Encenações da Via Sacra pelos bairros de Belém são suspensas por causa da Covid-19

Há 37 anos ininterruptos, a Paixão de Cristo em Canudos vinha sendo encenada pelas ruas do bairro atraindo milhares de espectadores. E foi para evitar esta aglomeração, em favor da saúde de seu público e também do elenco com mais de uma centena de crianças e jovens, que a organização foi uma da primeiras a anunciar que estava adiando sua realização este ano. A esta decisão seguiu-se algumas outras paróquias e grupos teatrais, como o Grupo Chama, de Barcarena, e o Grupo Renascer, da Paróquia dos Capuchinhos.

“A gente fez essa parada para que possa voltar”, disse Aloízio Freitas, diretor geral do espetáculo em Canudos, que já estava com figurinos e cenários prontos. Desde o dia 17 de março, o grupo já havia suspendido as atividades, incluindo ensaios e uma apresentação que estava prevista para o dia 21 daquele mês, na Passagem Nossa Senhora das Graças. O grupo anunciou este final de semana que as apresentações (incluindo a principal, em Canudos) irão ocorrer no segundo semestre, em data a definir.

“Lamentamos. A vontade de apresentar, como todos os anos, é muito grande. Só não é maior que a nossa responsabilidade com a saúde e bem-estar da população de nossa cidade. Esperamos que nos compreendam. É hora de parar mesmo, resguardar a nossa vida e a de toda nossa família. Os resultados do poder de contágio do vírus são catastróficos, portanto a melhor precaução é ‘#ficaremcasa’”, escreveram em nota ao público, nas redes sociais. O diretor geral adianta apenas que para este ano o tema será “Paixão de Belém - O Amor de Cristo nos Uniu - 37 anos de Fé e Arte nas Ruas”.

TERRA FIRME

Para manter ao menos parte de suas ações sociais, a diretoria do espetáculo em Canudos tem unido forças na divulgação de uma campanha solidária para compra de alimentos às família de baixa renda da Terra Firme, iniciada pelo cursinho comunitário TF Livre. “Mesmo na quarentena, o grupo não pára porque está apoiando a campanha de arrecadação”, comenta Humberto Jardel, integrante da diretoria.

E na própria Terra Firme quem também precisou suspender suas atividades foi o Projeto Teatro Ribalta. “Quando começou a pandemia, a gente até começou a ensaiar uma Paixão de Cristo bem pequena, de quatro pessoas, cada um se revezando em vários personagens. Mas como não pode ocorrer aglomerações, e as encenações reúnem até 500 pessoas, a gente deu uma parada. Assim que terminar a pandemia, seja quando for, a gente vai apresentar com essas quatro pessoas”, garante o coordenador Eli Chaves.

Para não deixar de dar sua contribuição a esta Sexta-feira Santa, o Ribalta pediu e foi atendido pelo cineasta Adriano Barroso para disponibilizar em suas redes sociais, na data, o documentário “Paradoxos, Paixões e Terra Firme”. A obra apresenta o processo de produção e encenação da Paixão de Cristo pelo grupo Ribalta, que a realiza há mais 40 anos, tendo no elenco crianças e jovens do próprio bairro.

Campanha da Solidariedade

Colabore com a campanha do TF Livre enviando qualquer valor, a partir de R$20

Banco: Caixa Econômica

Agência: 0022

Conta Poupança: 00042186-5

Operação: 013

CPF 954.361.032-00

Marissanta Lobato Oliveira

Comemoração de quinze anos terá que ser adiada em Capuchinhos

Para o Grupo de Teatro Renascer, o adiamento do espetáculo da Paixão de Cristo este ano acaba deixando para uma data incerta a comemoração dos seus 15 anos de espetáculo na Paróquia São Francisco de Assis (Capuchinhos). “Foi uma programação organizada desde o ano passado para comemorar da melhor forma possível esses 15 anos, e fomos todos pegos de surpresa. Mas claro que tínhamos que obedecer o que era necessário e adiar”, lamenta a diretora do grupo, Suelem Migueli. “Não sabemos como vamos fazer, se ainda vamos apresentar este ano ou já deixar para encenar apenas no próximo”, diz.

Com roteiro, tema, figurino e ensaios todos finalizados, ela confessa que não tem sido fácil para o grupo adiar a apresentação. “Nós estamos muito tristes. Hoje, muitos dos componentes fizeram lives e mandaram mensagens emocionados em perceber que essa semana começaria diferente para nós. São 15 anos que a gente não passa a Semana Santa em casa. Não posso negar que é difícil”, diz ela.

Quem também teve que segurar suas expectativas foi o Grupo Chama, de Barcarena, que não realizava a encenação desde 2014. “O grupo fez uma pausa nos últimos anos para redimensionar o trabalho. Estamos trabalhando na cidade cenográfica permanente e nós nos dedicamos a isso. Temos um terreno já destinado para a construção dessa cidade, onde será feita a Paixão de Cristo”, conta Arildo Poça, fundador do espetáculo.

O grupo decidiu que vai reprogramar todas as suas atividades para o ano que vem. “O elenco todo é voluntário. Só a parte técnica e de produção é custeada, como o som, o transporte e a alimentação. São 120 atores, 250 figurantes e 100 pessoas na técnica (segurança, alimentação e apoio). Somos uma referência na Paixão de Cristo, fazemos um espetáculo que envolve as pessoas e motivamos uma circulação de público que vem a Barcarena por causa do espetáculo”, destaca Arildo.