Dentro dos filmes de Wes Anderson, tudo é muito colorido, leve e despretensioso. Na vida real, no entanto, sua cinematografia parece estar justamente perdendo esse tom, dando espaço a uma paródia de si mesmo. É a sensação que "Asteroid City", que compete pela Palma de Ouro no Festival de Cannes, passa.
O longa vem na sequência de "A Crônica Francesa", que também esteve na seleção principal do evento, há dois anos, e assim como ele é picotado em diversos atos. Lá, o filme foi dividido como as seções de uma revista. Aqui, como uma peça de teatro.
Seus elencos, sempre homéricos, também têm ficado maiores com o passar do tempo. Em "Asteroid City" são tantos os nomes de peso, num filme de menos de duas horas, que a sensação que o público tem é de que muitos atores foram subutilizados como coadjuvantes de luxo.
Isso é especialmente frustrante com os nomes que, pela primeira vez, aparecem na filmografia de Anderson, como Tom Hanks, Margot Robbie, Scarlett Johansson e Steve Carell -este dono de um humor que certamente tinha mais a acrescentar à trama. Seus atores-fetiche de sempre, por outro lado, continuam em cena. É o caso de Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Edward Norton e Adrien Brody.
"Asteroid City" é ambientada numa cidadezinha desértica dos Estados Unidos nos anos 1950. Um pai em viagem com as três filhas pequenas e o filho adolescente, depois da morte da mulher, fica preso por ali depois que seu carro quebra. Ele pede ao avô das crianças que as busque, mas, ele também, não consegue deixar a área, que é isolada após uma aparição alienígena.
É nesse microcosmo de figuras diversas presas no mesmo lugar que a trama se passa. Mas é difícil resumi-la porque, como em "Crônica Francesa", não há um fio condutor muito claro. São os encontros e desencontros que preenchem o roteiro, sendo possível sentir a falta de aderência daqueles personagens, que ficam no artificial.
Artificiais, também, são as formações rochosas alaranjadas no fundo do cenário, embora neste caso o adjetivo seja uma coisa boa. Visualmente, "Asteroid City" se distancia do tom melancólico de "Crônica Francesa" e da paleta de confeitaria de "O Grande Hotel Budapeste" em direção a cores mais quentes.
Mais uma vez, é divertido descobrir os pedacinhos de excentricidade espalhados pela maquete que é a tal Cidade Asteróide do título. Trilha sonora e figurinos são trabalhados à perfeição, tornando este um filme inseparável do resto da obra de Anderson. As cenas sobre os alienígenas são especialmente interessantes, já que apresentam uma ficção científica pouco explorada pelo diretor.
Reside aí o que há de mais diferente em "Asteroid City". Anderson construiu para si uma das carreiras mais originais e particulares do cinema americano recente, o que é ótimo. O longa, porém, sofre justamente por reciclar a fórmula num piloto automático, dando pouca vazão a qualquer ideia fora da zona de conforto e deixando seu humor truncado.
É como se Anderson pregasse para convertidos, o que já fez no último trabalho e, esperamos, não repita em "A Maravilhosa História de Henry Sugar", que ele agora desenvolve.
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