Quem circula nas coxias dos festivais de dança sabe que sempre que se fala em grupos nascidos nas aulas de educação física das escolas regulares, outros bailarinos e coreógrafos torcem o nariz. Como se a arte desenvolvida ali fosse menor que aquelas criada em escolas de dança com seus métodos formais e tradicionais.
Pois em Belém uma história se construiu derrubando esse preconceito passo a passo, movimento por movimento. E foi além. A Cia Moderno de Dança nasceu, sim, no seio de uma das escolas mais tradicionais de Belém de ensino infantil, fundamental e médio, mas desde o início se mostrou um grupo coerente com seu propósito e fundamentado em pesquisa, muita pesquisa, desenvolvida por sua diretora, Ana Flávia Mendes Sapucahy. Logo chamou a atenção por uma forma de dança contemporânea com linhas próprias, que apaixonou jovens que hoje se tornaram pesquisadores profissionais do movimento. O que era uma atividade escolar extracurricular se tornou um exemplo de solidez no mercado de artes local.
A companhia foi longe. O nome continua o mesmo, mas o caminho trilhado ultrapassou os limites da escola e hoje a Cia Moderno dança literalmente com as próprias pernas. E é abrindo as portas de sua casa, o Espaço Cia Moderno de Dança, que recebe até hoje o público para assistir ao espetáculo “Plié: Dança em Quatro Atos”, em que descontrói e reconstrói quatro balés clássicos de repertório - “Giselle”, “Carmen”, “A Morte do Cisne” e o “O Lago dos Cisnes” – dando a sua provocante leitura sobre enredos como amor, loucura, sofrimento e morte que permeiam estes roteiros centenários.
Nada é romanceado. Tudo ali é superlativo, exacerbado, da loucura que nos despe de pudores, ao conflito entre os lados bom e o mau que existem em cada um de nós. Tudo trabalhado de uma forma em que é possível enxergar em cada gesto a entrega dos bailarinos, alguns visivelmente bem jovens.
Há quem possa dizer que há muito movimento, mas pouca dança. Pois diria que o trabalho tem um quê de dança-teatro, aos moldes do que Miguel Santa Brígida fez e há décadas marcou as artes cênicas em Belém. E isso em nada é diminutivo. É, sim, uma marca que rompe barreiras, porque uma das bandeiras levantadas pela Cia Moderno é a de que a dança contemporânea é democrática, acessível a todos. Pode nascer paralela às aulas de educação física. Pode nascer em uma aula estruturada bases formais. É dança. É movimento. É provocação. É, simplesmente, arte.
Serviço:
Última apresentação do espetáculo “Plié: Dança em Quatro Atos”, da Companhia Moderno de Dança
Quando: Hoje, 20h30
Onde: Espaço Companhia Moderno de Dança (Av. Conselheiro Furtado, entre Generalíssimo Deodoro e Quintino Bocaiúva, 164)
Ingresos: Venda no local
Informações: (91) 99171-4082
(Esperança Bessa/Diário do Pará)
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