Plantas, palhas e sementes de árvores ganham novo significado nas mãos do paraense Labô Young, 26 anos, natural de Icoaraci, distrito de Belém, que transforma os materiais em roupas e acessórios, trazendo no seu trabalho a potência da cultura amazônica e a importância do repasse dos saberes ancestrais em sua família, que se refletem nas técnicas que usa ao realizar suas obras.
"Eu nasci em Icoaraci e vivi praticamente toda a minha infância no meu quintal, onde foi construída a minha primeira casa e onde fui criado. É um lugar muito grande, cheio de árvores e que sempre foi um refúgio para mim. Desde então, as plantas fazem parte da minha vida e da minha história, assim como qualquer outra criança que cresceu na Amazônia tendo o quintal como esse espaço de liberdade, onde a gente vai adquirindo e aprendendo com a nossa família a ter esse instinto criativo de inventar, brincar e construir coisas a partir do que a gente tem disponível ali”, explica Labô.
Artistas pretxs que protagonizam a arte contemporânea no Pará
Seu trabalho mais recente ganhou destaque em um editorial de moda com a atriz Grazi Massafera, disponível nas redes sociais, e que mostra a exuberância de suas criações. “O trabalho com a Grazi foi muito inesperado. Estava em São Paulo participando do projeto ‘Vênus em Escorpião’ com a Gaby [Amarantos], quando recebi o convite de estar junto nesse editorial com ela. E foi um trabalho superleve e fluido. Ela foi muito gentil e supertopou todas as ideias que eu propunha. Muito grato também ao Juliano e Zuel, que me fizeram esse convite e confiaram no meu trabalho. Eles foram maravilhosos”, confidenciou Labô, referindo-se aos stylists Juliano Pessoa e Zuel Ferreira.
A parceria com Gaby que ele cita é porque vestiu a cantora no clipe de “Vênus em Escorpião”, que tem as participações de Ney Matogrosso e Urias, e foi premiado no “Music Video Festival”, na categoria melhor figurino. Labô conseguiu dar ao look uma identidade visual com as folhas usadas no seu trabalho, o que fez toda a diferença na concepção visual dos cantores.
“Esse foi meu segundo prêmio em um ano pelo meu trabalho e foi muito chocante entender como que tudo isso estava acontecendo. Eu não esperava, de verdade. Foi muito louco como tudo aconteceu, a princípio eu iria apenas vestir a Gaby para uma cena do vídeo, e depois descobri que os meus looks iriam entrar para outra cena onde teria que vestir Ney e Urias. Foi mágico e um presente também ter a oportunidade de vestir outros dois artistas que eu admiro e sempre admirei. Urias é uma nova promessa muito talentosa, e Ney é umas das minhas maiores referências e alguém que sempre fez parte da trilha sonora da minha vida, assim como a Gaby”, celebra o artista, que mais do que troféu ou reconhecimento, quer respeito e liberdade para criar e viver como quiser.
“Foi um prêmio que recebi com muito amor e gratidão por ter feito parte desse projeto, e espero que as pessoas consigam entender que tudo é feito e criado com muita coragem e amor. E que sim, uma bicha preta da baixada de Icoaraci pode conseguir um prêmio pelo seu trabalho”, diz Labô, com orgulho.
TRAJETÓRIA
Labô começou a trilhar seu caminho profissional em 2015, quando resolveu acreditar em seu potencial criativo. Não passou muito tempo e seu trabalho já era destaque na revista mensal “Du Monde”, do jornal francês “Le Monde”, que dedicou capa e muitas páginas ao Rio de Janeiro, em um editorial de moda com a seguinte chamada: “Les noveaux territoires de l’a accessoire” (“Os novos territórios do acessório”). A novidade entre os créditos da matéria era exatamente Labô Young, na época com 24 anos, que caiu nas graças do serra-leonês Ib Kamara, editor contribuinte da revista de vanguarda “ID” e um dos nomes mais quentes da cena mundial, que conheceu o trabalho do paraense através do fotógrafo Rafael Pavarotti e o convidou a dividir a coautoria do trabalho.
“Meu trabalho é muito pessoal. As referências que eu tenho são muito de memórias afetivas que estão praticamente em looping na minha cabeça e sinto como se fosse a busca de uma cura para todos os traumas ou feridas que já senti ou sinto ainda. Quando comecei a criar peças com folhas, construindo máscaras, roupas e a postar isso ou jogar pro mundo, foi em um momento muito difícil e que realmente foi uma volta à minha criança interna, e para lembrar do quão importante esses saberes são para mim. Então, criar é um movimento de cura, as plantas por si só já curam, já carregam esse poder”.
Nem estilista ou style: Labô se considera um artista por achar que não se encaixa apenas em um segmento. “Eu crio visuais, trabalho com imagem, mas também escrevo, crio peças, fotografo. Então, é meio difícil me definir apenas como um stylist ou estilista. Mas amo vestir e entender como posso encaixar coisas em corpos, é como se fosse um quebra-cabeça pra mim e eu amo fazer isso, amo vestir as pessoas”, acrescenta.
“Ultimamente tenho criado coisas para aliviar as tensões do cotidiano, estudado e tentado me manter mais calmo nesse momento em que todo mundo, eu acho, tem se encontrado tão ansioso e pressionado por conta da pandemia. Tenho tentado cuidar mais de mim e das pessoas que estão próximas, mas continuo acreditando que as podas possam melhorar futuramente”, conclui. Labô ainda está pensando nos próximos passos na carreira, mas já adianta que vêm por aí mais editoriais de moda com a participação e assinatura dele. De Icoaraci para o mundo.
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