Mesmo sob o espectro de um possível fracasso comercial e técnico, o especial "O Natal de Charlie Brown" superou as incertezas da produção para entregar aquela que é considerada, até hoje, a definição mais profunda da celebração cristã na cultura pop: o monólogo de Linus Van Pelt.
Em 1965, o clima nos bastidores da animação era de puro pessimismo. Bill Melendez, o diretor, chegou a declarar que haviam "matado os Peanuts" ao assistir ao corte final, apenas dez dias antes da estreia na CBS.
A produção quebrava todas as regras da época: não utilizava claques de risadas, escalou crianças reais para a dublagem — em vez de adultos simulando vozes infantis — e apresentava uma trilha sonora de jazz, considerada sofisticada demais para o público mirim.
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A maior resistência, porém, recaía sobre a cena central. Charles Schulz, o criador das tirinhas, insistiu que Linus recitasse o Evangelho de Lucas para explicar o "verdadeiro sentido do Natal".

Para a equipe e os patrocinadores, uma mensagem religiosa tão direta em um desenho animado parecia um ultraje arriscado. Schulz foi irredutível: "Se não fizermos isso, quem vai fazer?".
Do Ceticismo ao Fenômeno Cultural
O resultado contrariou as previsões mais sombrias. O especial não apenas foi aclamado pela crítica, vencendo o Emmy de Melhor Programa Infantil, como se tornou uma tradição ininterrupta na televisão americana. Em 2015, o então presidente Barack Obama descreveu a obra como uma das tradições mais amadas do país.
Veja o monólogo de Linus em especial de Natal que foi ao ar pela primeira vez em 1965
O sucesso da produção reflete a profundidade teológica de seu criador. Das quase 18 mil tirinhas produzidas por Schulz, mais de 560 contêm referências espirituais. O autor, que foi professor de escola dominical e um leitor ávido da Bíblia, evitava o tom "piegas" de outros quadrinhos religiosos, preferindo uma abordagem que unia o cotidiano à busca pelo mistério.
Embora em seus anos finais Schulz tenha se identificado como um "humanista secular", sua obra permanece como um testemunho de sua jornada espiritual. A definição de Natal apresentada por Linus — um momento de silêncio e reflexão em meio ao consumismo — permanece como o ponto alto de uma animação que, nas palavras do animador Ed Levitt, "seria veiculada por cem anos".
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