Não é novidade para a ciência que as taxas de incidência de câncer, principalmente nas formas mais graves, são maiores entre populações de menor renda, marginalizadas e com pouco acesso a educação e atendimento.
Há décadas, estudos no mundo todo apontam a desigualdade como fator que pode ser determinante não só para o aparecimento da doença, mas também para o sucesso do tratamento e as chances de cura.
No Brasil de hoje, no entanto, uma realidade potencializa esse cenário ainda mais: o desmonte na atenção básica à saúde. A porta de entrada do SUS sofre forte desfinanciamento desde a determinação do Teto de Gastos, da gestão de Michel Temer (MDB).
Essa situação é mais relevante ainda no Dia Mundial de Combate ao Câncer, lembrado neste sábado (4). E a data reforça a importância da conscientização da sociedade sobre os vários tipos de câncer.
"Vale lembrar que se soma essa questão ao cenário natural do envelhecimento da população brasileira, do aumento dos fatores de risco e das doenças, como obesidade, vira uma solução muito explosiva", alerta a coordenadora de projetos da Umane, Evelin Santos.
A Umane é uma associação filantrópica independente, que articula e fomenta iniciativas de apoio ao desenvolvimento do sistema, melhoria das condições de saúde e promoção da saúde. Pesquisas organizadas pela organização corroboram as percepções sobre o peso da desigualdade na incidência de câncer.
Um dos estudos revela que 48,3% dos brasileiros das capitais não fazem nenhuma atividade física. O hábito está na lista de comportamentos que podem diminuir a ocorrência da doença. O problema é maior entre pessoas com menor escolaridade: 64,5% das que tem até oito anos de estudo não praticam exercícios.
Câncer de pênis
Dados obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) junto ao Sistema de Informações Hospitalares do SUS revelam que 1.933 homens foram afetados pelo câncer de pênis de janeiro a novembro do ano passado e que houve 459 amputações do órgão masculino. Para esclarecer a população, a SBU realiza, pelo terceiro ano consecutivo, no mês de fevereiro, a campanha de prevenção e combate ao câncer de pênis.
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A doença se manifesta por meio de ferida que provoca coceira, queimação, forte odor e que não cicatriza, mesmo com tratamento tópico. Muitas vezes, é confundida com infecções sexualmente transmissíveis (IST). Durante todo o mês, médicos darão esclarecimentos sobre a doença, que é mutilante, nas redes sociais da SBU (@portaldaurologia no Instagram e Facebook). A entidade vai disponibilizar, também ao longo do mês, aulas para os agentes de saúde e o público em geral. Em 2020, 463 homens morreram devido a esse tumor, informou a SBU.
Para o presidente da entidade, Alfredo Felix Canalini, essa campanha é importante por “suprir a deficiência de informações adequadas e falar claramente sobre um problema tão contundente no país”. Uma mensagem simples, mas eficaz, diz respeito à higiene que o homem, desde menino, deve ter para lavar corretamente o pênis. Além disso, é preciso haver mais conscientização da necessidade da cirurgia para o tratamento da fimose, que ocorre quando não se consegue puxar para trás a pele que cobre a ponta do pênis, para que se possa lavar corretamente a região que fica encoberta por essa pele chamada prepúcio.
“Na campanha, também disseminamos informações para os profissionais que estão na atenção básica à saúde, para que sejam os principais multiplicadores dessas importantes informações”, reforça o presidente da SBU.
A diretora de Comunicação da SBU e uma das idealizadoras da campanha, Karin Jaeger Anzolc, afirma que o câncer de pênis é impactante não só pela mutilação e sofrimento que acarreta, mas também pela alta mortalidade que acompanha a doença nas fases mais avançadas. “Saber que é um dos cânceres mais preveníveis que existem e que, com medidas relativamente simples, podemos fazê-lo, é um alento. Porém, a conscientização e o conhecimento ainda não chegaram a uma boa parte da população, então, precisamos continuar, até que possamos reverter esse triste cenário.”
De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS, de 2007 a 2022, foram realizadas 7.790 amputações de pênis decorrentes de câncer, o que equivale à média de 486 procedimentos por ano. Os anos de 2019 e 2018 formam os que registraram maior número de casos da doença, respectivamente 2.156 e 2.134. Conforme dados disponíveis até novembro do ano passado, 2018 e 2019 tiveram também mais amputações do órgão masculino, 639 e 637, respectivamente. Os estados com maior registro de amputações, de 2007 a 2022, foram São Paulo (1.321), Minas Gerais (1.161), Paraná (633) e Ceará (526).
Alfredo Canalini reitera que quatro ações ajudam na prevenção da doença. A primeira é a limpeza adequada do pênis com água e sabão, puxando o prepúcio para higiene da glande, que deve ser feita todos os dias e após as relações sexuais. Outras ações são tomar a vacina do HPV, disponível gratuitamente no SUS para a população de 9 a 14 anos; retirar o prepúcio, quando essa pele que encobre a cabeça do pênis não permite a higienização correta; e usar preservativo para evitar contaminação por infecções sexualmente transmissíveis, como o HPV.
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