No balanço dos enganos
Há duas semanas, comentei aqui sobre a debandada de veteranos rumo ao Brasil, fenômeno típico de períodos pré-Copa do Mundo. É só pesquisar. Todos tentam, o que é absolutamente compreensível, emplacar uma derradeira boquinha no escrete canarinho. Alguns até desdenharam oportunidades quando mais jovens, mas o peso do tempo mexe com corações e mentes. Boleiro também tem sentimentos.
O problema está justamente na defasagem temporal. Antes, a maioria tinha plenas condições de brigar por uma vaga na Seleção. Hoje, dependem de extrema boa vontade, lobby e um grande clube (com torcidas influentes) por trás. Não por acaso, o retorno é direcionado maciçamente a times populares – Corinthians, Flamengo, São Paulo e Atlético-MG.
A atual onda começou há dois anos, quando o Flamengo trouxe uma penca de jogadores sem mercado na Europa. Rafinha, Filipe Luís, Diego Alves. Aqui, no campeonato meia-boca que temos, o sucesso foi imediato. O time virou campeão de tudo, mas as ilusões são passageiras.
O êxito por vezes cega o olhar crítico e embaça a vista do torcedor. Basta inverter perspectivas e notar que o ídolo rubro-negro Gabigol, jovem ainda, não encontra espaço na Europa. Bruno Henrique, um pouco mais rodado, também não desperta interesse. Arrascaeta não se consolida nem como titular da Celeste uruguaia. Gerson, médio de estrondoso sucesso aqui, não consegue jogar em alto nível na França.
Nada a opor em relação às explosões de alegria do torcedor com seus clubes no Brasil. Títulos devem ser comemorados, mas é bom cair na real, pois a festa é ilusória. Daniel Alves frustrou expectativas no S. Paulo e vai ter que ficar por aqui mesmo, esperando a Copa chegar. David Luiz, sem espaço na Premier League, encontrou abrigo no Flamengo.
O fato é que a maioria dos ex-craques não emplaca mais nem nos mercados alternativos, como China, Estados Unidos e mundo árabe. O Corinthians faz a xepa, com as aquisições de Renato Augusto, Willian e Giuliano. Daqui a pouco, traz Paulinho. Não demora muito, chega Fernandinho.
No Galo, Hulk e Diego Costa chegaram com salários nas alturas e desfrutando do mesmo cartaz que estrelas internacionais têm no país do faz-de-conta. Hulk, pelo menos, conseguiu recuperar um lugar na Seleção fazendo esquecer a imagem deixada na tenebrosa campanha na Copa 2014. David Luiz deve ter o mesmo objetivo.
De engano em engano, o futebol brasileiro vai vivendo no mundo da fantasia a pouco mais de um ano da Copa do Qatar. O cenário mostra o Palmeiras retranqueiro de Abel Ferreira na final da Libertadores, o Fortaleza frequentando o G4, Bragantino idem e o Corinthians incendiando a imprensa engajada com sua tropa sub-40.
Daqui a pouco, quando menos se esperar, é bem possível que o incensado técnico corintiano vire candidatíssimo ao lugar de Tite. Tem tudo para isso. Guardiola cover, Silvinho é combo de Luxemburgo/Hélio dos Anjos na vocação para achar sempre o enquadramento certo na transmissão da TV. E tome gestual para impressionar a massa.
A onerosa importância do melhor atacante do Leão
Não há o que discutir: Victor Andrade é o principal homem de frente no elenco do Remo e um dos mais destacados da Série B. Ocorre que também não há discussão sobre o seu pesado custo-benefício. Com a bola nos pés, buscando o gol em arrancadas verticais, ele é valioso e estrategicamente importante, mostrando nível de Série A nos melhores momentos.
O problema, para o Remo, é que Andrade joga bem menos do que poderia. Toma muitos cartões amarelos (5) e vermelhos (2). Depois de um início avassalador, contribuindo para a recuperação do time na competição, ele passou a ser mais notado pelas ausências.
Desde o golaço de sem-pulo diante do Cruzeiro, um dos mais bonitos da temporada, Andrade pouco apareceu dentro de campo. A expulsão bisonha contra o Avaí, quando já estava no banco de reservas, ligou o alerta no Baenão. O excesso de cartões bobos já chamava atenção. Piorou tudo com o cartão vermelho recebido diante do Sampaio.
Tantas falhas disciplinares com as consequentes suspensões obrigam o Remo a se virar sem ele e a depender cada vez mais de reservas diligentes, como Lucas Tocantins. Explicam também o motivo de um jogador tão habilidoso ter vindo parar na Série B.
Um gigante em apuros
Um prejuízo de 481 milhões de euros (R$ 3 bilhões) na última temporada sinaliza uma brutal inversão de expectativas no Barcelona. Todos contavam com um superávit de 1 milhão de euros (R$ 6,3 milhões). No balanço divulgado nesta semana, o clube catalão revela drástica queda nas receitas: de 855 milhões de euros (R$ 5,4 bilhões) para 631 milhões de euros (R$ 4 bi).
No outro extremo, as despesas foram as maiores de todos os tempos: 1,1 bilhão de euros (R$ 7 bilhões). Ninguém deixa tanto dinheiro evaporar assim sem explicar os motivos da lambança. E a justificativa veio na forma de ataque à gestão do ex-presidente Josep Maria Bartomeu.
Dirigentes revelam que no célebre tropeço financeiro envolvendo a aquisição do francês Griezmann o clube entrou com a cara e a coragem. Não havia dinheiro para bancar a transação, fato que levou o poderoso Barça a recorrer a uma empresa de factoring a fim de não passar vexame.
Como um reles timeco brasileiro, o Barça comprava no atacado sem ter condições de honrar a dívida. Foi assim com o brasileiro Coutinho, cujo preço extrapolou em 16 milhões de euros a projeção inicial.
Por todos os pontos de vista, caso fosse uma empresa de capital aberto, o Barcelona teria mergulhado em processo de falência. A prova definitiva de que a velha máxima de que quanto maior a árvore maior é o tombo.
Óbvio que o Barcelona irá recuperar forças, mas o esforço vai demandar retração nas contratações e aceitação de uma realidade mais modesta, fato estampado desde a saída de Lionel Messi.
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