Contemplar o universo e as coisas da natureza é algo que faz parte do trabalho da cantora Rita Benneditto, que tem na música a sua maior religião. Ela explica: “Consigo me manifestar e dizer o que penso e sinto. Venho de região rica musicalmente e religiosamente, que é o Maranhão”. Foi a partir das referências da cultura popular de seu estado e das sonoridades da Umbanda e do Candomblé que ela realizou seus dois últimos trabalhos, o “Tecnomacumba” e “Encanto”, que ela traz à Belém hoje, para show no Açaí Biruta. A cantora Mariene de Castro também é atração da noite com “Ribeirinha”.  O show de Rita, batizado de “Tecnomacumba Encantada” - para simbolizar a junção dos dois momentos - traz repertório misto e ainda canções de Gilberto Gil, Clara Nunes, etc. Ela vem acompanhada por Cao Barreto (guitarra), Alexandre Matias (contrabaixo), Ronaldo Silva (bateria e programações). O percussionista Kleber Benigno, do Trio Manari, fará participação especial. Para a abertura, a paraense Juliana Sinimbú e o Grupo Choro de fita se juntam à programação. “É terra do Tambor de Mina, encantaria, terreiro. Tem essa influência do negro e do índio, fui encantada por isso. É coisa da nossa história e da nossa gente. Então, foi natural que eu refletisse sobre esse universo. Tento ir para eletrônico e misturar, foi o rumo que a ‘Tencomacumba’ tomou, com mais forma. Ali faço referência aos cultos afros, especialmente candomblé e umbanda, que fiz questão de reproduzir mas sempre com cuidado de não colocar apenas como música religiosa”, explica Rita Benneditto. Rita já usou como nome artístico o sobrenome Ribeiro, mas alterou a sua identidade artística porque existe outra cantora com o mesmo nome. E para homenagear a cidade de onde veio, São Benedito do Rio Preto, adotou o novo sobrenome. Mas a sua linha conceitual permanece e ela traz sempre o que a encanta, no sentido de transmutar experiências e de mantê-las vivas em desdobramentos em sua carreira.  “O encanto trata das energias dos elementos fundamentais do universo e natureza, água, terra fogo e ar. Vivemos em um momento delicado de transformações e esses valores precisam estar em evidência. Como vim do ‘Tecnomacumba’, com o qal fiquei 12 anos em cartaz, o conceito do encanto é que falo de algo que não morre, mas que se transforma, vai para um outro plano. Então, ele não morreu, ele se encantou. É um processo evolutivo em que aponto setas para outros caminhos”, diz. Ribeirinha e fiel à cultura popular Assim como Rita, Mariene de Castro também tem ligação com a cultura afro-brasileira em sua obra e em “Ribeirinha” ela reverencia a parte mestiça e miscigenada da música brasileira, além dos povos e comunidades que vivem às margens dos rios. Para a cantora, é uma metáfora também de sua escolha na música, dedicada ao samba.  “Eu aprendi a ser assim. Sou ribeirinha e estou à margem diante das escolhas que fiz. Eu busquei essa margem, o rio e seus afluentes. Busquei um caminho e segui nele com resiliência. E nele sou vitoriosa. Escolhi ser fiel ao samba, à cultura popular, aos ritmos africanos e aos sons indígenas, que nos identificam no coletivo como povo e que fazem parte da minha ancestralidade. Com amor, dedicação, fé e entrega”, disse a cantora em texto de apresentação da turnê.  O show é um mergulho nessas águas de seus rios, passando pelos momentos mais importantes de sua história, desde 1998, quando fez o primeiro show, a carreira internacional, os álbuns, os principais prêmios até os dias de hoje, seu modo de pensar, de perceber, de contar por meio da arte a sua vida. É também uma reflexão. “O conceito de ‘Ribeirinha’ é uma reflexão sobre o mundo onde todos são ribeirinhos. Devemos olhar os problemas do mundo como uma comunidade, juntos, não separadamente. Empresto meu canto, minha alma e faço minha caminhada à beira desse rio onde todos passam por mim, e juntos somos um”, finaliza. (Dominik Giusti/Diário do Pará)

MAIS ACESSADAS