É impossível ser feliz sozinho
Quem vê Neymar dando tudo nas Eliminatórias e Copa América, driblando e tabelando, finalizando com boa média de acertos, fica logo a se perguntar: por que o camisa 10 da Seleção Brasileira não deslancha de vez? Qual o motivo de não ser mais mencionado como um dos melhores? Fica sempre atrás de CR7, Messi, De Bruyne, Kanté, Lewandowski e até do companheiro de clube Mbappé.
Consideremos um aspecto temporal: com a progressiva redução de expectativas em relação a CR7 e Messi, ambos já se aproximando do fim da carreira, seria este o momento ideal para que Neymar (29 anos) emergisse com força total para ocupar o protagonismo máximo.
Qualidades nunca lhe faltaram. Algumas foram até depuradas com o tempo, como a leitura melhor das condições de jogo e a redução das firulas. Participa mais das ações coletivas. Vive grande momento como controlador de seu jogo, agudo com a bola nos pés, rápido nas investidas e ainda capaz de mudar de direção nas arrancadas.
Ninguém duvida que reúne habilidades que o colocam entre os melhores do mundo, prestes a bater a marca histórica de gols de Pelé pela Seleção - tem 68 gols contra 77 do Rei. Acontece que Neymar sente hoje as consequências de escolhas ruins, movidas por interesses financeiros.
Trocou a vitrine espanhola pelo futebol francês, que é campeão do mundo, mas cujo campeonato não tem visibilidade e relevo. À época, quase todos os analistas apontaram os muitos riscos embutidos na decisão. Por outro lado, com Neymar no time, o PSG alcançou as etapas decisivas da Liga dos Campeões da Europa.
Não conseguiu o título e, como estrela maior, o insucesso forçosamente respingou nele. O êxito na Champions é passaporte automático para brigar pelo troféu de melhor do mundo, do qual Neymar se distanciou com a patética exibição de tombos na Copa de 2018 na Rússia. Cancelado no mundo todo, via internet, o ex-santista teve que rebobinar a trajetória.
É compreensível que se empenhe tanto, afinal não há mais muito tempo para correr atrás do almejado cetro maior da Fifa. Para tanto, resta conduzir novamente o PSG à decisão europeia para vencer e comandar vitoriosamente o Brasil na Copa do Mundo do Catar ano que vem.
O esforço de recuperação de imagem e realinhamento de carreira, com direito a lágrimas depois do jogo com o Peru, talvez seja o caminho a ser seguido no terreno do possível. Neymar, no entanto, padece de solidão. Não tem na Seleção parceiros para dividir honras e responsabilidades, que garantam as condições necessárias para grandes conquistas.
A dura realidade é que, caso dependa exclusivamente dos esforços de Fred, Paquetá, Cebolinha, Everton Ribeiro, Gabriel Jesus, Casemiro e Gabigol, que devem compor a equipe titular no Mundial-2022, dificilmente terá chances de chegar a algum lugar. Basta observar jogos da Euro para perceber a evolução técnica e tática dos times do Velho Continente.
A questão é que no futebol, como na vida, não é possível ser feliz sozinho, como ensina o maestro Antônio Carlos Jobim. Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo e Kaká tiveram carreiras gloriosas e no apogeu nunca ficavam isolados em campo. Desfrutaram da colaboração prestimosa de grandes jogadores para chegar ao topo.
O entorno era sempre muito qualificado, repleto de jogadores acima da média, alguns mais jovens ajudando a fazer o time correr, os mais experientes descortinando espaços e criando manobras capazes de conduzir aos grandes resultados.
A safra foi tão boa nas décadas de 1990 e 2000 que todas as seleções e clubes sempre tinham um elenco excepcional de coadjuvantes e carregadores de piano a dar suporte aos grandes astros, coisa que inexiste hoje, principalmente na Seleção Brasileira.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro apresenta o programa a partir das 22h30, na RBATV, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, os jogos de times paraenses nas Séries B, C e D. A edição é de Lourdes Cézar.
Sinal dos tempos
O Liverpool anunciou na sexta-feira a contratação de um dos mais promissores jogadores do futebol africano: o meia-atacante Issahaku Abdul Fatawu, de 17 anos, ex-Steadfast FC, de Gana. O contrato inicial é de cinco anos.
Belchior estava certo, desde sempre: o novo sempre vem.
Seleção enterra a era dos grandes espetáculos
“Você não é ranheta, o seu comentário tem tudo a ver com o momento pelo qual passa o futebol brasileiro. Antigamente esperávamos uma partida da nossa Seleção com vontade, reuníamos parentes e amigos para festejarmos o espetáculo que iríamos assistir. Hoje, chega a ser enfadonho ver um jogo da Seleção, são passes laterais sem objetividade nenhuma, acho também que o comando técnico está ultrapassado. Ao contrário, vemos (com um misto de alegria e tristeza) as seleções europeias jogando ofensivamente, com passes longos objetivando as finalizações a gol. O que falastes não é ranhetismo, é a pura realidade".
Carlos Getúlio Gama (primeiro secretário do Condel/Remo) a propósito da coluna de sexta-feira
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