Vinte e oito fotos em preto e branco, separadas por algumas temáticas, fazem parte da exposição “Nós por Nós - a rua vai contar suas histórias”, do fotógrafo Maycon Nunes, 36 anos, e que pode ser vista pelo público até a próxima sexta-feira, 13, no shopping Metrópole Ananindeua. A exposição fez parte do “Amazon Cypher”, programação de cultura urbana realizada no local no último domingo, mas fez tamanho sucesso que ganhou dias a mais de visitação.
“Eu fiz um apanhado de vários ensaios fotográficos que tenho, juntei um ensaio com pichadores, mais uns três sobre grafiteiros, outras do inverno amazônico, sobre a chuva de Belém, algumas imagens fiz de dentro dos ônibus, outras são de personagens que conheço, e há ainda as que eu fazia para o caderno de Polícia [do DIÁRIO] de testemunhas oculares de crimes”, explica Maycon, que é natural de Florianópolis e radicado em Belém há 15 anos.
No total são cinco ensaios que fazem parte da mostra um em complemento ao ouro, e próprio fotógrafo também se revela um poeta ao escrever os textos que criam essa unidade. “São todas fotos em preto e branco, deixei assim para não brigar com a cor do grafite e do sangue. Era melhor deixar de uma forma mais discreta e o preto e branco não deixa de ser charmoso”, justifica o artista.
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Na parte dedicada aos personagens, uma em especial faz parte da infância de muita gente, o registro do seu Lamparina, da Cabanagem, um vendedor de quebra- -queixo que fez parte da história de muitos dos seus compradores. A foto já tinha feito um grande sucesso mesmo antes da exposição, quando Maycon a postou em uma rede social.
“Deu uma repercussão grande, todo mundo falando bem dele. A fi lha dele comentou que o pai gostou da foto e que tinha falecido há 10 meses. Ela falou que vai na exposição”, conta, emocionado, o fotógrafo. Seu Lamparina carregava um tabuleiro grande na cabeça e cruzou o caminho de Maycon em uma noite chuvosa. “Ele estava todo arrumadinho. Depois do registro fui descobrir que a melhor parte da infância de muita gente era quando o seu Lamparina chegava na rua para vender o doce. Ele sustentou a família inteira só vendendo quebra-queixo”, diz.
Fotografando há 16 anos, essa é a primeira exposição individual de Maycon, que começou na área quando ganhou uma Zenit analógica de um tio. Depois, juntou dinheiro e comprou uma câmera de dois megapixels e foi estudar fotografia na Argentina. “É uma honra ter essa exposição. Sou apaixonado pelo que faço, desde moleque sonhava em ser fotógrafo. Ver o resultado do seu trabalho tocando as pessoas é algo que me emociona muito”, destaca.
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Maycon Nunes lembra que sempre trabalhou com equipamentos velhos, surrados ou emprestados, mas isso nunca foi motivo de desânimo ou de limitação para sua criatividade. Para ele, é quase um sonho viver do que ama e se sente privilegiado com isso. “Meus equipamentos, junto com a falta de tempo, nunca foram motivo para não fotografar. Por muito tempo eu andava dentro do ônibus com a máquina e fotografava. As pessoas gostam, falam do meu trabalho e acho muito simples, é o que eu vejo. Não tem muita técnica e equipamento, mas tem um olhar em que Deus me mostra a cena”, pontua o fotógrafo revelando que, quando acerta uma foto, se emociona e chora muito.
“Publiquei uma foto recente no desafio da Canon 204, que era ‘Fotografe o amor dos avós’, e a foto que publiquei está na exposição, uma avó negra, de cabelos brancos, segurando dois netinhos no colo e eles estão dormindo. É esse tipo de cena que vejo, que acaba tendo um pouco de ternura. Não é eu que enxergo, é Deus que me mostra”, frisa.
PRESTIGIE
Exposição “Nós por Nós - a rua vai contar suas histórias”, de Maycon Nunes
Quando: Até sexta-feira, de 10h às 22h
Onde: Shopping Metrópole Ananindeua (BR-316)
Quanto: Gratuito
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