Os ventiladores são eletrodomésticos fundamentais nas residências na Amazônia. Devido às altas temperaturas, em geral nós, amazônicos, fazemos o possível para mantê-los em bom funcionamento, garantindo assim mínimo conforto diante do forte calor. Para isto, muitas vezes, recorre-se a "gambiarras", isto é, pequenos e criativos ajustes que, se não resolvem de fato o problema, ao menos oferecem soluções paliativas.
Em 2021, atento a este contexto, o artista visual e pesquisador paraense Mauricio Igor criou o projeto “Ventos do Norte”, que foi selecionado na Lei Aldir Blanc. Meses depois, a repercussão e conceito da proposta foram tamanhos que resultaram na premiação no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, com uma proposta de desdobramento do projeto. Apenas Mauricio, de Belém, e Julia Dolce, de Santarém, são os representantes do Estado.
De acordo com Mauricio, “Ventos do Norte tem como objeto de pesquisa gambiarras feitas em ventiladores. Tal prática é comum na região amazônica, pois devido ao forte calor, o ventilador acaba sendo um item muito importante para o nosso dia a dia. Por isso, quando eles quebram, procuramos dar um jeito’ de consertá-los. Vejo as gambiarras como estratégias de sobrevivência, dos objetos e de nós mesmos, o que me leva a ver os objetos como metáforas para questões históricas e sociopolíticas que envolvem a Amazônia e a construção do Brasil”. A curadoria do projeto é assinada por Heldilene Reale.
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Como se nota, não se trata apenas de utilizar os ventiladores, mas também ouvir as histórias que envolvem os mesmos. “Algo que fiquei pensando quando iniciei a construção do projeto era sobre que histórias narrar. Acho muito importante termos narrativas que a gente se identifique. Por isso inicio o trabalho apresentando o meu próprio ventilador, que quebrou e eu o consertei com gambiarras. Desse modo, acho importante falar e apresentar sobre práticas cotidianas que envolvem a região amazônica”, sintetiza.
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Para a exposição, ainda são necessários 4 ventiladores. Isso mesmo: se você tem algum ventilador com inúmeros problemas e “remendado”, que ainda funcione, ele é bem-vindo e pode render um valor financeiro a você. De acordo com Mauricio, “serão comprados 4 ventiladores e suas respectivas histórias, em que vou me encontrar com o/a dono/a e gravar em áudio um breve relato sobre como surgiram as gambiarras no objeto”, explica.
O artista segue com as “compras abertas” para os ventiladores e histórias. Quem desejar vender os aparelhos ou apenas enviar seus relatos que também serão utilizados como parte das criações, pode entrar em contato através de seu perfil no instagram (@mauricioigor).
PRÊMIO MARC FERREZ
Promovido pela Fundação Nacional de Artes, o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia é um dos principais do país no segmento. A premiação homenageia Ferrez, que desenvolveu sua obra em especial no Rio de Janeiro, se tornando um dos grandes nomes da fotografia no Brasil no século XIX.
Sobre o reconhecimento com a premiação, Mauricio comenta que “fico muito feliz de na minha trajetória ainda recente ser contemplado por esta premiação e por participar com um trabalho que reflete sobre práticas cotidianas na Amazônia”. É o artista ainda que antecipa que “Serão realizados fotos e vídeos com os ventiladores adquiridos, para serem editados e incorporados ao site que será criado para o projeto”.
O ARTISTA
Mauricio Igor é Licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais na Universidade do Estado de Santa Catarina. Em 2019, foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero-Americanas para estudos na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal..
Seu trabalho é focado em reflexões sobre o corpo não hegemônico, atravessando questões de identidades inseridas em temas como miscigenação, sexualidade e o cotidiano amazônico. Tais processos se desdobram em fotografias, performances, vídeos, textos, intervenções e instalações. Por meio destes, participou de importantes exposições coletivas no Brasil e no exterior, além de ser premiações, nas quais se destacam o Prêmio Rede Virtual de Arte e Cultura, promovido pela Fundação Cultural do Estado do Pará; o Imagens Cotidianas, Incentivo às Artes Visuais e Fotografia, promovido pelo SESC Ver-o-Peso, o 15º Salão de Artes de Itajaí, promovido pela Fundação Cultural de Itajaí e foi finalista no 1° Prêmio de Fotografia - Adelina Instituto Cultural, em São Paulo.
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