
Prometendo emagrecimento, fortalecimento da imunidade e até benefícios estéticos, a chamada soroterapia, que consiste na administração intravenosa de vitaminas e minerais, tem ganhado popularidade, especialmente entre influenciadores e celebridades. No entanto, entidades médicas alertam que não há evidências científicas que comprovem os benefícios do procedimento para pessoas saudáveis.
De acordo com um estudo publicado na revista Healthcare, realizado por pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Poznan, na Polônia, 89,4% dos profissionais de saúde apontam as redes sociais e celebridades como as principais responsáveis pela procura por essas infusões.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) não recomendam a prática, exceto em casos específicos, como deficiências documentadas ou doenças que comprometam a absorção de nutrientes.
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A médica nutróloga e diretora da Abran, Eline de Almeida Soriano, explica que a suplementação intravenosa deve ser restrita a situações como síndromes de má absorção, carências de vitaminas e nutrientes graves e suporte hospitalar. “Na maioria dos casos, uma alimentação equilibrada e a suplementação oral, quando necessária, são suficientes para manter níveis adequados de micronutrientes no organismo”, esclarece.
Efeito placebo e riscos à saúde
A terapeuta capilar Solange (nome fictício), 46 anos, investiu R$ 2.750 em pacotes de soroterapia para emagrecimento e fortalecimento da imunidade. Apesar das promessas feitas na clínica de nutrologia que frequentou, não percebeu nenhuma mudança significativa. “Quando passei a me alimentar melhor, dormir cedo e voltar a fazer caminhadas, aí, sim, melhorei”, conta.
Além da ineficácia, o uso indiscriminado da soroterapia pode trazer riscos à saúde. Algumas vitaminas, como a A, D, E e K, são lipossolúveis (substâncias que se dissolvem em gordura), e podem se acumular no organismo, provocando toxicidade. O excesso de minerais pode sobrecarregar os rins e o fígado, além de causar desequilíbrios eletrolíticos, levando a complicações metabólicas.
O nutricionista Guilherme Falcão Mendes, doutor em Nutrição Humana e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), ressalta que a suplementação só deve ser feita após diagnóstico clínico e laboratorial. “Não há como partir do pressuposto de que só por sinais e sintomas clínicos a pessoa tem deficiência. Até mesmo os exames de sangue podem ser controversos”, afirma.
Ilusão de fortalecimento da imunidade
A pandemia de covid-19 impulsionou ainda mais o mercado de infusões vitamínicas, sob a alegação de que fortalecem a imunidade. No entanto, o infectologista Manuel Palacios, do Hospital Anchieta, explica que não há comprovação científica de que a soroterapia tenha esse efeito em pessoas sem deficiências diagnosticadas. “O fortalecimento da imunidade depende de uma alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos, sono adequado, controle do estresse e vacinação”, enfatiza.
A endocrinologista Hermelinda Pedrosa, da Sbem, reforça que a prescrição da soroterapia sem necessidade contraria as normas médicas e pode configurar charlatanismo. O tema será debatido nesta semana no Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), que pretende elaborar um parecer oficial sobre a prática.
Cuidado com promessas milagrosas
Mesmo sem embasamento científico, algumas clínicas continuam divulgando benefícios da soroterapia para emagrecimento, aumento de energia, melhora do desempenho físico e até antienvelhecimento. Segundo Fernanda Silveira, endocrinologista e professora de Medicina da UCB, esses efeitos não são comprovados. “Muitas pessoas gastam dinheiro em procedimentos ineficazes, quando poderiam investir em hábitos realmente saudáveis”, alerta.
Diante das promessas tentadoras, especialistas recomendam cautela e senso crítico. Antes de optar por qualquer suplementação, a recomendação é buscar orientação médica, garantindo que a saúde não seja colocada em risco por modismos sem comprovação científica.
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