Quando a configuração territorial de Belém ainda se resumia à fortificação construída pelos colonizadores portugueses às margens da Baía do Guajará, o caminho que viria a se tornar a primeira rua da nova cidade foi aberto. Paralelo ao rio, o caminho ligava o Forte do Presépio à região onde hoje se encontra a Igreja do Carmo. À época batizada como Rua do Norte, hoje a primeira rua de Belém tem o nome de Rua Siqueira Mendes.
Asfaltada e marcada pela intensa movimentação de veículos e passageiros que embarcam e desembarcam nos portos, a atual Siqueira Mendes em pouco se assemelha com a antiga Rua do Norte, no momento de sua formação. Sem praticamente nenhuma construção ao redor além do próprio forte, a primeira rua da cidade foi criada para atender à necessidade de comunicação entre a fortificação e a residência do comandante militar chamado Bento Maciel Parente.
O historiador e professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Amilson Pinheiro, explica que Bento Maciel Parente foi um dos primeiros comandantes militares do Forte do Presépio e, por algumas questões internas, resolveu não residir dentro do Forte, construindo uma residência própria.
“Ele resolveu construir uma casa afastada e que ficava exatamente onde, hoje, é a Igreja do Carmo. Então, ao construir essa casa, ele mantém uma relação com o Forte e esse caminho do Forte para a casa do Bento Maciel Parente gera a primeira rua de Belém”, explica. “A partir dessa primeira rua se inicia o processo de expansão da cidade. A partir dela vai surgir a rua do Espírito Santo, que é a segunda, a Rua dos Cavaleiros e a Rua de São João”.
O professor lembra que existe um imaginário popular na cidade de Belém que acredita que a primeira rua de Belém foi a chamada Rua da Ladeira, que segue ao lado do Forte do Presépio e liga a região da Praça Frei Caetano Brandão à Feira do Açaí, mas não é. “A Ladeira é um complemento, faz parte daquela estrutura do Forte. A primeira rua, mesmo, é a Rua do Norte, que muito depois vai ganhar o nome de Siqueira Mendes”.
CÔNEGO
Nascido em Cametá, Siqueira Mendes foi um cônego e político conservador do Pará que viveu no século XIX e construiu uma vida política ativa na capital do Estado, Belém. O político veio a falecer ainda no final do século XIX e, depois disso, vai se dar o nome da rua do Norte, dessa primeira rua, em homenagem a Siqueira Mendes. “Então, desde o final do século XIX e início do XX a rua tem esse nome, Siqueira Mendes”, aponta
Apesar da manutenção do nome por tanto tempo, hoje a rua detém uma configuração bastante diferente da observada séculos atrás. Ao longo do seu percurso já quase não são vistas residências. A grande maioria das construções é ocupada por comércios – muitos voltados para a venda de produtos náuticos e peças de embarcações -, portos hidroviários e casas de shows. Ainda assim, os resquícios do passado ainda são marcados pela presença de alguns casarões históricos, uns preservados e restaurados e outros nem tanto.
Já na altura da Praça do Carmo, a família da agente de turismo Cristina Ferreira, 54 anos, mantém um bar na rua Siqueira Mendes há mais de 40 anos. Ali, além das histórias dos frequentadores, a própria história da rua é lembrada. “As pessoas sempre perguntam se essa foi realmente a primeira rua de Belém. Tem muita gente que, realmente, não sabe dessa memória da Siqueira Mendes”, considera. “Para a gente é gratificante saber que moramos em uma rua que faz parte da história do nascimento de Belém”.
SIQUEIRA MENDES
Primeira rua aberta em Belém, ainda no século XVII, a rua presta homenagem ao cônego Manuel José de Siqueira Mendes, chefe do Partido Conservador, no Pará. Foi presidente eventual da Província por três vezes ao longo do período entre setembro de 1868 e janeiro de 1871. Destacou-se como um político de grande prestígio no Pará. Nasceu em Cametá em 6 de setembro de 1825 e faleceu em 5 de maio de 1892. Após sua morte, seu nome foi dado à antiga Rua do Norte.
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