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Documentário registra o samba de cacete em Oeiras

Tenho sono, olerê, mas não durmo, olerê”, cantam os negros da comunidade do Igarapé Preto, no município de Oeiras do Pará, na música “Manjerona”. O lamento é uma herança dos ancestrais escravos, que cantavam e dançavam em meio ao árduo trabalho mata adent

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Tenho sono, olerê, mas não durmo, olerê”, cantam os negros da comunidade do Igarapé Preto, no município de Oeiras do Pará, na música “Manjerona”. O lamento é uma herança dos ancestrais escravos, que cantavam e dançavam em meio ao árduo trabalho mata adentro, numa manifestação que ficou conhecida como “samba de cacete” e pode ser observada em comunidades remanescentes de quilombos na região do Baixo Amazonas, no Pará. A melancolia, a dor, a privação da liberdade eram entoadas em meio aos goles de aguardente, e isso os mantinha em pé para trabalhar e seguir a jornada da vida.

Em um trabalho de arqueologia, o diretor André dos Santos – negro e remanescente de quilombo, aliás, o primeiro do estado a receber titularidade de terra – gravou os mestres da cultura popular e permaneceu instigado a filmar o samba. Com recursos do Ministério da Cultura, por meio do Edital Curta Afirmativo 2014: Protagonismo de Cineastas Afro-Brasileiros na Produção Audiovisual Nacional, ele conseguiu produzir o documentário “Samba de Cacete – Alvorada Quilombola”, em que divide a direção ao lado de Artur Arias Dutra. A produção será apresentada amanhã no Igarapé Preto e no sábado, 4, às 17h, no Sesc Boulevard, em Belém.

André dos Santos conta que esta é uma forma de ouvir de volta aqueles que cederam uma parte de suas histórias para serem registradas em vídeo – o que permite ter salvaguardada uma parte da história e memória da comunidade. “A minha preocupação é com a preservação dos saberes dos mestres do samba de cacete. As novas gerações, os mais jovens, não têm se integrado e os mais velhos têm medo que o samba possa acabar, e o filme também vem contribuir com isso de alguma maneira, garantir essa memória”, defende.

Veja

Lançamento do documentário “Samba de Cacete – Alvorada Quilombola”
Quando: Hoje, às 19h, na Comunidade do Igarapé Preto, e sábado, 4, às 17h, no Sesc Boulevard (Boulevard Castilhos França, 522, Campina), em Belém.
Quanto: A entrada é gratuita.
Informações: (91) 99191 1299 / (91) 98369 1887.

Produção do documentário buscou não apenas registrar, mas de fato incluir os moradores de Igarapé Preto no processo do filme (Foto: André dos Santos/Divulgação)

Voz dos mestres em cena

A partir do primeiro contato, a aproximação com a comunidade permitiu uma fluidez dos trabalhos de gravação e interação entre a equipe do documentário e os moradores da área remanescente de quilombo em Oeiras. O filme mostra a comunidade em direção à roça, os passos largos pelos caminhos de terra, mãos, pés, rostos e marcas da vida dos já idosos guardiões do samba do cacete, homens e mulheres. “Nos sentimos em casa para a execução do filme. Isso é importante, saber se integrar e saber incluí-los no filme. Em dado momento, já sabíamos as letras, já éramos amigos, e essa reciprocidade é muito importante”, comenta André dos Santos.

A produtora executiva do documentário, Denise Schann, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que por se tratar de uma manifestação com base na oralidade, o registro audiovisual é importante para que futuras gerações de moradores da área, além de pesquisadores, possam recorrer ao vídeo e saberem sobre seu passado.

“O povo quilombola em geral, assim como indígenas da Amazônia e de outras partes do país, possui tradição oral. O samba de cacete é passado de geração em geração através do fazer, do tocar, do dançar. Não é algo que ensinem, as próximas gerações têm que ver eles fazerem, imitar, funciona muito pela imitação. E nossa educação está muito pautada na educação escolar, o que se ensina na escola, o que o professor fala na escola, o que se lê nos livros. O conhecimento deles não está na forma ocidental de ensinar, é diferente, mais lúdica”, explica.

No batuque dos curimbós, cultura de séculos

O samba de cacete tem esse nome porque é realizado a partir do batuque de tambores de curimbó com dois pedaços de madeira – chamados de cacete. É comum ainda em Cametá, Baião, e outros municípios que possuem comunidades remanescentes de quilombos.

A produtora do documentário e pesquisadora Denise Schann diz que na origem, o samba de cacete era realizado quando existiam os chamados mutirões – a labuta na roça. E como hoje esta atividade não ocorre mais, o samba também há um tempo ocorre apenas em datas festivas ou a convite, sem data marcada para ocorrer. Além disso, pela falta de documentação escrita, Denise explica que a forma dos entrevistados de passar informação era o próprio fazer. “Nas entrevistas tínhamos dificuldades de que eles explicassem como isso funcionava. Não podemos perguntar como bate o tambor, como dança, eles querem mostrar, é muito visual, corporal. E isso é próprio do audiovisual, que tem capacidade de mostrar, com som e movimento”, diz.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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