Câncer de mama pode reduzir libido e prazer sexual

O câncer de mama impacta a vida das mulheres em diferentes dimensões: físicas, emocionais e também sexuais. Além dos sintomas da doença e dos efeitos do tratamento, a saúde psicológica e o bem-estar íntimo são profundamente afetados, exigindo redescoberta e acolhimento.

A ginecologista Beatriz Tupinambá, especialista em reprodução e longevidade humana, explica que os tratamentos, como quimioterapia, radioterapia e bloqueadores hormonais, reduzem hormônios fundamentais à saúde sexual. “Esses medicamentos diminuem as taxas de estrogênio, progesterona e testosterona, o que pode aumentar o cansaço, causar atrofia e secura vaginal, além de alterar o humor. Tudo isso afeta diretamente a libido”, detalha.

Segundo a médica, o tratamento não transforma apenas o corpo, mas também a forma como a mulher passa a se enxergar. “A autoestima tem papel essencial. Muitas veem a mama como parte importante da identidade feminina e sexual. Por isso, cirurgias e mudanças na estrutura corporal podem gerar insegurança e medo de não serem mais desejadas.”

Veja também:

• Governo lança campanha de multivacinação para jovens
• Bombeiros reforçam equipes para conter queimadas em Marabá
• Brasil busca solução urgente contra intoxicação por metanol

Corpo em transformação

A perda de cabelo, as cicatrizes e as alterações hormonais são marcas visíveis de uma batalha que ultrapassa o físico. “Muitas pacientes sentem que perderam parte de sua feminilidade. Surge o medo de decepcionar o parceiro, a dor ao se olhar no espelho e as dificuldades provocadas pela queda hormonal”, relata Beatriz.

Ela reforça que o momento pede empatia, paciência e apoio: “Não é falta de amor ou desinteresse, é um corpo em transformação que precisa ser acolhido.”

O olhar de quem venceu o câncer

A enfermeira e doutora Chrystina Barros, que venceu o câncer de mama, conta que a libido é diretamente afetada pela doença e seu tratamento. “A mama tem um valor simbólico muito forte. Representa feminilidade, sensualidade, maternidade. Quando há uma cirurgia ou uma cicatriz, é natural que isso abale a autoestima e o desejo. A libido não é só física; está ligada à autoconfiança e ao bem-estar com o próprio corpo.”

Ela reforça que a sexualidade não deve ser vista como tabu. “A mulher que passou por um câncer de mama continua sendo uma mulher inteira, capaz de sentir prazer e viver relações com amor e desejo. Depois da mastectomia, é um processo de redescoberta: do toque, do prazer e do corpo que agora se conhece de outra forma.”

Redescoberta e autocuidado

Falar sobre sexualidade após o câncer é, para Chrystina, um ato de coragem e de vida. “Conversar com outras mulheres, compartilhar experiências e buscar apoio faz diferença. É sobre se reconhecer novamente, com o corpo que se tem hoje”, afirma.

A ginecologista Beatriz reforça que o autocuidado também é uma ferramenta poderosa nessa jornada. “Manter uma alimentação equilibrada, praticar atividades físicas e cuidar do sono melhora o bem-estar e ajuda no equilíbrio hormonal e emocional.”

Ela ainda acrescenta um conselho prático e simbólico: “O cuidado com a região íntima é essencial. Gosto de chamar de ‘skin care da magnífica’. Isso inclui lubrificantes, hidratantes e, quando indicado pelo médico, hormônios locais de uso restrito. Pequenos gestos que devolvem conforto e autoconfiança.”