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MARIGHELLA

Sessão  tem choro, aplausos e ensaio de 'fora, Bolsonaro'

Dirigido por Wagner Moura, o filme traz no elenco Seu Jorge, que dá vida a Carlos Marighella, poeta, militante comunista, político e fundador do grupo guerrilheiro radical Ação Libertadora Nacional (ALN)

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Imagem ilustrativa da notícia Sessão  tem choro, aplausos e ensaio de 'fora, Bolsonaro' camera Reprodução

Praticamente um ano depois da data prevista para o lançamento oficial no Brasil, o longa "Marighella" teve a primeira exibição pública no país na quinta (19), em Salvador (BA).

A exibição abre a série de sessões especiais na capital baiana, até dia 25, na Semana da Consciência Negra. A estreia oficial está marcada para 14 de abril de 2021.

O local escolhido para as sessões foi o Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, no centro histórico de Salvador, em frente à praça que leva o nome e uma estátua do "poeta dos escravos", Castro Alves, a menos de 1 km do antigo endereço de Marighella, a rua Barão do Desterro, na Baixa dos Sapateiros.

Dirigido pelo baiano Wagner Moura, o filme traz no elenco Seu Jorge, que dá vida ao também baiano Carlos Marighella, poeta, militante comunista, político e fundador do grupo guerrilheiro radical Ação Libertadora Nacional (ALN), assassinado em 1969 por policiais a serviço da ditadura militar.

Inspirado na biografia "Marighella: o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", escrita pelo jornalista Mário Magalhães, a obra retrata os últimos cinco anos de vida do filho mais velho do operário italiano Augusto Marighella com a negra baiana Maria Rita do Nascimento, filha de sudaneses muçulmanos escravizados.

A trama é focada na relação do personagem com o filho Carlinhos, enquanto é perseguido pelo impiedoso policial interpretado por Bruno Gagliasso, no papel do delegado Sérgio Paranhos Fleury, à frente do cerco que resultou na morte do guerrilheiro urbano em 4 de novembro de 1969.

O público assistiu atentamente a primeira sessão, que começou as 16h30, com 155 minutos de duração.

Ao final do filme, a película foi aplaudida e houve até que ensaiasse um tímido "fora, Bolsonaro".

"Chorei muito, por ver que pouca coisa mudou em termos de justiça social e do comportamento da polícia", observou a estudante Catarina.

Eleita vereadora por Salvador no último domingo, a atriz Maria Marighella, 44 anos, neta do comunista saiu direto da Câmara Municipal, onde participava de uma reunião, para ver o filme no qual faz uma participação no papel da avó dela. Maria já havia assistido ao longa no ano passado, em Berlim.

"A despeito de tudo que aconteceu, desde a produção até a conclusão do filme, acho incrível que estejamos aqui, nesse contexto inimaginável de pandemia, às vésperas do Dia da Consciência Negra", disse.

"É algo típico do mito Marighella, que aparecia onde menos se esperava e, 50 anos depois de sua morte, ainda inspira diversas emoções no imaginário brasileiro", concluiu.

O casal aposentado Ivan , 84 anos, e Olívia Braga, 77, foi acompanhado da filha, a economista Luiza Saavedra, 48.

Moradora do bairro de Piatã, a 15 km do cinema, a família chegou com quase uma hora de antecedência para não perder a sessão recheada de expectativa, disse o patriarca.

"Para mim, Marighella é o baiano mais ilustre, por toda sua história de vida", disse o aposentado. "Não o conheci em vida, mas parte da sua família, sim. Desde que estavam rodando o filme, temos acompanhado todas as polêmicas em torno do lançamento da película", relembrou.

O idoso se refere ao adiamento do lançamento original da película nos cinemas brasileiros, previsto para 20 de novembro do ano passado, mas que não ocorreu por não ter conseguido cumprir os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional de Cinema) para o ressarcimento de verbas que já tinham sido usadas na produção do longa.

O casal de estudantes Neilson Sousa, 23 anos, e Catarina Matos, 21, soube na quarta (18) que o filme seria exibido na capital baiana e correu para a internet para garantir o ingresso.

Até a início da sessão, pouco mais de 40 ingressos havia sido vendido para a sala com 148 lugares, mas com a capacidade reduzida pela metade por causa da pandemia.

"A representatividade do homem negro como protagonista da história e do filme foram as principais motivações que me trouxeram para a sessão", disse o rapaz.

"Somado a isso, tem a importância de relembrar um capítulo sombrio da história do Brasil e a valorização da produção cinematográfica nacional", acrescentou a estudante.

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