Lançado em setembro passado, o documentário “A Gente”, encerra a chamada “Trilogia do Cárcere” realizada pelo diretor baiano Aly Muritiba. O filme, que mostra a realidade de um grupo de agentes penitenciários em um presídio superlotado no Paraná, será exibido em sessão única nesta quinta, pelo Cineclube Alexandrino Moreira, na Casa das Artes. A entrada é franca.

“A Gente” parte da experiência do próprio Muritiba, que foi agente penitenciário durante sete anos, trabalho em que ingressou depois de recém-formado em História, pela USP, ao prestar concurso público como forma de garantir um emprego. “Entrei ali com todos os preconceitos que se tem em relação a esta profissão. Achava que batiam, torturavam, roubavam. Mas encontrei caras que, como eu, eram jovens, tinham formação acadêmica e, por falta de oportunidade, viraram agentes penitenciários”, contou o diretor à repórter Fernanda Mena, da Folhapress.

Durante o trabalho na prisão, Muritiba integrava uma equipe de 28 pessoas que faziam a guarda e custódia de cerca de mil criminosos. Em paralelo à atividade, ele estudou cinema e fez os dois curtas que inauguraram sua trilogia - “Fábrica” (2011), uma ficção sobre os familiares dos detentos, e “Pátio” (2013), premiado no Festival É Tudo Verdade, que retrata a rotina dos presos de maneira tanto inusitada quanto poética.

Em “A Gente”, Aly Muritiba deixa de lado a equipe para ser um agente com a câmera na mão, se valendo da sua total intimidade com o universo retratado. O resultado, na película, é uma experiência de imersão antropológica no universo da cadeia e na complexidade das figuras que exercem esse papel. “Já estava afastado do sistema quando resolvi fazer o filme, pedi reintegração e voltei a trabalhar para filmar ‘a gente’, e não ‘eles’”, justificou o direto à época do lançamento.

O inspetor Jeferson Walkiu, pastor evangélico fora da cadeia, se destaca entre os personagens. “Temos um sistema penal punitivista, que não ressocializa. E Walkiu, como religioso, atua na lógica da salvação e do perdão, enquanto, na esfera profissional, só tem espaço para punir”, contou o cineasta.

“O número de funcionários era tão restrito que às vezes eu tinha de deixar a câmera para algemar um preso”, lembrou o diretor, que agora integra o quadro de roteiristas da série “Carcereiros”, da Globo. 


(Diário do Pará)

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