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Braz, fim de um Spazzio

Os mais jovens não lembram, mas há uma música chamada "Almirante Braz", da banda paraense Tribo, que, em sua letra, diz: "Clube de Babacas que alimentam os seus sonhos consumindo toda a plantação de batatas e ananás, da Almirante Braz". Procurem. Represen

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Imagem ilustrativa da notícia Braz, fim de um Spazzio camera Enderson Oliveira

Os mais jovens não lembram, mas há uma música chamada "Almirante Braz", da banda paraense Tribo, que, em sua letra, diz: "Clube de Babacas que alimentam os seus sonhos consumindo toda a plantação de batatas e ananás, da Almirante Braz". Procurem. Representa Belém. Não mudou nada.

Um amigo me manda as fotos de um tradicional restaurante de Belém que fecha as portas, o Spazzio Verdi. No espaço, em um quadro de giz, está o aviso, "encerramos nossas atividades, mas os laços de carinho serão eternos".

Os laços de amizade...Belém parece sempre perder seus laços. A Braz de Aguiar, no final da década de 1980 e início da 1990 era o point (sic) da cidade. A Braz era a nossa galeria, shoppings não existiam.

Braz, fim de um Spazzio
📷 |Enderson Oliveira

Frequentar de manhã a Braz era sinônimo, para determinada elite,de sofisticação; à noite, era lugar da boêmia classe média da cidade. O Spazzio Verdi, fazia parte dessa experiência citadina. Ia-se para almoçar, mas, também, ia-se para tomar um chopp, protegidos pelas mangueiras e a contemplar o movimento dessa galeria, que se abria, elitizada, no centro da cidade.

Nas imediações da Braz, à noite, bares e restaurantes, como Degrau, Local, Manga Café, Cosanostra, Go Fish, faziam o fervilhar atrativo de uma noite da cidade que se queria moderna, contemporânea. Sim, de tudo acontecia na Braz de Aguiar; mesas na calçada, música ao vivo, locais aprazíveis e, principalmente, a ideia de que se estava em Belém e, ao mesmo tempo, fora dela.

A cidade já não era mais segura. A rua dava aos seus “habitués”, de um só gole, o simulacro de pertencimento, mas, fundamentalmente, do cosmopolitismo. A Braz era um "fade-in"e um"fade-out". Abria e fechava as cortinas de uma cidade que se modificava radicalmente.

As pessoas não paravam. Vagavam de lugar em lugar até, indecisivamente, estacionar (por contradição, essa é a palavra) em algum espaço, invariavelmente, aquele que ficava até mais tarde. Tentava-se muitas vezes "escapar" da Braz, mas, tal qual um psicótico, terminava- se, instintivamente, a noite, no mesmo lugar.

Outrora grande restaurante e mesmo "point", agora o Spazzio vende seus objetos em um bazar.
📷 Outrora grande restaurante e mesmo "point", agora o Spazzio vende seus objetos em um bazar. |Enderson Oliveira

Caro leitor, este texto não é um lamento, ele é um sintoma de épocas. Ele é a manifestação de um espírito de épocas. A Braz de Aguiar, hoje, e suas imediações, abriga outros lugares, outros espaços, outras formas de fruir a cidade. Ainda parece elitista, ainda nela existem outros lugares tais quais, no final da década de 1980 e início da 1990. Mas não há como ignorar que a Braz é um microcosmo de uma realidade de um decadismo, que a cidade assumiu nos seus últimos 30 anos.

Os shoppings centers ocuparam o lugar da rua. A rua perdeu sua função. Nela resistem poucos dos lugares originais. O espírito daquela época, parece um fantasma. Um fantasma, um sonho mau, um sonho de futuro. Daquele sonho/pesadelo apenas o Cosanostra, desfigurado, resiste.

A cidade se tornou um Spazzio, e a Braz de Aguiar é um sintoma, de um lugar, que ao mesmo tempo planta e destrói. Belém sem laços. De batatas e ananás. Almirante Braz.

  • Relivaldo Pinho é Professor e Escritor. Autor de, entre outros livros, "Antropologia e Filosofia: Experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia. Edufpa. 2015" . E-mail: [email protected]
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