Fernando Diniz surgiu como um sopro de novidade na mesmice reinante no universo dos técnicos brasileiros. Desde que despontou dirigindo o modesto Audax, em São Paulo, chamou atenção pelo esmero na construção de times que valorizam o passe e o jogo coletivo de qualidade. Passou pelo Atlético-PR, foi muito bem no São Paulo e tem realizado um bom trabalho no Fluminense, embora apresentando visível queda de rendimento.
O convite da CBF para ocupar interinamente o comando da Seleção Brasileira, sem precisar sair do Fluminense, chega em boa hora. Enquanto Carlo Ancelotti não vem, a confederação valoriza o histórico do treinador e abre uma janela para que ele coloque em prática no escrete o sistema de jogo que vem desenvolvendo desde o início da carreira.
Os detratores irão lembrar que seus times sempre foram muito elogiados pela performance, mas têm a estranha mania de não conquistar títulos. Quebrou essa escrita com o título estadual do Rio de Janeiro deste ano, atropelando com extrema competência o favorito Flamengo na final.
A dúvida que cerca o trabalho de Diniz é mais ou menos a que rondava Telê Santana no começo dos anos 80, guardadas as devidas proporções. Os idiotas da objetividade insistiam que Telê sabia montar times técnicos e de grande qualidade técnica, mas pouco competitivos.
Quando Telê perdeu as Copas de 1982 e 1986 esse discurso voltou à tona, embora sufocado pela aclamação mundial à Seleção que brilhou na Copa da Espanha. Até hoje, aquele time é saudado como um dos melhores de todos os tempos.
Diniz chega à Seleção bem mais jovem que Telê, mas, como o mestre mineiro, é teimoso e inflexível quanto à filosofia que defende. Pode ser um diferencial positivo, fazendo o escrete sair daquela planilha cartesiana e chata que Tite utilizou inutilmente em dois mundiais.
É inegável que Diniz tem totais condições de preparar adequadamente o terreno para a chegada de Ancelotti, prevista para junho do ano que vem. Pode inverter algumas expectativas, dar chance a jogadores que atuam no Brasil e são quase sempre preteridos nas convocações.
Paulo Henrique Ganso, por exemplo, tem chances de voltar a vestir a amarelinha? É um caso a pensar. Na última Copa, cheguei a comentar sobre a esperança vã de que o meia-armador paraense pudesse ser chamado na convocação final de Tite. Ledo engano.
O gaúcho tinha nomes carimbados. Preferiu levar Everton Ribeiro e Paquetá ao Qatar, ambos sem as características clássicas do camisa 10 que a Seleção tanto precisava.
É claro que Diniz terá um olhar mais generoso para atletas que jogam aqui, inclusive enfrentando o time dele. A velha polêmica sobre a dominação dos “estrangeiros” nas convocações pode ter outros desdobramentos a partir da entrada em cena do treinador do Fluminense.
Imagina-se que todo o trabalho a ser desenvolvido será em conexão direta com o pensamento de Ancelotti. O problema é se Diniz fizer um trabalho tão consistente, conciliando competitividade e pragmatismo, que faça a torcida defender sua permanência. Nesse caso, a saia justa ficará nas mãos da CBF – isto se Ancelotti estiver mesmo fechado com a Seleção.
Dupla Re-Pa: a rota do sonho ao pesadelo
Reinava uma forte expectativa quanto à participação de Remo e Paysandu na Série C deste ano. Os investimentos em contratações e técnicos de renome faziam crer numa campanha superior à do ano passado. Ficou só no sonho. O que era otimismo deu lugar à decepção. Os remistas capricharam no pacote de fracassos e desperdiçaram logo as quatro primeiras rodadas. Do lado bicolor, a frustração foi se construindo com o passar dos jogos.
Passadas 11 rodadas, a dupla está com a corda no pescoço, próxima do rebaixamento e distante da classificação. O PSC estacionou nos 12 pontos e ocupa a 16ª posição, a um ponto apenas do Floresta, o primeiro time do Z4. O Remo está apenas um ponto à frente e a dois da zona fatal.
Como a competição se mostra achatada e extremamente equilibrada, o Remo está a três pontos do G8 e o PSC a quatro pontos. O problema é que a curta distância na pontuação, que parece ao alcance dos dois, não serve de consolo. Os dois representantes paraenses ainda não se mostraram capazes de transpor essa diferença de três ou quatro pontos.
A essa altura, restando oito rodadas, os dois só chegam ao G8 caso vençam pelo menos seis jogos – o limite considerado aceitável para classificar é 30 pontos, podendo ser um pouco mais que isso ou menos, dependendo dos rumos da competição a partir de agora.
Os dois têm três jogos em casa, além do Re-Pa, e quatro fora. O Paysandu tem a caminhada teoricamente mais complicada, pois cumprirá dois jogos sem torcida e corre o sério risco de ser punido novamente. Além disso, na próxima rodada, jogará contra o Amazonas, líder do campeonato, em Manaus.
Ambos terão um jogo-chave para definir planos dentro da competição: o clássico do dia 17 de julho, com portões fechados, no Mangueirão. Em caso de empate, a dupla Re-Pa verá suas chances (já precárias) minguarem ainda mais. Se houver um vencedor, este ganhará impulso para tentar uma arrancada final, mas o derrotado ficará em situação desesperadora, além de conviver com a crise que certamente se instalará.
Em meio a tudo isso, as poucas chances de Remo e Paysandu dependem do rendimento de jogadores importantes, mas que não têm sido capazes de contribuir à altura. Mário Sérgio, goleador do Papão, passou a ser escalado para jogar pelos lados, longe de sua faixa natural de atuação. Pablo Roberto, o mais criativo jogador azulino, convive com altos e baixos, além de gestos de indisciplina que o tornam pouco confiável aos olhos da torcida e do treinador.
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