Ter vencido esse programa representa muita coisa. Dentro da militância, do ativismo, a gente luta por visibilidade porque trabalha com vozes e a gente quer ampliar essas vozes”. A fala é da fotógrafa paraense Nayara Jinknss, de 29 anos, que venceu Luísa Chequer, de Salvador, na quarta temporada do reality “Arte na Fotografia”, exibido pelo canal por assinatura Arte 1. Ela é a primeira representante do Norte do país a participar do programa. A grande final foi ao ar no último dia 17 e Nayara recebeu uma câmera Canon como premiação.
Levar suas discussões para um programa de TV foi algo marcante para a artista. “Acredito que é muito importante falar sobre algumas pautas que eu levantei no programa, que são coisas que precisam ser faladas todo o tempo e repensar o lugar da arte mesmo para que a gente possa refletir sobre ela, sobre quem conta, quem narra e por que narra dessa maneira, e ainda discutir realmente esse conceito de arte e que fotografia pode ser essa que se apropria disso”, afirma.
Fotografar debaixo d’água ou vendada foram experiências que Nayara levará para toda vida, diz ela. “Todas as provas eram difíceis, mas algumas foram muito gostosas de fazer, tipo a de fotografia às cegas. Foi quando a gente conheceu um fotógrafo paraolímpico, o João Maya. Ele é um fotógrafo negro e cego. A gente teve de fotografar por uma hora vendados. Fomos em dupla, eu com Diogo, então foi uma experiência sensorial muito representativa”, destaca.
Um dos desafios inesquecíveis de outra prova foi superar os limites pessoais. “Nesse dia estava muito frio e eu tive de fotografar sem óculos, estava ‘ceguinha’. Cada prova foi uma experiência única, porque eu nunca me imaginei fazendo algo parecido”, comemora.
DESAFIOS
Nayara conta que todas as provas foram desafiadoras porque os candidatos nunca sabiam previamente o tema nem o desafio lançado. Sem falar nas interrupções que fazem parte da dinâmica da gravação de um programa de TV. “Tu tens uma hora para executar a prova e, nisso, tens uma consultoria com os mentores. Então, nesse meio tempo eu levei 20 minutos fotografando ‘sabe-se lá o quê’ e, aí a produção fala: ‘Nayara, vai falar com o Eder [Chiodetto, um dos mentores]’. O meu tempo para, e eu falo com ele por cinco minutos, e depois tem que dar entrevista para saber se a mentoria me ajudou e ainda precisa falar o que estava achando da prova. Toda hora o processo criativo ia sendo bloqueado nisso”, lembra.
Só que mais do que vencer os desafios de ordem prática, Nayara acredita que vencer as barreiras de se levar um debate sólido sobre o papel da arte contemporânea enquanto veículo de defesa social foi uma marca que ela deixou, com orgulho. “Participar e vencer o programa significa ter vencido uma série de coisas, pulado muitos obstáculos. Foi uma experiencia muito doida, porque discutir artes em um programa de TV é compreender de uma maneira bem latente o sistema ‘embranquecido’, de forma exposta. Representa muito para mim tudo isso, discutir gênero, raça, sexualidade, principalmente se discutir arte. A gente precisa democratizar essas vozes”, acredita, dizendo que ela também sai modificada, bem diferente de como entrou.
“Eu já sai muito modificada dessa experiência. Querendo ou não, a gente está muito exposta na TV e ter que deixar a tua assinatura nesses trabalhos que estão sendo feitos ali é muito expressivo. Eu acho que a maior experiência foi trocar com outros fotógrafos, aprender, porque me senti aprendendo, entendendo tudo à minha volta. Um dia eu relaxei. me permiti estar no programa, produzindo coisas que eu nunca pensei. Agora, ao fotografar o Ver-o-Peso para uma pauta, eu já não vejo o Ver-o-Peso como o via antes. É como se meu olhar tivesse ficado um pouco mais amplo, para além do prêmio”, diz.
Porém mais do que técnica ou conceito o segredo para a vitória, conta Nayara, foi se divertir. “Como o tema dessa temporada era imaginação, uma das coisas que eu pensava era sempre tirar o espectador da foto, repensar essas ideias conceituais. E aí, foi um grande workshop, algo que eu não pensava a dimensão que teria A vitória foi uma consequência. Da terceira prova em diante, eu percebi que o mais importante dali era não competir com outros fotógrafos, mas fazer coisas que eu nunca me permiti fazer. Passei a experimentar as coisas, a me divertir”, analisa.
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