Ainda no período colonial, a área que hoje compreende a movimentada avenida Magalhães Barata ainda era considerada uma área distante de Belém. Com a ocupação da cidade ainda bastante concentrada nos bairros da Cidade Velha e Campina, a estrada distante cerca de 3 a 4 km deste centro era ocupada por chácaras construídas pela elite de Belém à época. Depois de passar por inúmeras transformações ao longo dos séculos, a larga avenida ainda guarda alguns indícios do histórico de desenvolvimento ocorrido no local.
A professora da Faculdade de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenadora do Projeto Roteiros Geo-turísticos da UFPA, Maria Goretti Tavares, explica que, ainda no período do Império, a avenida Nazaré era a estrada que seguia do centro de Belém até a ermida construída para abrigar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que teria sido encontrada por Plácido na região onde hoje está a Basílica Santuário de Nazaré.
Com o passar do tempo, porém, essa estrada se estenderia para uma área que seria uma estrada para o Utinga. Essa área de expansão é justamente a continuidade da antiga Estrada de Nazaré, que hoje é a Magalhães Barata. “Seria uma rua de saída da cidade”, aponta. “Nos séculos XVIII e XIX existiam chácaras nessa região. Como era uma área longe do centro, cerca de 3 km a 4 km, o que naquele período era muito longe, então era onde se construíam chácaras”.
Um exemplo das construções que eram vistas na estrada naquele período é a chamada Rocinha que se encontra dentro do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, que hoje abriga o pavilhão expositivo da instituição. Ainda no século XIX, essas casas rurais que eram típicas da época eram usadas por famílias que iam passar as férias ou os verões nessa área mais distante da cidade.
“Aquela região era uma área rural. Estamos falando dos séculos XVIII e XIX”, explica Maria Goretti. “Já no início do século XX é que começa esse processo de urbanização, a implantação das mangueiras, a linha do bonde que passava pela avenida Nazaré e também pela Magalhães Barata, a partir desse momento, então, famílias mais endinheiradas com a economia da borracha começam a construir sobrados, casas, que são os casarões dos barões da borracha que a gente ainda tem alguns exemplares”.
É justamente em meados do século XX que essa extensão da antiga Estrada de Nazaré ganha a denominação atual. “A avenida Nazaré segue até a Basílica e, já em meados do século XX, nós vamos ter a denominação daquela outra parte, que vai da Basílica até o Mercado de São Brás, como avenida Magalhães Barata, em homenagem ao governador”, aponta a professora. “Até porque, a Casa dos Governadores ficava ali também, onde é hoje o Parque da Residência. Magalhães Barata morou lá e vários outros governadores até que se fizesse o projeto do Parque da Residência”.
TRANSFORMAÇÃO
Outra transformação pontuada pela professora é a ocorrida a partir da década de 70 com o processo de verticalização que toma tanto a avenida Nazaré, quanto a avenida Magalhães Barata. Ao longo dos anos, as transformações vivenciadas na cidade e, consequentemente, na avenida permitiram que hoje ainda seja possível encontrar casarões e comércios antigos, em meio aos prédios mais modernos que passaram a compor, também, o cenário da via.
“A partir da década de 70 Belém passa a ter um processo de implantação de muitos prédios. No caso da Magalhães Barata, ela já vai ter a característica dos prédios mais novos, mais modernos a partir da década de 90 para cá”, aponta Maria Goretti Tavares, ao destacar outras referências importantes da avenida. “Na Magalhães Barata está localizado o Museu Emílio Goeldi, que é um dos museus mais antigos do Brasil, tem também casas comerciais antigas que foram importantes, como a Casa Salomão, que permanece lá até hoje e ainda mantém aquela característica de casa que vende de tudo, tem as mangueiras”.
A presença das mangueiras, sobretudo no trecho onde está localizado o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, é a principal referência da avenida Magalhães Barata para o aposentado Neucir Moraes, 79 anos. Apesar de morar no município de Marituba, ele não esconde o encantamento pela avenida Magalhães Barata, em Belém. “É uma das avenidas mais bonitas de Belém, onde fica o Museu que também é muito importante e onde tem muitas mangueiras. Então é um lugar muito bom de andar, muito bonito”.
Já no caso da autônoma Maria Auxiliadora, 58 anos, a avenida é local de trabalho. Há 10 anos ela trabalha com a venda de lanches na Magalhães Barata e conta que já se sente em casa no local. “Eu comecei primeiro como funcionária e há seis anos eu comprei o carro de lanches e regularizei. Eu gosto muito daqui, conheço quase todo mundo aqui dessa região, que trabalha e estuda por aqui”, conta. “Quando eu peguei Covid-19, fiquei afastada do trabalho, em casa, e não via a hora de voltar para cá. É daqui que eu tiro o meu sustento, então, eu gosto muito dessa avenida”.
Saiba mais
- MUSEU GOELDI
O Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi é uma das grandes referências da avenida Magalhães Barata. Mais antigo do gênero no Brasil, o Parque foi fundado em 1895 e abriga uma construção histórica que é típica das primeiras ocupações da estrada que deu origem à avenida Magalhães Barata, as chamadas Rocinhas. O prédio histórico data de 1879 e é o único exemplar característico das casas rurais típicas do século XIX, de Belém, aberto à visitação pública.
- PARQUE DA RESIDÊNCIA
Instalado na avenida Magalhães Barata, o Parque da Residência abriga o casarão que foi utilizado, durante muito tempo, como residência oficial dos governadores do Pará. O governador Magalhães Barata, que dá nome à avenida, chegou a morar no local, dentre outros.
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