A chegada do período do Carnaval de 2023 acende um alerta nas autoridades do Brasil. A festa volta às ruas do país, após dois anos de pandemia e a situação de alegria e libertinagem que acompanha a festa de momo, traz também um fantasma escondido: a proliferação da Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis, as chamadas IST's (Infecções Sexualmente Transmissíveis).
A Sindrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) foi reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir da identificação de um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sintomas de "sarcoma de Kaposi", pneumonia por "Pneumocystis carinii" e comprometimento do sistema imune.
Todos estes fatos convergiram para a inferência de que se tratava de uma nova doença, ainda não classificada, de etiologia provavelmente infecciosa e transmissível.
Em 1983 o agente etimológico foi identificado: tratava-se de um retrovírus humano, atualmente denominado vírus da Imunodeficiência humana, HIV-1, que anteriormente foi denominado LAV e HTLV-III. Em 1986 foi identificado um segundo agente etimológico, também retrovírus, estreitamente relacionado ao HIV-1, denominado HIV-2.
Por conta da grande contaminação, na época, de homens homossexuais, a doença foi chamada de "Praga Gay", acreditando-se que somente este grupo estava sendo contaminado com o vírus, um grosseiro engano.
O HIV é o vírus e a Aids é o quadro de doenças que o vírus causa no sistema imunológico humano.
HÉTEROS ENTRE 20 A 35 ANOS
É essa situação que chama a atenção em Marabá, no sudeste paraense. Diferente do que se imagina, os maiores índices de contaminação por HIV no município não são os homossexuais, mas sim, homens jovens com idade entre 20 a 35 anos que se autodenominam heterossexuais.
Os dados são do Serviço de Atendimento Especializado / Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA). Atendendo a 19 municípios da região de Carajás, o SAE/CTA já registrou 229 novos casos de HIV em 2022. Devido ao maior número de ações realizadas, a maioria dos casos foram identificados em Marabá. Foram 152 novos casos. Por outro lado, de uma forma geral, 193 das 229 pessoas identificadas com a infecção são autodeclaradas heterossexuais, 28 homossexuais e 4 bissexuais.
Quanto à faixa etária de idade, a maior incidência se encontra em pessoas entre 26 e 35 anos, são 75 casos, seguida da faixa etária entre 39 e 45 anos com 61 registros. Em 2021, os idosos também apareceram nas estatísticas: são 15 novos casos de idosos acima dos 60 anos e as grávidas somam 14, sendo 12 em Marabá. Os adolescentes também estão na lista, 5 entre 13 a 18 anos descobriram a infecção.
Agora em 2023, com os dados ainda não consolidados, Marabá contabiliza 233 casos.
PORQUE HOMENS?
De acordo com Katiane Chaves, gerente do SAE/CTA em Marabá, esse é um dado novo, porque a geração de homens que tem entre 20 a 35 anos, nasceu no final dos anos 90 e início dos anos 2000, época em que a Aids já estava bem divulgada no mundo.
Além disso, para ela, há um paradoxo enorme para essa situação porque atualmente vivemos na era da informação, onde temos acesso a tudo na palma da mão, ou seja, não era para esses homens estarem doentes, principalmente de Aids.
"Vivemos em um momento em que qualquer assunto, qualquer tema se busca nas redes sociais e você consegue obter informações", declarou. "Então é uma faixa etária que têm acesso a informação mas existe uma questão cultural de não buscar o serviço de saúde, principalmente pessoas do sexo masculino, o homem é mais difícil de fato para buscar o serviço de saúde", explicou Katiane Chaves.
Para a gerente do CTA Marabá há ainda outro fator preocupante: o preconceito ainda em relação à Aids. Por ser uma doença que ainda não tem cura, por ter sido amplamente associada à homossexualidade e a prostitutas nos anos 80, e por diversos outros fatores, os homens não procuram o CTA, mesmo quando tem certeza de que podem ter sido contaminados.
"A gente percebe que há um preconceito nas pessoas em procurar o CTA, principalmente os homens. Para muitos a ideia é de que, se procurou o CTA, automaticamente estou com Aids, muitos tem vergonha de vir aqui, ou de serem vistos entrando aqui, e isso é um grande problema", acrescenta.
A gestora da entidade explica que o combate a Aids avançou muito e que hoje, com os cuidados e remédios necessários pode-se viver até mesmo relativamente bem. "O tratamento contra a Aids antes era difícil, muitos remédios, hoje não, pra termos uma ideia a pessoa só toma um", explicou. "Além disso, a doença hoje está na mesma categoria daquelas que tem diabetes e hipertensão, por exemplo, a pessoa tem o problema, mas com os cuidados médicos, dieta, e exercícios, vive praticamente como se não tivesse", declarou.
Além disso, ela declarou que se a pessoa se comprometer a ter todos os cuidados, chega-se a uma situação de a carga viral ser tão pequena, que não conseguem mais contaminar ninguém.
GRÁVIDAS E HOMOSSEXUAIS
Katiane Chaves explica que o Serviço de Atendimento Especializado / Centro de Testagem e Aconselhamento atende por volta de 4 mil mulheres por ano e somente 2 mil homens. Uma disparidade que precisa ser trabalhada.
Além disso, a entidade atende praticamente todas as mulheres que fazem pré-natal encaminhadas pelo Sistema Único de Saúde, ou pelo próprio município. "Essas mulheres estão grávidas, e precisam fazer todos os exames, inclusive os das doenças sexualmente transmissíveis, então precisamos tirar esse estigma de que o CTA só atende gays que tem Aids, isso não é verdade e isso é passado, aliás, os homossexuais são o grupo de pessoas que mais se cuidam aqui em Marabá em relação a doenças desse tipo", salientou.
PREVENÇÃO
Com a chegada do Carnaval e a volta dos foliões aos blocos de rua e festas em Marabá, o CTA vai intensificar as campanhas de prevenção, que ainda é o melhor remédio. Haverá distribuição de informativos, preservativos e em alguns locais, testes rápidos para possível identificação de doenças e vírus.
"A prevenção é a melhor indicação mas o diagnóstico precoce é a base para garantir o melhor tratamento, dando qualidade de vida para as pessoas que vivem com HIV", informou.
"Em qualquer ação que fazemos está atrelado a distribuição de preservativos e no Carnaval iremos trabalhar de maneira diferenciada, até pela grande demanda que é, então aproveitamos a oportunidade para alcançar o maior número de pessoas quanto a garantia desse insumo de prevenção que é o preservativo", declarou.
SERVIÇO
Serviço de Atendimento Especializado / Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA) em Marabá
Endereço: Tv. Santa Teresinha, s/n - Marabá Pioneira
Telefone: (94) 3321-2195
Horário: 07:00 as 17:00
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