Em Belém do Pará, o ano inicia com uma comemoração: o aniversário da cidade no dia 12 de janeiro. Em 2024, o GEDAI-CNPq, Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas, liderado pela Profa. Dra. Ivânia dos Santos Neves, reservou para este dia o lançamento de um documentário que vai contribuir com perspectivas plurais sobre a formação da capital paraense, especialmente sob a perspectiva da pluralidade étnica.
“EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém” será lançado no dia 12 de janeiro, às 18h, no Curral Cultural Boi Marronzinho, na Terra Firme. O documentário dirigido por Ivânia Neves, Camille Nascimento e Letícia de Sousa, é um dos produtos do projeto “Etnicidades Afro-Amazônicas, Danças, Narrativas e Identidades na Terra Firme”, financiado por Emenda Parlamentar proposta pela deputada federal Vivi Reis e pela Capes.
O objetivo deste audiovisual é apresentar o bairro da Terra Firme e suas memórias ancestrais, a partir da experiência de sujeitas e sujeitos que vivem o bairro, e compreender a sua formação, seus problemas sociais e sua dinâmica dentro da capital paraense.
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O documentário reuniu uma série de depoimentos de pesquisadores, professores, artistas e moradores para falar sobre diferentes aspectos da Terra Firme, entre eles Lília Melo, Aiala Colares, Joelcio Santos e Shaira Mana Josy.
Dividido em 04 blocos, o primeiro explica a definição de etniCidade e como as ancestralidades indígenas e africanas são apagadas da história do bairro. Integra este primeiro bloco um videoarte, fruto do registro de uma oficina ministrada a crianças da Terra Firme, pela rapper e produtora cultural Shaira Mana Josy. A oficina teve como proposta inserir as crianças na formação histórica e cultural do bairro, enaltecendo a ancestralidade africana e indígena. “Um canto a Maíra” apresenta as crianças falando sobre o território Mairi, a área que conhecemos como Belém, que um dia foi território de sociedades indígenas.
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No segundo bloco, o tema é a história do bairro, como ele foi se formando, seus problemas estruturais. O terceiro é dedicado ao Rio Tucunduba, a origem indígena do rio, a história de como ele foi, aos poucos, transformado e poluído e como, ainda hoje, faz sentido na vida dos moradores do bairro. No último bloco, as discussões giram em torno das periferias Pan-Amazônica e da relação das periferias com as universidades brasileiras. Allan Carvalho, bolsista do projeto, compôs a trilha sonora do documentário, com duas canções que retratam a realidade do bairro da Terra Firme e uma especial para a origem indígena do Rio Tucunduba. A música e as letras estão completamente integradas ao documentário “EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém”.
Para Camille Nascimento, o documentário, ao tratar da Terra Firme, expande o seu local de fala para outros bairros não apenas de Belém, mas da Pan-Amazônia.
“Para este documentário tivemos um importante contato com sujeitas e sujeitos da Terra Firme, que compartilharam conosco suas memórias e suas questões afetivas com diferentes elementos do bairro, como o Rio Tucunduba, ruas consideradas fundamentais neste local, espaços culturais, entre outros. Trouxemos para o documentário este registro plural, feito por diversos olhares e vozes que compõem o bairro, e que fazem referência também a todas as periferias pan-amazônicas”, explica.
O pesquisador Aiala Colares, um dos entrevistados do documentário, destaca a importância de compreender a formação do bairro, relacionada à migração de comunidades quilombolas e a luta pelo direito à moradia. “É impossível falar sobre a história da Terra Firme, sem nós falarmos da história da migração de quilombolas de várias regiões do Pará e do Maranhão. Então, para mim a Terra Firme é um quilombo urbano que conta a história de um povo que resiste durante muito tempo dentro da cidade, da periferia. O bairro tem uma origem relacionada ao movimento social, é o movimento de luta pelo direito à cidade e pelo direito à moradia que constrói esse bairro. E nós sabemos que grande parte da população que sofre com o déficit habitacional são pessoas negras e de origem indígena, que é um grupo populacional bem característico da cidade de Belém”.
Sobre o projeto “Etnicidades Afro-Amazônicas, Danças, Narrativas e Identidades na Terra Firme”
O projeto já desenvolveu uma série de oficinas e pesquisas acadêmicas sobre etniCidades Amazônicas, com o objetivo de mostrar a formação étnica da cidade de Belém e de outras cidades da Amazônia. Para a coordenadora Ivânia Neves, a realização desse projeto de extensão representou uma experiência significativa de interação com a sociedade, num bairro de periferia da cidade de Belém, onde o Índice de Desenvolvimento Humano apresenta saldos negativos. “Os resultados das oficinas reforçaram os diagnósticos de nossas pesquisas, no sentido que revelam o silenciamento das ancestralidades indígenas e africanas entre os moradores de Belém. Mas, para além desses diagnósticos, a realização das oficinas e a produção do videoarte e do documentário representaram um momento de intervenção nessa realidade. Num processo dialógico, em que a universidade também aprendeu bastante com a comunidade, pudemos, junto com sujeitas e sujeitos da Terra Firme, remexer as ancestralidades da cidade. E, certamente, depois dessas ações, tantos os diretamente envolvidos, como as pessoas que venham a assistir às produções desse projeto, vão repensar a constituição do bairro da Terra Firme, e por extensão, da cidade de Belém”, explica.
Assista ao trailer do documentário:
Serviço:
Lançamento do Documentário “EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém”
Data: 12 de janeiro de 2024, às 18h.
Local: Curral Cultural Boi Marronzinho. Endereço: Passagem Brasília, 170. Terra Firme.
Texto: Camille Nascimento
Imagens: Divulgação
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