Pouco antes da meia-noite, uma fila gigantesca se formou na entrada da casa de eventos Planeta Show, no bairro da Sacramenta, em Belém. Era o público para o show de MC Pedrinho, um garoto de apenas 13 anos, que é um dos principais nomes do gênero chamado “funk ostentação”, que dentre outros famosos, inclui MC Guimê. Surgido em São Paulo, traz a levada do funk para assuntos contemporâneos, como a ascensão da classe C e seu acesso aos bens de consumo. De acordo com a organização do evento, cerca de 4 mil pessoas estavam no local.
Vestido com roupa e sapato social e relógio dourado, Pedro Maia pisou no palco, empunhou seu microfone branco e disse: “O Pedrinho voltou, o Pedrinho voltou” – numa clara alusão às proibições de suas apresentações em diversos estados do país, pelo teor sexual das letras de suas canções, como, por exemplo, invocar “novinhas” (gíria para garotas novas) a realizar sexo oral, em “Dom dom dom”, seu vídeo mais assistido no Youtube. Em “Vem Periquita”, o adolescente canta “Vai desse jeito gostoso, mulher / Vem rebolando na pica, vem piriquita”. Esse estilo de música também é conhecido como “funk proibidão”.
O show do pequeno astro – que de acordo com fontes como o site Ego chega a faturar cerca de R$ 300 mil por mês, com uma agenda de 15 shows mensais – começou às 2h da manhã e durou pouco mais de meia hora. Mas com nenhuma canção famosa, que o tornou conhecido. Nenhuma palavra cantada sobre sexo. O suficiente, talvez, para o público daquela noite, que antes se divertiu ao som das aparelhagens Ouro Negro e Crocodilo, com bregas antigos de variadas vertentes, tecno e melody eletro, demonstrando habilidades com a dança.
Já no show de Pedrinho, todos pararam para assistir, num cenário muito diferente de momentos antes, quando da apresentação das atrações locais. A performance no palco incluía os trejeitos dos funkeiros, com passos de dança tradicionais do ritmo, na batida do DJ. Pedrinho tocava nas mãos do público, muito próximo ao cantor, e também pegava os celulares para fazer selfies. Foram várias fotos e inúmeros aparelhos para realizar o registro. Um segurança tratava de tirar a mão dos que se atrevessem a tocar no cantor, e o seguia pelo palco. Ao fim, levou Pedrinho carregado no ombro, deslocando-se com velocidade por trás do público, para conduzi-lo até a van que o levou de volta ao hotel.
O público estava dividido: enquanto alguns foram à festa para ver o cantor, outros sequer sabiam quem era o garoto e buscavam mesmo “seguir” as aparelhagens. “Eu vim para ver a aparelhagem mesmo, aqui em Belém é o que comanda, é o que chama toda essa multidão. O show dele pode até ser legal, mas se não tiver aparelhagem junto, não chama atenção”, opina Anderson da Silva, 20, estudante. Da mesma opinião compartilha o estudante Maycon Dourad, 28. “Eu venho para valorizar o que é da terra. Se ele [Pedrinho] vier sozinho, talvez não venha muita gente. A aparelhagem tem que vir. Sigo sempre o Crocodilo, quinta, sexta, sábado e domingo”, diz.
Quanto às letras de teor sexual, e mesmo sem ter apresentado ao vivo nenhuma delas, o público também deu a sua opinião.
“Eu gosto muito, acho tudo! Mas tem limite, né? Se for festa com menor de idade, não acho legal. Mas aqui só tem adulto, todo mundo. Eu adoro. Não acho certo ele cantar isso, mas a mãe dele libera, né?”, diz o cabeleireiro Ewerton Brazão, 23. O estudante Leonardo Virgílio, 18, acha o mesmo. “Sou contra só para menores de 18 anos, mas aqui todo mundo já sabe o que faz”, conclui, sem lembrar que o cantor é menor. E ao fim da festa, o DJ tocou a música famosa, convocando as novinhas ao sexo
(Dominik Gusti/Diário do Pará)
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