Baku, 22 de novembro de 2024 – O setor segurador é parte fundamental no processo de adaptação da sociedade às mudanças climáticas e na transição para um futuro mais sustentável. Durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), em Baku, Azerbaijão, Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destacou o potencial dos produtos de seguros para mitigar os riscos intensificados pelo aumento de eventos climáticos extremos. Este foi o segundo ano consecutivo em que a CNseg representou o setor na Conferência do Clima.
Em 2023, as perdas globais por eventos climáticos foram de mais de US$ 300 bilhões. O setor de seguros no mundo respondeu por 35% das indenizações pelos danos causados por eventos climáticos. Para Oliveira, “essa contribuição pode ser ainda maior se houver compreensão dos organismos multilaterais e governos locais sobre a importância dos seguros”. A CNseg, com o apoio das seguradoras associadas, tem articulado uma série de iniciativas com o setor produtivo, governos federal e locais sobre como os produtos de seguros são capazes de atuar na mitigação dos riscos. “Precisamos que as partes no debate da COP também entendam isso”.
A participação da CNseg na COP29, de acordo com o executivo, também faz parte da estratégia de mostrar à sociedade a real importância do mercado segurador neste debate que é urgente. “Desta vez participamos da coalizão brasileira em Baku, ao lado da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de outros organismos internacionais e governo para mostrar que o nosso setor é uma parte da solução dos problemas para enfrentar a transição climática, os riscos climáticos e da necessidade de adaptação da sociedade a esta nova realidade. É também um preparativo para a COP30, que será em Belém, Pará, e que teremos uma grande participação cheia de novidades”, afirmou.
A preparação para a próxima Conferência foi discutida pela CNseg e pela CNI no painel “O papel do setor de seguros na transição climática: de Baku a Belém”. Além disso, a CNseg promoveu debates com atores públicos e privados na busca de soluções para a crise climática, discutindo iniciativas como o Seguro Social de Catástrofe, o uso de produtos de seguro para ampliar a resiliência da infraestrutura, o aumento de seguros inclusivos e do rural.
Durante a COP29, a CNseg foi anunciada formalmente como a primeira entidade a aderir ao Fórum para a Transição do Seguro para Emissões Zero das Nações Unidas (FIT), reforçando seu compromisso com as metas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI). Segundo Dyogo Oliveira, a aliança com a UNEP FI é um importante passo para intercâmbios técnicos com outras organizações mundiais que venham a aderir ao FIT em busca de soluções globais para mitigação e adaptação. “Acredito no potencial do setor de seguros como um meio disponível e eficaz na implementação de estratégias para transição climática”.
A Confederação Nacional das Seguradoras é parceira de longa data do PNUMA, desde o lançamento dos Princípios da ONU para Seguros Sustentáveis (PSI) durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012. Para Butch Bacani, líder dos PSI, ao ser a primeira entidade de seguros que aderiu ao FIT, a CNseg demonstra a liderança que possui no setor. “Esperamos que isso imediatamente propague boas práticas sobre a transição para o NET Zero (compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera) para as seguradoras brasileiras, especialmente porque o trabalho do Fórum no Net Zero também incorpora componentes muito importantes para o Brasil”.
Bacani acredita que a adaptação e a resiliência são essenciais para a agenda climática, assim como uma transição socialmente justa, soluções baseadas na natureza, conservação e proteção da biodiversidade, redução e prevenção da poluição. “Todas essas práticas emergentes sobre questões de sustentabilidade relacionadas ao clima fazem parte do FIT, e os seguros brasileiros se beneficiarão do trabalho do Fórum nessas áreas. Também criamos um centro de conhecimento FIT, onde continuamente capacitaremos organizações, incluindo empresas brasileiras, sobre as boas práticas da adaptação e seguros para o NET Zero”.
Infraestrutura urbana sob uma nova perspectiva
Com expertise em gestão de riscos e análise de dados, o setor de seguros contribui para a construção da resiliência e para a justiça climática. No Pará, assim como em outras partes da Amazônia, secas extremas afetaram mais de 150 mil pessoas, enquanto o Sul do Brasil enfrenta chuvas intensas ou momentos de seca que prejudicam a população e as lavouras. No Rio Grande do Sul, as chuvas deste ano causaram prejuízos de cerca de R$ 100 bilhões, dos quais menos de 10% estavam segurados. Até outubro deste ano, de acordo com levantamento da CNseg, as indenizações relacionadas às chuvas no estado somaram R$ 6 bilhões.
Os eventos climáticos afetam significativamente a infraestrutura urbana e a economia nacional. No painel “Nova Infraestrutura Verde e Adaptação: Enfrentamento de grandes riscos no setor de transportes”, promovido pela Confederação Nacional do Transporte, Oliveira observou que essa nova prioridade permite que obras futuras sejam planejadas para enfrentar riscos climáticos, e até mesmo concessões antigas estão sendo revisadas para incluir adaptações para o clima, como seguros de obra, engenharia, performance e garantias variadas.
Setores segurador, financeiro e produtivo e o compromisso para aumentar resiliência com crise climática
Durante a Conferência do Clima, a Confederação Nacional das Seguradoras, a Confederação Nacional da Indústria e a Federação de Bancos (Febraban) se uniram para debater as contribuições do setor privado nas finanças sustentáveis para impulsionar a superação dos desafios socioambientais do país e os compromissos frente à crise climática.
Executivos das três entidades apresentaram respostas para impulsionar iniciativas que promovem o desenvolvimento econômico em conjunto com a conservação ambiental e o bem-estar social da população, reforçando a relevância da integração entre setor produtivo, financeiro e governo.
A diretora de Sustentabilidade da CNseg, Cristina Barros, aproveitou o momento para reforçar que o setor segurador tem capacidade de atuar como um investidor e participante fundamental na agenda do mercado de carbono e da transição climática em prol da adaptação e resiliência. “Globalmente, um terço das perdas por desastres climáticos é coberto por seguro, mas que este setor não é visto pela Convenção do Clima. E o que temos dito aos membros dessa Convenção via Brasil é que considerem o seguro para responder a emergência climática ao qual país está exposto. Nesse instrumento da adaptação, temos um caminho a traçar, que começa aqui na COP e tem desdobramento em casa, de construção de pontes que a CNseg começa a sinalizar para governo, diversos ministérios e várias outras entidades”, disse Cristina.
O setor financeiro, representado pela Febraban, tem participado dessa agenda socioambiental desde 2008 incluindo taxonomia verde desde 2015. Agora a tarefa tem sido de engajar os clientes para a agenda de taxonomia para que se tornem carbono zero. Já a CNI, que representa cerca de 9 mil estabelecimentos e, ao lado da indústria, tem uma estratégia muito bem definida para transformar as vantagens comparativas do Brasil em vantagens competitivas. A estratégia é baseada na implementação de diversas ações em transição energética, economia circular, mercado de carbono e bioeconomia e conservação florestal.
Fomento à frota elétrica e compromissos globais
Os fenômenos climáticos que afetam o Brasil também se manifestam em países como Estados Unidos, México e Japão, o que demonstra que tragédias climáticas não escolhem economias. Este ano, a COP29, chamada de “COP do financiamento”, teve como objetivo principal definir novas metas de financiamento climático, que orientarão compromissos nacionais até a COP30.
Visando a próxima Conferência, a CNseg e o Atlantic Council anunciaram uma parceria estratégica para conscientização da importância do setor segurador para implementar medidas para adaptação às mudanças climáticas. A parceria prevê, além da identificação de atores e plataformas regionais e globais relevantes para diálogo, a atuação do think tank norte-americano junto a atores regionais e globais na preparação para o G20 e a COP30, a organização de agendas com atores-chave que sejam de interesse do setor de seguros no Brasil e a criação de inteligência.
O setor segurador participou também de um importante debate com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores e a Confederação Nacional dos Transportes sobre os desafios com a expansão da frota de veículos elétricos e híbridos no Brasil. Dyogo afirmou que o setor segurador acompanha esta evolução do mercado e vem avaliando a “novidade”.
“O carro elétrico tem diferenças significativas do ponto de vista do seguro. É preciso entender, por exemplo, que se está lidando com um mercado em que o valor das peças de reposição é elevado na comparação com os veículos com motor a combustão. Além disso, muitas das peças são menos acessíveis e, muitas vezes, precisam ser importadas, o que resulta em prazos de reparo mais longos e maior custo operacional”, avalia Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
As Conferências das Partes (COPs) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) ocorrem anualmente desde 1995, promovendo ações globais para enfrentar o aquecimento global. Compromissos como o Protocolo de Quioto (1997-2020) e o Acordo de Paris (vigente desde 2016) são alguns dos resultados dessas conferências.
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