O filme “Space Jam: Um novo legado”, programado para estrear em julho, sofreu uma baixa no elenco. O gambá Pepe Le Pew não vai mais aparecer na continuação de Space Jam: O jogo do século, de 1996 e protagonizado pelo astro da NBA Michael Jordan. A nova produção traz a estrela do basquete LeBron James, que também é produtor do longa.

Segundo o site “Deadline”, uma cena do filme, rodada em 2019, foi cortada onde o gambá aparece como barman. Ele, que é conhecido por ser galanteador, começa a paquerar uma cliente, a atriz brasileira Greice Santo (“Jane the virgin”), e começa a beijar o braço da moça. Ela, irritada, dá um tapa em Pepe, que é socorrido por LeBron e Pernalonga.

A cena foi comandada por Terence Nance, primeiro diretor do “Um novo legado”. Terence deixou o posto em 2019. Quem assumiu o lugar foi Malcom D. Lee, que teria cortado a sequência com Pepe Le Pew após assumir a direção. Porém, a notícia sobre a “demissão” do personagem só veio no último final de semana.

Um porta-voz da atriz Greice Santo entrou em contato com o Deadline e disse que ela lamenta a decisão de cortar a cena. Ela já foi vítima de assédio e comanda a ONG Glam with Greice, que visa capacitar vítimas de violência doméstica. A assessoria disse que Greice se sentia orgulhosa por ter a oportunidade de “castigar” o gambá.

CULTURA DE ESTUPRO

Pepe Le Pew foi idealizado por Chuck Jones em 1930 e visto em uma animação pela primeira vez em 1945. Ele é uma figura do universo de Looney Tunes, criado pela Warner. Por coincidência, seu nome virou alvo de muita polêmica nos últimos dias após um artigo do New York Times publicado por Charles M. Blow.

O colunista problematiza diversos personagens de animação e afirma que o gambá “normaliza a cultura de estupro”. Além disso, Blow também diz que o racismo é presente no imaginário infantil. O jornalista usa como exemplo Ligeirinho (Warner), que reforça o estereótipo sobre os mexicanos e a empregada de Tom & Jerry (Hanna Barbera), que é negra e aparece na tela apenas com as pernas à mostra, além de uma dublagem caricata.

No Twitter, Blow reforçou as críticas contra Pepe Le Pew após ter sido atacado por blogs de direita, segundo ele. “Eles estão loucos porque eu disse que Pepe Le Pew acrescentou à cultura do estupro. Vamos ver. Ele agarra/beija uma garota desconhecida repetidamente, sem consentimento, contra sua vontade. Ela luta fortemente para se afastar dele, mas ele não a solta. Ele tranca uma porta para impedi-la de escapar”, postou o colunista.

“Isso ajudou a ensinar aos meninos que ‘não’ não significava realmente não, que era parte do ‘jogo’, a linha de partida de uma luta pelo poder. Ensinou que superar as objeções rígidas e até físicas de uma mulher era normal, adorável, engraçado. Eles nem mesmo deram à mulher a habilidade de falar”, continua Blow.

REVISÃO HISTÓRICA

Ao lançar a Disney + nos Estados Unidos, o estúdio decidiu adotar um alerta exibido antes de alguns de seus clássicos.

“Este programa é apresentado como originalmente criado. Pode conter representações culturais desatualizadas”, diz o aviso que antecede filmes como "Peter Pan" (1953), "A Dama e o Vagabundo" (1955), "Fantasia" (1940), "Mogli, o Menino Lobo" (1967) e "Dumbo" (1941), além de curtas do Mickey Mouse produzidos entre as décadas de 1920 e 1940. Todos são clássicos do cinema norte-americano e possuem elementos racistas ou estereotipados.

Foto: Reprodução

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