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O DESAFIO DE TITE

Crônicas da Bola: como num passe de mágica

Colunista do Diário do Pará avalia os desafios de Tite á frente da Seleção Brasileira e questiona a falta de intercâmbio com a Europa

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Imagem ilustrativa da notícia Crônicas da Bola: como num passe de mágica camera Classificado para a Copa do Mundo deste ano, o Brasil irá para a sua segunda edição do torneio sob o comando de Tite | Arquivo DOL

Tite sabe muito de futebol, isso é inegável. Diria que, dentre os técnicos nascidos no Brasil, hoje, é o único que realmente tem condições de estar onde está. Mas não é o bastante. Na verdade, o maior problema da seleção não reside em quem a comanda. E também não estamos passando por alguma entressafra de jogadores. Pelo contrário, temos capacidade de montar até dois times bons, competitivos, se bobear. São outros aspectos que precisam de atenção.

Primeiro, a falta de adversários europeus é algo que impacta diretamente na qualidade do jogo da seleção brasileira. Temos a nítida sensação de que o Brasil não foi testado de fato nos últimos quatro anos. Ser o melhor time da América do Sul nas longas eliminatórias não é parâmetro. E olha que ainda perdemos o título da Copa América para a Argentina. Os europeus, claro, estão muito cômodos com a sua Liga das Nações, então a mudança tem que partir daqui.

Enquanto não se achar uma solução para que esse intercâmbio volte a ocorrer, seja em amistosos ou em algum tipo de torneio, vai ser difícil elevar o nível e continuaremos numa toada sonolenta no período entre Copas. E não, colocar o Mundial de dois em dois anos não é uma saída. Mas que bom que a Fifa ao menos esteja tentando pensar em fortalecer o futebol de seleções – mesmo que o interesse da entidade seja prioritariamente financeiro.

Em segundo lugar, vem o eterno entrave do calendário no futebol brasileiro. A seleção é, ou deveria ser, o máximo para jogadores, clubes e, claro, torcida. Então, não deveria competir com os jogos dos clubes, isso é pura lógica. Vai ter jogo da seleção? Pare o campeonato e pronto. As convocações não desfalcam os clubes, o torcedor não fica injuriado com a CBF (pelo menos nesse caso) e ainda se diverte com o Brasil em campo enfrentando um grande rival como Itália, Alemanha, França ou até mesmo a Argentina, se não tivermos que repetir jogos com os Hermanos umas cinco vezes no ano, claro.

O terceiro ponto é o resgate da identidade do torcedor junto à seleção, que precisa voltar a rodar esse país e trazer o torcedor para perto. Desde 2012 a CBF tem contrato com a empresa Pitch, que organiza os jogos do Brasil. Esse contrato já levou a seleção a fazer amistosos em países como Singapura e Gabão, além de praticamente transformar os Estados Unidos e a Inglaterra em “casa” da seleção brasileira. Se financeiramente a CBF ficou numa boa, na prática ela perdeu a atratividade desse seu maior “ativo” para o público interno e principal “consumidor”. Para nossa sorte, o contrato encerra no final do ano. A conferir o que a CBF vai fazer.

Por fim, se o torcedor, hoje, às vezes sofre para identificar jogadores convocados por estes nunca terem jogado profissionalmente no Brasil, tendo sido recrutados ainda na adolescência por algum clube europeu, a situação se agrava por nem com a seleção eles pisarem aqui. E isso também respinga no próprio estilo de jogo brasileiro. A nossa chamada “escola” de futebol perde a direção. Somos hoje uma miscelânea de estilos forjados no Velho Mundo. Organizar isso é missão árdua. Tite conseguiu? Duvido. Mas vamos ter a prova final em novembro no Qatar.

Depois, no próximo ciclo, bem, é muita coisa para arrumar e só o que podemos fazer é cobrar e torcer. Ou acreditar em magia. Será que alguém da CBF já ligou para o Guardiola? Vai que...

CARLOS EUARDO VILAÇA É EDITOR DE ESPORTE DO DIÁRIO DO PARÁ

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