Luciana Magno abre mostra "Orgânicos"

Sentada em uma praça, conversando e lanchando com um amigo, Luciana Magno notou a árvore que se elevava sobre eles. A figueira selvagem, árvore de raízes aéreas e longas, gerou uma identificação sobre a artista de cabelos longos, há 13 anos sem cortar. As raízes sobre o tronco, os fios sobre o corpo e a noção de que moléculas de carbono e hidrogênio são a composição básica de toda matéria viva, de que a mesma queratina presente nos fios escuros de seus cabelos é presente também na casca da figueira. A identificação com a natureza levou à pesquisa, que levou às imagens que o público pode conferir na mostra “Orgânicos”.

A exposição foi uma das contempladas em 2016 com o Prêmio de Artes Visuais do Banco da Amazônia e será aberta hoje, às 18h30, no Espaço Cultural da instituição, com entrada franca. Composta de performance direcionada para vídeo e performance direcionada para fotografia, “Orgânicos” tem curadoria de Marisa Mokarzel com contribuição de Luciana Lemos e Solon Ribeiro.

Toda a mostra é o resultado de exercícios que buscam o entendimento da integração corpo-natureza. “Nosso organismo é constituído da mesma matéria orgânica que está na terra, na folha de uma árvore, na pata da formiga. Quando morremos, nosso corpo volta à terra para ser decomposto por bactérias que vão se alimentar e gerar nutrientes para seres vivos próximos, uma árvore, uma grama, uma minhoca e lá na frente o ciclo se renova quando alguém come uma fruta ou um pedaço do bife do animal herbívoro que comeu aquela grama. Estamos todos interligados”, diz Luciana.

Depois de circular em pequenas doses por diversas coletivas, a série será exibida pela primeira vez em um panorama escolhido conjuntamente com Marisa Mokarzel, que aponta: “Não basta a beleza que harmoniza os corpos, a similitude das formas, o que emerge das propostas de Luciana Magno é o viver e pensar o mundo”.

A curadora trabalhou a partir de toda a produção da artista, realizada desde 2011. “Gosto muito do olhar delicado que ela tem. Esse outro olhar é interessante, começa a perceber através do olhar do outro algo que você não enxergava e estava ali todo o tempo”, comenta Luciana sobre a curadoria.

Pesquisa de campo

Através da Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística do antigo Instituto de Artes do Pará, que recebeu em 2013, Luciana Magno iniciou uma longa pesquisa, que contou com a colaboração de pesquisadores do IBGE. “São pessoas que estudam cartografia, vegetação, uso dos recursos naturais. A gente fez uma rota pelo Pará, definiu alguns pontos chaves onde seria interessante ir para fazer a série”, relata a artista. Diante de um estado tão grande, ela conseguiu registrar uma grande diversidade de paisagens.

“Existe um processo de preparo das imagens, mas em alguns casos eu chego no local e fico impressionada pela paisagem, acabo partindo daquilo, o trabalho se recria. Claro que existe o lado fotográfico, da técnica, da estética, mas às vezes tudo isso se altera pelo impacto do lugar e me torno muito mais preocupada com a reação corpo-natureza”, diz Luciana. Entre os locais por onde a artista passou para fazer os registros estão as florestas nacionais do Tapajós e de Carajás.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)