Para marcar e homenagear os 405 anos de Belém, os artistas paraenses Letícia Nunes e Lucas Negrão foram convidados a realizar uma grande intervenção artística, uma pintura que fala da diversidade cultural da cidade, indo do seu patrimônio material ao imaterial. A criação da obra levou cinco dias e ela permanece disponível para apreciação do público em um shopping no centro da cidade.

“Todo o processo foi muito harmônico, tanto na concepção quanto na execução. Logo de cara, nós entramos em consenso que não queríamos retratar Belém apenas pelo seu espaço físico, mas sim dando ênfase ao seu povo e à interação deste com o meio, que fazem de Belém o que ela é, criando uma narrativa de exaltação do patrimônio material e imaterial”, conta Letícia.

Lucas conta que conhecia o trabalho da colega e queria a oportunidade de assinar um projeto conjunto. “A técnica com o grafitti que ela desenvolveu é muito relevante, ela é uma grande artista. Temos uma visão muito semelhante quando discutimos arte, então a concepção da obra foi bem fluida, listamos pontos importantes que deveriam compor a narrativa e a partir disso, fomos criando o rascunho muito próximo do resultado”, explica.

ALMA DA CIDADE

Na hora da execução, as habilidades de cada artista foram complementares. “O Lucas tem uma ótima noção espacial, de proporção e linhas, além de um ótimo gerenciamento de tempo. Já eu fiquei mais com a parte de harmonização de cores, texturas e escolha do material. Mas cada um fez um pouco de tudo”, aponta Letícia.

“Acreditamos que uma cidade se faz, principalmente, de sua população, e na obra, conduzimos a narrativa por signos como a cobra grande, o carimbó, o açaí, as populações ribeirinhas. Belém é composta por 39 ilhas, isso é muito relevante. Trazemos, ainda, uma aparelhagem como símbolo mais contemporâneo da cultura local. Estou imensamente feliz em representar a cidade neste momento”, diz Lucas.

Mesmo antes deste projeto, a Amazônia, em geral, já era uma grande inspiração para o trabalho artístico de ambos. “Tanto o que conheço dentro dela quanto o que ainda quero conhecer. O presente que vivo e o futuro que imagino. Dito isso, Belém e seus elementos visuais permeiam muito a minha arte. Vivi a minha vida inteira na Cidade Velha, passando pelo Ver-o-Peso todos os dias. Eu brinco que já sei desenhá-lo de olhos fechados. Eu costumo retratar bastante o centro histórico, as embarcações amazônidas, o urubu e a garça. O Lucas também tem uma série linda de ilustrações de casas ribeirinhas, da baía, do Ver-o-Peso”, aponta Letícia, referindo-se a uma série de fotografias, pintura, colagem e estênceis dos azulejos da cidade e das casas raio-que-o-parta.

Sobre a tarefa de criar sobre a parede de um shopping, ela diz que foi uma surpresa para ambos. “Poder fazer um mural tão significativo pra gente em um espaço onde transitam tantas pessoas diariamente é bem legal. Acredito que a arte tem que ocupar o máximo de lugares possíveis para chegar ao máximo de pessoas. De uma forma ou outra, é importante valorizar os artistas locais, porque Belém está repleta de gente talentosa esperando uma oportunidade para mostrar seu trabalho”, considera Letícia.

Os artistas paraenses Letícia Nunes e Lucas Negrão pintaram juntos a obra Foto: Divulgação

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