Secreto Macacos) na bateria, Elder Effe (Espoleta Blues) no baixo e as guitarras de Camilo Royale (Turbo) e João Lemos (Molho Negro).

A descoberta veio quando Laurentino participou do Festival “Seis Horas de Rock”, promovido por Ná Figueredo no Teatro de São Brás, entre 1998 e 1999, lembra o músico e radialista Ruy Montalva, que ia participar do festival tocando com a banda Mangabezo. “No camarim, tinha um senhor tocando gaita, um senhor isolado, e a gente achou muito maneiro. O Ná apresentou ele pra gente e perguntou se ele poderia abrir o nosso show, porque nós éramos a única banda que tinha espaço pra ele, porque a gente fazia fusão de ritmos”, conta Ruy.

Era o grande momento de Laurentino, e parecia algo de sobrenatural. Coincidentemente, o antropólogo Hermano Vianna, pesquisador da música nacional, se encantou pelo show da banda e de Laurentino, e inseriu o mestre em um documentário sobre música brasileira.
RENDA

O encontro entre os músicos do Mangabezo e Laurentino anunciou um longo caminho de parceria, com espaço para a criação do Coletivo Rádio Cipó. Com o grupo, Laurentino percorreu festivais em Fortaleza, Natal e em cidades europeias, ao lado também da amiga Dona Onete. Até Gilberto Gil gravou sua versão para “Lourinha Americana”.Registros para o lançamento de um livro, um disco e um documentário sobre a música de Mestre Laurentino foram feitos pelo Rádio Cipó. Mas, por ser um projeto grande, a ideia empacou, conta Montalva.

Hoje, o mestre é um xodó entre os artistas paraenses. Para Ruy Montalva, “originalidade e autenticidade na música” são os segredos para tanta influência. “O mestre nunca quis ser ninguém. Por mais que fosse do Marajó, ele não queria fazer carimbó, tanto que ele foi para o rock, compôs valsa, foxtrot. Essa questão da originalidade é a fonte de inspiração que ele deixa como legado para todos os artistas do Pará. Apesar da idade, ele sempre trouxe a vanguarda”, comenta Ruy, que está preparando um novo disco que traz uma composição de Laurentino.

Depois de internado em estado grave de saúde no ano passado, por conta de uma pneumonia, aos poucos o velho roqueiro vai se recuperando, apesar das complicações da idade. Com poucos recursos, amigos artistas e admiradores organizam diversos eventos para levantar fundos para o sustento do artista, que já teve músicas gravadas por Mundo Livre S/A.

Em comemoração ao 90º aniversário, uma grande festa será realizada no Mormaço, no dia 10 de janeiro, com programação extensa para angariar fundos e mantimentos para o artista. Toda a renda será um presente de aniversário para quem tem a própria história como fruto de inspiração. Dona Onete, a principal articuladora da festa, Lia Sophia, Manoel Cordeiro e Los Picoteros, Félix Robatto, Renata Del Pinho, Keila Gentil, Nilson Chaves, Strobo, Edilson Moreno e muitas outras atrações marcarão presença.

Renata Del Pinho conta que a ideia começou depois de uma conversa com o mestre, quando ele contou de suas dificuldades. De acordo com a cantora paraense, ele não dispõe de renda, pois uma dívida tem consumido toda a sua aposentadoria.

Além da saúde debilitada por causa da pneumonia, um fungo tem enfraquecido sua mão e nem sempre o músico dispõe de fundos para custear os remédios. Além de tudo, Mestre Laurentino está sem gaita, o instrumento que lhe rendeu a música. “Nós começamos a convidar alguns artistas e quanto vimos a coisa tomou uma proporção imensa e as pessoas ligavam pedindo para participar. A gente está com 23 artistas no palco que vão render homenagens para ele, a partir de toda essa mobilização. O mestre merece, porque ele tem uma história e uma carreira que precisam ser lembradas. E a gente tem de criar uma cultura de reverenciar os mais velhos”, explica Renata.

O público pode contribuir comprando os ingressos para a festa. Toda a renda será destinada para a criação de um fundo para o Mestre Laurentino, com uma conta onde as pessoas poderão fazer doações. O espírito guerreiro de Laurentino contagia, e não há quem discorde que o velho roqueiro continua fazendo história.

COMPAREÇA

Mestre Laurentino 90 Anos
Show-homenagem com Dona Onete, Félix Robatto, Renata Del Pinho, Gláfira, Joelma Kláudia, Edilson Moreno, Juca Culatra, Keila Gentil, Lia Sophia, Manoel Cordeiro e Los Picoteiros, Mg Calibre, Nicobates e os Amadores, Nilson Chaves, Pedrinho Callado, Pedro Vianna, Pelé do Manifesto, Quaderna e Banda Strobo.
Quando: 10 de janeiro, às 14h
Onde: Mormaço Bar e Arte (Passagem Carneiro da Rocha, nº 1, Cidade Velha)
Quanto: Ingressos antecipados a R$20 (com meia-entrada a R$10) nas lojas Na Figueredo. Na bilheteria, venda a R$30 (meia R$15).
Informações gerais: (91) 99824-7668

(Gustavo Aguiar/Diário do Pará)

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