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LITERATURA

Priscila Zoghbi dá dica de livros para amantes da literatura

Confira a coluna de Priscila Zoghbi desta quinta-feira (24) para o DIÁRIO DO PARÁ.

Imagem ilustrativa da notícia Priscila Zoghbi dá dica de livros para amantes da literatura camera Divulgação

Hoje a responsabilidade é dupla. Falar de dois livros tocantes escritos por autores talentosíssimos que, acredite ou não, se complementam. O primeiro livro é uma das três obras lançadas no Brasil pela editora Dublinense, do celebrado escritor português Afonso Cruz: “Vamos comprar um poeta”. Vale lembrar que essa obra em especial de Afonso Cruz é um dos best-sellers da Coleção Gira da Dublinense, voltada para trazer ao Brasil autores lusófonos.

“Vamos comprar um poeta” é um livro curto, no qual o autor abre as cortinas para um cenário cruamente utilitarista. Nele, os poetas são adotados, comprados e largados da mesma forma como animais de estimação. São vistos como objetos de luxo, decorativos e sem real valor além do sentimental. É claro que podemos abranger dentro dos chamados “poetas” toda a classe de artistas de uma forma geral.

O extremamente curioso desse livro, que flerta com uma utopia, é justamente a proximidade com a realidade em que vivemos hoje. No livro, todos os elementos da casa, desde utensílios domésticos, eletrodomésticos e roupas são patrocinados por grandes conglomerados de empresas - que, confessamos, não está tão longe da realidade de #publicidade que encontramos encharcando nossas mídias sociais.

No entanto, mesmo dentro do seio de uma família utilitarista, uma filha pede para o pai que adote um poeta. Nesse ponto, eu adorei a escolha do verbo “adotar”, justamente por pressupor que haja um abandono prévio. A cada parágrafo o sentimento de reconhecimento da nossa realidade aumenta na mesma proporção em que o nosso coração e consciência pesam.

Priscila Zoghbi dá dica de livros para amantes da literatura
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Mesmo utilizando-se de uma linguagem simples e sutil, o escritor Afonso Cruz deixa seu recado. Qual o papel que estamos dando à arte dentro da nossa sociedade? Um livro extremamente atual, principalmente no momento pandêmico em que vivemos. Hoje, ainda mais, precisamos da arte como forma de manter sanidade mesmo enclausurados. No fundo, não importa qual segmento da arte você se identifica mais: literatura, pintura, artesanato entre outros. Trancados em casa, urge ainda mais a necessidade humana de perceber os sentidos de formas diferentes.

Se eu pudesse, parafraseando o título do livro (muito bem escolhido por sinal), um dos poetas que estaria no topo da minha lista para “comprar” seria Diego Gregório, autor de “Coisas que você mesmo poderia ter dito”. Gregório é um daqueles artistas que você não precisa de mais de meio minuto para saber que sua potência provém da poesia. Como pode um livro tão curto, com apenas 24 escritos, te tocar tanto? São pouquíssimos, dando para contar nos dedos os autores que conseguem se infiltrar em uma esfera sentimental do leitor em tão pouco tempo

Para mim, por exemplo, o primeiro poema “Francisco”, que já se tornou um curta, diga-se de passagem, foi o suficiente para me deixar encantada com a leitura, apesar do livro ser recheado de outros poemas marcantes como “Dedicatória” e “Tempo”. Diego Gregório é formado em jornalismo, esse é seu livro de estreia e, bem, não tem como colocar em outras palavras: Diego Gregório já começou com o pé direito.

Outro ponto que impressiona em “Coisas que você mesmo poderia ter dito” é o poder de identificação do leitor com o texto, afinal o autor, apesar de ter uma veia inquestionável de romantismo, mescla com precisão os novos desafios que os relacionamentos atuais se encontram cara a cara: a liquidez, o receio em se abrir e se relacionar de forma intensa com outra pessoa.

Em tempos em que os aplicativos de namoro se tornam mais populares e neles encontram-se verdadeiros “cardápios” de pessoas, em que você pode dar um “match” ou não, se torna cada vez mais desafiador iniciar e manter relacionamentos que exigem mais do fator emocional.

Percebemos na obra de Diego Gregório uma forte influência das ideias propagadas pelo filósofo Zigmunt Bauman. Apesar de a liquidez entre os relacionamentos perpassar os poemas, detectamos os sofrimentos, as falhas e ausências causadas por essa forma breve e frágil de se relacionar. O livro é um grande presente, tanto para quem quer refletir sobre seu estilo de vida, incluindo a forma de se relacionar, como também para os que querem apenas contemplar poemas bem construídos.

De acordo com a filosofia de Afonso Cruz em “Vamos comprar um poeta”, sem dúvida escolheria de pronto o autor Diego Gregório. E, de tanto que amei e amo poesia, eu preferia ver os poetas em seu habitat natural: livres para escrever e desenhar o mundo com sua própria tinta. Afinal, de acordo com a dedicatória tão delicada que enviou, Diego Gregório ressalta: só a poesia é eterna.

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