Não esqueci. Era dia 18 de julho de 1971. Com o estádio do Maracanã inteiramente lotado, Pelé fazia o jogo de despedida da seleção brasileira. Foi contra a seleção da Iugoslávia, terminou 2x2 e o Rei, mesmo sem ter marcado nenhum gol, brilhou. Eu estava lá, transmitindo a partida para toda a Amazônia através da PRC-5. Aos 20 anos fui o sortudo escolhido para a missão. Como ainda não existiam os telefones celulares, nem pude registrar nada para a posteridade. Fiquei somente com lembranças da época. Recordo que a Embratel me alojou numa minúscula cabine de imprensa junto com mais dois locutores do nordeste, um do Piauí, outro de Alagoas. Espremidos, teríamos de dar nosso jeito. E demos. Eu, especialmente. Com a visão bastante prejudicada por causa do pequeno espaço do lugar, pouco a pouco afastei-me em direção à lateral. E nela fui observando uma pequena abertura por onde, instintivamente, botei a cabeça para fora. Deste modo comecei a ver melhor os lances.
Empolgado, não percebi que, pouco a pouco, metade de meu corpo (não só a cabeça) ia ficando fora da cabine, prejudicando assim a visão de centenas de torcedores alojados nas cadeiras do estádio. Aí iniciaram os xingamentos: “sai daí, filha da p...!” - tornou-se um eco irritante. Depois, por causa do cabelo grande: “sai daí cabeludo veado!” Curioso que, apesar de tal clima, a coisa vinha dando certo. Ora, sair de Belém, estar no Maracanã e não poder irradiar o jogo do Rei, nem pensar. Eu estava disposto a tudo para honrar minha missão. E o melhor: não apareceu nenhuma autoridade para ralhar comigo. Apenas quando os palavrões cessaram, dando lugar ao arremesso de latas, em seguida restos de laranja e maçã, é que tive de voltar para dentro do calorento e reduzido espaço. Vi mal o restante da partida, inventei lances que nem existiram, mas gritei a plenos pulmões os quatro gols que ocorreram.
Quando retornei à casa de minha tia Yayá Camarão, na Rua Barão da Torre, em Ipanema, onde estava hospedado, foi que notei o estado de minha roupa, toda manchada das porcarias que me jogaram. As costas também doíam por uma “latada” certeira recebida. Tomei banho, titia passou azeite de andiroba nas contusões e dormi o sono dos justos. Missão cumprida: o paraense papa-chibé foi ao Rio, entrou na cabine de imprensa do Maracanã, irradiou o último amistoso de Pelé pela Seleção e todo lampeiro fez as malas para voltar.
Na bagagem ainda trouxe o LP importado “Ram”, de Paul MCartney, adquirido na Modern Sound da Rua Barata Ribeiro. Foi glorioso. Principalmente, a quando do retorno, emendar rumo ao incomparável Mosqueiro – para onde ainda se atravessava de balsa. Aquele que fora o paraense indesejável no sul durante 90 minutos, agora estava pronto para curtir com os seus, os resultados advindos de uma pequena façanha. Eu acho hoje que foi façaninha, sim. E também julgo ter tido dois privilégios na ocasião: ver Pelé jogar, vivendo a plenitude dos meus insubstituíveis 20 anos. Nunca mais isso se repetirá.
Quinta-feira, a antessala do final de semana, o dia em que a gente já toma a primeira...
LEQUE DE ESTRELAS
Nosso livro, “Leque de Estrelas”, da editora AMO!, será colocado à venda no Nucleo de Conexões Na Figueredo, a partir da próxima semana.
PANAMÁ
E a Confraria do Panamá, que durante 14 anos se reuniu todos os sábados no extinto Café da Sol-Doca, agora passará a faze-lo justo na loja do Na. O inicio da nova sequência, por sinal, dar-se-á depois de amanhã.
DUETO DO TIO
Agora, todas as sextas, no Boteco do Tio, na Diogo Moia 731, há o Dueto do Tio, com Bob Freitas e Olivar Barreto. Titios bons à beça.
O PRESENTE DO NILSON
Nilson Chaves radiante. Ganhou de presente da Solez um cordeamento completo de nylon para seu violão. Ele e a empresa, como se sabe, agora viraram parceiros.
LEVA ESSA SAUDADE
O CD comemorativo ao centenário de Edyr Proença, com lançamento previsto para maio, ganhará o nome de “Leva Essa Saudade”. Terá 14 músicas, todas cantadas por Andrea Pinheiro sob produção de Luiz Pardal.
OPINIÃO NÃO SE DISCUTE
Também em maio sairá o livro “Opinião Não Se Discute”, agrupando os textos originais de Edyr contidos nas antigas obras “Coisas do Futebol” e “Nem Pelé, nem Romario, nem nada...” No caso serão dois livros reunidos num só.
Quinta feira “gorda” de carnaval... Divirtam-se!
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De volta à Sandra Sá de 1982
Figura sagrada do soul funk brasileiro, a carioca Sandra Sá acaba de relançar pelas redes seu vitorioso LP de 1982, portador do eterno hit “Olhos Coloridos”, música de Macau, um hino até hoje contra o racismo. O álbum também ganhou reedição digital em LP físico através da Noize Record Club. Célebre, citado trabalho contém produção de Durval Ferreira e arranjos de Lincoln Olivetti, Robson Jorge e Serginho Trombone. O hit acabou apagando outros bons momentos que agora poderão ser apreciados com maiores cuidados. “Música Maravilha”, de Tunai e Sérgio Natureza, e “Amor Meu”, de Luis Melodia, por exemplo, são apenas dois.
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