"A palavra que define o movimento hip hop é resistência. O rap é a voz de quem não tem voz. Nós somos o grito dos excluídos, a gente fala pelos outros”, diz um dos entrevistados do documentário “A Batalha de São Braz”, com direção de Adrianna Oliveira, que será lançado hoje, às 19h, no Cine Líbero Luxardo, do Centur, em Belém.
Sob os gritos de “tem que ser sagaz, tem que ser sagaz, pra rimar na batalha de São Braz”, os MCs – artistas ou cantores que compõem e cantam suas próprias composições – disputam para saber quem é o melhor da noite, aclamados pelo público local, numa manifestação típica do hip hop, a batalha de rap. O vídeo mostra a movimentação cultural em torno da praça em frente ao mercado de São Braz, todos os sábados à noite.
O tom do depoimento é também o viés da produção, que aborda a ocupação do espaço público a partir das relações com o Estado, e os embates com a Polícia Militar – que de forma arbitrária já proibiu diversas vezes as batalhas de acontecerem. De acordo com Adrianna, para fazer o documentário, foi preciso expandir, então, o roteiro e desvendar o que a palavra “batalha” significa no contexto do hip hop – buscando fontes diversas.
“Após as entrevistas e conhecendo mais o movimento, percebemos que o interessante para o documentário era mostrar não somente a batalha dos MCs, e perceber a palavra batalha de forma mais subjetiva, como sendo uma maneira de se apropriar do espaço, que além de palco para eles, também abriga feirantes. Além disso, é um local importante pela sua arquitetura e significado histórico, já foi palco de movimentos políticos, e que agora está completamente abandonado”, diz.
Além dos MCs e dos frequentadores da praça, como Pelé do Manifesto, Everton Oliveira, Mana Josy, Bruno BO e DJ Morcegão, a equipe do média-metragem de 26 minutos também entrevistou outras pessoas para compor o documentário, como o deputado federal Edmilson Rodrigues e o produtor musical Ná Figueredo, que acompanharam movimentos históricos em torno do Mercado, como os protestos pela meia-passagem estudantil e os shows de rock que ocorriam no antigo teatro no interior do espaço.
O mercado centenário vicou palco dos MCs. (Foto: divulgação)
Este é o primeiro documentário dirigido por Adrianna, realizado através do Edital Jovem.Doc, voltado a realizadores jovens de todo o Brasil, com apoio da Fundação de Apoio a Unifesp (Fap-Unifesp), Universidade Federal Paulista (Unifesp), Cinemateca Brasileira e Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV-Minc). Para compor a equipe, a produção contou com a consultoria de roteiro do jornalista Vladimir Cunha, diretor do longa-metragem “Brega S/A” e com a produção-executiva de Fernando Segtowick e Thiago Pelaes, diretores do premiado documentário “No Movimento da Fé”.
“Quem faz esse movimento são estudantes e jovens, que sabem a função social, não só de divertimento, mas de ocupação do espaço público, já que a maior parte deles é de periferia e tem necessidade desses espaços para o lazer. E eles fazem isso por meio do hip hop. Sabemos que há um preconceito em torno da batalha, por isso eles foram escolhidos como tema do doc. O audiovisual pode desmistificar um assunto e contribuir para não marginalizar o movimento”, acredita Adrianna.
ASSISTA
Lançamento do DOC "A Batalha de São Bráz"
Quando: hoje, às 19h
Onde: Cine Líbero Luxardo (Centur - Avenida Gentil Bittencourt, 650, esquina com Rui Barbosa)
Quanto: De graça, com ingressos distribuidos 30 minutos antes da sessão.
(Dominik Giusti/Diário do Pará)
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