
Uma pesquisa divulgada no fim de 2023 pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel revelou que 45% dos jovens brasileiros, com idades entre 16 e 24 anos, sofrem impactos negativos das redes sociais em sua saúde mental. A ausência de uma regulação mais rígida sobre o funcionamento dessas plataformas tem contribuído para a disseminação de discursos de ódio, crimes e desafios perigosos, muitos deles com consequências trágicas, como a morte de crianças.
Diante desse cenário, uma campanha batizada de “24 horas sem Redes Sociais – Greve das Redes” propõe uma pausa voluntária no uso dessas plataformas durante 24 horas, a partir da meia-noite desta segunda-feira (21). A ação é liderada pela psicanalista Vera Iaconelli e pelo designer e ativista Pedro Inoue. Este último também atua como diretor criativo da organização canadense Adbusters, conhecida por seus movimentos de crítica à cultura digital.
“O conteúdo das redes é produzido por nós, os usuários. Mas ele é impulsionado por algoritmos viciantes, pensados para capturar nossa atenção e gerar lucro – às custas do nosso bem-estar. Somos explorados e dependentes dessas plataformas para nos informar, comunicar, trabalhar e existir socialmente. Mas temos um poder: parar”, escreveu Vera em seu perfil no Instagram.
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A psicanalista defende que é preciso agir com mais firmeza e cobrar a regulação das redes sociais e de seus modelos de negócio, os quais, segundo ela, “distorcem a subjetividade, alimentam o ódio e incitam a violência”.
A proposta da campanha ganha força após a morte de Sarah Raissa Pereira de Castro, de apenas 8 anos, que inalou desodorante como parte de um desafio popularizado no TikTok. O caso reacendeu o debate sobre os riscos da exposição infantil nas redes sociais. A primeira-dama Janja Lula da Silva comentou a tragédia, afirmando que a criança “morreu devido a um desafio ignorante feito pelas redes sociais” e que é necessário “repensar o mundo que estamos construindo”.
Além dos desafios perigosos, as redes também têm servido como espaço para a articulação de crimes. No último domingo de Páscoa, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, desmontou uma organização criminosa que pretendia assassinar um morador de rua e transmitir o crime pela internet.
Segundo a corporação, o grupo utilizava a plataforma Discord para promover conteúdos violentos como maus-tratos a animais, indução à automutilação, estupro virtual, racismo e incitação ao crime, tratando essas ações como formas de “entretenimento”. Os investigadores alertaram que os atos têm causado graves consequências no mundo real, especialmente para mulheres, negros e adolescentes.
Paralelamente, algumas das maiores plataformas digitais têm flexibilizado suas políticas de moderação. No início deste ano, a Meta anunciou o fim de seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos, substituindo-o por um sistema de “Notas da Comunidade”, modelo semelhante ao adotado na rede X (ex-Twitter), sob gestão de Elon Musk.
Para os organizadores da greve digital, o objetivo é provocar reflexão e mobilizar a sociedade para exigir mudanças estruturais no modo como as redes operam. “Desligar por um dia é uma forma simbólica, mas poderosa, de dizer: basta”, defende Vera Iaconelli.
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