Depois de despontar como um dos maiores nomes do cenário musical brasileiro contemporâneo com seu primeiro álbum “Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”, o pernambucano Johnny Hooker faz show em Belém com seu novo disco de inéditas e turnê de mesmo nome, “Coração”. Com abertura de Keila Gentil e Orquestra Aerofônica, a apresentação ocorre hoje, às 21h, no Açaí Biruta.

O novo show traz as 11 canções inéditas de “Coração” (como “Touro”, “Página Virada”, “Poeira de Estrelas” e “Escandalizar”) e alguns sucessos do disco anterior (tais como “Amor Marginal” e “Chega de Lágrimas”). Há ainda “Boato” e “Beija-Flor”, hit do Timbalada regravada por ele especialmente para a trilha sonora da novela “Segundo Sol”.

Desta vez o espírito da narrativa contada no palco é combativo e intenso, destoando da entrega dolorosa do outro trabalho. Nas palavras de Hooker, este novo show fala mais sobre “resisitir às relações tóxicas e aos tempos políticos sombrios”. “Porém, ao invés de o show seguir só com um arco dramático como era o ‘Macumba’, este atual espetáculo tem quatro arcos diferentes, sem perder a dramaticidade e a densidade do primeiro”, pontua o artista, em entrevista exclusiva à repórter Lais Azevedo.

Uma das faixas de “Coração” é “Corpo Fechado”, que fala do cenário atual, como na letra que diz: “se depender do seu ódio eu não morro mais”. É uma maneira de dizer que, apesar do discurso de ódio e da violência existente no mundo contemporâneo, você sempre terá pessoas para estar junto: “vai me ver dançando, vai me ver amando e vai cair pra trás”.

(Foto: Divulgação)

“É isso! A gente vai continuar resistindo com muito amor e luz. E o Brasil vai se tornar um lugar mais empático, com mais bondade e espero que possamos entender que somos todos irmãos, independente da nossa origem, sexualidade e raça. Ainda existe um futuro promissor!”, afirma o cantor, ele próprio alvo recente de ataques violentos nas redes sociais após um polêmico show no “Festival de Inverno de Garanhuns (FIG)”, onde ele afirmou que Jesus era travesti. A frase foi dita como posicionamento contra a tentativa de proibir, no festival, a apresentação de uma peça que representava a figura de Jesus como transexual.

“E eu estou aqui hoje pra dizer pra vocês que Jesus é travesti, sim, Jesus é transexual, sim, Jesus é bicha, sim, p*! Pode vaiar a vontade. Enfia a vaia no c*”, disse no palco do evento.

A declaração foi alvo de uma queixa-crime na Polícia Civil de Pernambuco, levada pelo advogado Jethro Ferreira. O artista não se pronuncia sobre o caso à imprensa, mas no Twitter chegou a se justificar: “O que me deixa mais absolutamente estarrecido nessa história é a quantidade de gente que acha que travesti não é gente, ser humano igual a eles. O mundo é muito sombrio e a humanidade vive nas trevas mesmo. Não passarão”.

(Foto: Reprodução/Instagram)

Amizade com Gaby tem “Corpo Fechado”

Johnny Hooker se diz em grande expectativa para o encontro com os fãs de Belém. “É um lugar que me ensina muito culturalmente e eu vejo como uma cidade irmã de Recife, que foi onde eu nasci e onde existem muitas expressões culturais genuínas, e isso sempre me emociona muito”, confessa o cantor.

O novo trabalho do cantor, inclusive, tem participação de Gaby Amarantos. “Eu admiro profundamente a trajetória desta mulher negra, que veio do Jurunas, levou a música do seu lugar para o Brasil inteiro e se tornou uma popstar”, ressalta. O convite para ela participar da faixa “Corpo Fechado” veio do próprio artista, que se inspirou no Pará para escrever a canção.

Hooker conta que sempre gostou do Pará porque foi um lugar que o abraçou e apostou muito em seu trabalho. “O resultado é uma amizade linda e eu a respeito muito, porque Gaby é uma mulher inteligente e extremamente humana”, afirma.

A faixa ainda rendeu um videoclipe gravado na última segunda, 20. “As gravações foram incríveis! A gente trabalhou com uma equipe sensacional e o vídeo será muito colorido, pop, com coreografia e também celebra a minha amizade com a Gaby. A música fala sobre o poder da amizade quando a gente está triste e os amigos tiram a gente do ‘fundo do poço’”, adianta aos fãs.

O pernambucano não esconde também sua admiração por artistas como Dona Onete, Felipe e Manoel Cordeiro que, assim como Gaby Amarantos, viraram seus amigos. “Tenho muito orgulho ser contemporâneo a eles”, afirma.

Como grande nome dessa nova música brasileira, Hooker finaliza a entrevista à Lais Azevedo dizendo que no Brasil vive-se um período de muita resistência e entende que sua música também tem um papel contestador nesse cenário. “Jorge Mautner uma vez me falou que a música brasileira sempre foi a grande barricada de resistência do Brasil. Então, a música e a arte têm um papel muito importante de conscientização, já que no governo brasileiro temos pouca representação política e vivemos no país mais violento do mundo em relação às minorias”, conclui.

IMPERDÍVEL - Johnny Hooker apresenta show “Coração”

  • Quando: Hoje, às 21h
  • Onde: Açaí Biruta (Rua Siqueira Mendes, 324-454 - Cidade Velha
  • Quanto: R$50 (pista) e R$60 (camarote), à venda no www. sympla.com.br, Ellus (Boulevard Shopping) e Royal Black (Pátio Belém)
  • Informações: (91) 98330-6785

(Diário do Pará)

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