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RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Colômbia: a chegada de Gustavo Petro ao poder

Félix Gerardo Ibarra Prieto é empresário e professor universitário, que assinará a coluna de Relações Internacionais no DOL.

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Imagem ilustrativa da notícia Colômbia: a chegada de Gustavo Petro ao poder camera Gustavo Petro é o primeiro presidente de esquerda da Colômbia. | Reprodução

Vou inaugurar a minha coluna de Relações Internacionais no DOL por um tema óbvio. E, como dizem os sábios, “o óbvio tem que ser falado” – e aqui falaremos e tentaremos explicar a chegada de Gustavo Petro ao poder em Nariño (nome do palácio de governo) na Colômbia.

Colômbia, com mais 50 milhões de habitantes e com mais de um milhão e cem mil km2, é o segundo país mais populoso do sul da América que tem uma localização geográfica privilegiada: saída para os dois oceanos – Atlântico e Pacífico. Apesar de tudo isso, ficou estigmatizado pela violência dos capo-mafiosos da droga (Pablo Escobar e amigos) e de grupos guerrilheiros de esquerda: FARCs, EPL, ELN e o M-19 (Movimento 19 de abril), este último surge depois das irregularidades nas eleições presidenciais dessa data, em 1970, que elege a Misael Pastrana. E desse movimento (M-19), o atual presidente era integrante, um guerrilheiro urbano.

Um amigo Alemão me disse uma vez que Colômbia, país onde ele trabalhou, seria um dos poucos que ele voltaria a visitar pela sua beleza natural e sua gente bonita e gentil. Eu estive lá poucas horas, especificamente em Bogotá, e gostei muito do seu clima (em media 15°C) e do seu aeroporto El Dorado que é o mais moderno da região latina e onde o cartão Black funciona 24 horas na sala VIP.

Colômbia também se conecta historicamente com o Paraguai, (país de onde eu venho) por um decreto do dia 27/07/1870 simbólico e humano que rezava os seguintes: nenhum paraguaio será pária em América, só chegar e pisar em terra colombiana, automaticamente gozará da nacionalidade colombiana – era no caso de se o Paraguai deixasse de existir territorialmente durante a Guerra Grande com a Argentina, Brasil e Uruguai.

E o óbvio? Colômbia e a chegada do Petro ao poder. Como e por que aconteceu? O país já vive 60 anos de violência que ocasionou a migração de mais de 10% da sua população, muito mais que a vizinha Venezuela. Essa violência estatal contra os grupos guerrilheiros era uma tática da direita e da elite colombiana de se manter no poder, amedrontando a população com “la política del miedo” que eles chamam. Isso funcionou muito bem, ainda melhor com Álvaro Uribe que os combateu fortemente das mãos do seu ministro de defesa, Juan Manuel Santos quem viria a ser seu sucessor.

Santos (Premio Nobel da Paz, 2016), uma vez no poder, e muito inteligentemente, começa o processo de paz que outros já haviam tentado e não conseguido. Nesse momento, Uribe rompe com Juan Manuel Santos (seu afilhado político) por não concordar que o processo desse algumas migalhas de vantagem para os guerrilheiros (lugar no congresso e anistia, etc.) Negociar e não ceder, não é negociação, também não é dar tudo.

Nesse ínterim, houve um câmbio geracional na Colômbia que nasce com Uribe (8 anos), entende-se com Santos (16 anos), decepcionam-se com Duque (20 anos) e faz sentido com Gustavo Petro (24 anos) e coloca “El Pacto Histórico” no poder. São jovens de 18 a 24 anos que colocaram um milhão de votos para fazer a diferença.

Essa mudança poderia ter sido da esquerda para a direita, mas quem falhou foi a direta, por isso a mudança foi para esquerda. Ou seja, ela não é ideológica e sim pragmática, ela é realística e esperançosa (como diria Juan Arias, correspondente elpais.es no Brasil). Um povo esmagado pela violência (mortes, desterros, expulsões e sequestros por todos os lados por meio século) tentando algo diferente com a finalidade de conseguir um resultado diferente.

Essa geração valente da Colômbia também percebeu a tática dos falsos positivos gente de interior sendo recrutada para “trabalhar nos cafezais para colheita” e ao final eram mortos pelas forças de segurança, denunciados falsamente como insurgentes e assim fazendo com que os oficiais pudessem ganhar méritos e medalhas de “bom combatente”... um horror!

Finalmente, vejo Petro muito bem acompanhado. Nomeou ministros com ampla experiência burocrática e colocou seu homem de confiança no ministério da defesa, o jurista e defensor dos Direitos Humanos, Ivan Velásquez, a quem os militares sentem pavor de só ouvir o nome.

Além disso, levou todo o centro e a centro-direita – inclusive o PL de César Gaviria (ex-presidente 1990-1994) e ex-secretário geral da OEA (1994-2004) – consigo no congresso para formar uma ampla maioria com a finalidade de aprovar os projetos urgentes que no dia seguinte da sua assunção já estavam no parlamento: reforma tributária urgente para poder cobrir o rombo fiscal de mais de 5% do PIB, a lei antifracking, a lei das horas extras (que os trabalhadores colombianos não tinham direito), ele também quer discutir com os “parceiros” americanos a política antidroga que fortaleceu o crime organizado e fragilizou o estado, que matou milhões de colombianos pela violência e milhares de americanos por overdose. Um fracasso.

Os empresários membros da ANDI (Associação Nacional de Empresários da Colômbia) já entenderam e ouviram o recado e os próprios americanos já se consolaram. Por fim, não tem o que fazer, “chegou democraticamente, é isso que interessa”, opina, Juan González, um colombiano de Cartagena que assessora o presidente Biden para a política do Hemisfério Ocidental.

Minha opinião: todo povo tem a soberania absoluta de mudar os rumos do seu país quando percebe que ele está sendo conduzido por um mau capitão. Todo político deveria perceber e entender que o rumo dita os votos e que isso deve ser respeitado e honrado pela política.

Félix Gerardo Ibarra Prieto é empresário e professor universitário. Mestre e doutor em Relações internacionais pela (UAA) professor titular da Unama (2006-2018) e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia (2008-2012) também é diretor e fundador da rede Castilla idiomas. www.fgip.blogspot.com

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